1
O maior país da América Latina, com a maior população católica
do mundo, não nasceu de forma tranquila. Neste livro, com o
realismo dos documentos originais, vemos claramente a
brutalidade do extermínio dos índios na costa brasileira, berço de
5
sangue cujo marco determinante é a fundação da cidade do Rio
de Janeiro.
O Brasil real começou a ser construído por homens como o
degredado João Ramalho, que raspava os pelos do corpo para se
mesclar aos índios e construiu um exército de mestiços caçadores
10
de escravos mais poderoso que o da própria Coroa; personagens
improváveis como o jesuíta Manoel da Nóbrega, padre gago
incumbido de catequizar um povo de língua indecifrável, esteio
da erradicação dos “hereges” antropófagos; líderes implacáveis
como Aimberê, ex-escravo que tomou a frente da resistência e
15
Cunhambebe, cacique “imortal”, que dizia poder devorar carne
humana porque era “um jaguar”.
Incluindo protestantes franceses, que se aliaram aos índios para
escapar dos portugueses e da Inquisição, além de mamelucos, os
primeiros brasileiros verdadeiramente ligados à terra, que
20
falavam tupi tanto quanto o português e partiram do planalto de
Piratininga para caçar índios e estenderam a colônia sertão
adentro, surge um povo que desde a origem nada tem da
autoimagem do “brasileiro cordial”.
(Texto da orelha do livro A
conquista do Brasil, de Thales Guaracy, Planeta, Rio de Janeiro,
2015)