Vamos analisar o uso do termo "um" na linha 14 do texto para destilar a natureza desse vocábulo nesse contexto específico. A frase completa onde está inserido é: "O campo visual da nossa rotina é como um vazio." Em nossa língua portuguesa gostosa, as palavras podem ter diversas funções, e aqui, a pegada está em distinguir se "um" age como artigo ou numeral.

 

Primeiro, dá uma checada na função do numeral: ele expressa quantidade exata. Ainda no rolê dos números, um numeral não deixa margem para ambiguidade quanto à quantidade que representa. Por outro lado, os artigos, como "um", na maioria dos casos, definem ou indeterminam o substantivo sem expressar quantidade precisa.

 

Agora, olhando essa frase específica, "um vazio" não quantifica vazios de forma precisa, mas sim introduz o substantivo "vazio" de forma indeterminada, abrindo o palco para qualquer vazio, não um número específico de vazios. Isso o caracteriza como um artigo, e não como numeral.

 

Assim, não se fala de um vazio em termos numéricos (o que seria a função de um numeral), mas se introduz o conceito de vazio genericamente dentro do contexto da rotina do sujeito. Trata-se, portanto, de um artigo indeterminado, e não de um numeral.

 

A alternativa correta é E.

Na linha 14, o vocábulo “um” desempenha a função de numeral.


1      Acho que foi o Hemingway quem disse que olhava
   cada coisa à sua volta como se a visse pela última vez. Pela
   última ou pela primeira vez? Pela primeira vez foi outro
4  escritor quem disse. Essa ideia de olhar pela última vez tem
   algo de deprimente. Olhar de despedida, de quem não crê
   que a vida continua, não admira que o Hemingway tenha
7  acabado como acabou.
       Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver,
   disse o poeta. Um poeta é só isto: um certo modo de ver.
10 O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar. Vê
   não-vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você
   vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos
13 cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade.
   O campo visual da nossa rotina é como um vazio.
       Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta.
16 Se alguém lhe perguntar o que é que você vê no seu
   caminho, você não sabe. De tanto ver, você não vê. Sei de
   um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo hall
19 do prédio do seu escritório. Lá estava sempre,
   pontualíssimo, o mesmo porteiro. Dava-lhe bom-dia e às
   vezes lhe passava um recado ou uma correspondência.
22 Um dia o porteiro cometeu a descortesia de falecer.
       Como era ele? Sua cara? Sua voz? Como se vestia?
   Não fazia a mínima ideia. Em 32 anos, nunca o viu. Para ser
25 notado, o porteiro teve que morrer. Se um dia no seu lugar
   estivesse uma girafa, cumprindo o rito, pode ser também
   que ninguém desse por sua ausência. O hábito suja os olhos
28 e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente,
   coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos.
       Uma criança vê o que o adulto não vê. Tem olhos
31 atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é
   capaz de ver pela primeira vez o que, de fato, ninguém vê.
   Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu
34 a própria mulher, isso existe às pampas. Nossos olhos se
   gastam no dia a dia, opacos. É por aí que se instala no
   coração o monstro da indiferença.


Considerando os aspectos linguísticos e as ideias do texto, julgue o item


 a indicação do modo de realizar uma ação feita pelo advérbio.

 a representação de uma ideia abstrata feita pelo substantivo.

 uma qualidade própria às mãos atribuída pelo adjetivo.

 a nomeação de uma qualidade feita por um substantivo.

 a caracterização de um estado provisório feita por um adjetivo.

A questão tem o objetivo de avaliar os conhecimentos sobre as classes gramaticais segundo a Morfologia. A) Alternativa incorreta. Não se trata de um advérbio. Os advérbios são invariáveis, portanto não se flexionam em masculino ou feminino.B) Alternativa incorreta. Os substantivos são: Fabiano e mãos. O uso do termo "satisfeito" expressa uma característica.C) Alternativa incorreta. A justificativa está incorreta, pois não se trata de uma qualidade própria às mãos.D) Alternativa incorreta. O termo não é um substantivo.E) Alternativa incorreta. O termo "satisfeito" é um adjetivo que apresenta uma caracterização de um estado provisório, pois a satisfação pode cessar.

    A família estava reunida em torno do fogo, Fabiano sentado no pilão caído, sinhá Vitória de pernas cruzadas, as coxas servindo de travesseiros aos filhos.

    A cachorra Baleia, com o traseiro no chão e o resto do corpo levantado, olhava as brasas que se cobriam de cinza.
Estava um frio medonho, as goteiras pingavam lá fora, o vento sacudia os ramos das catingueiras, e o barulho do rio era como um trovão distante.

    Fabiano esfregou as mãos satisfeito e empurrou os tições com a ponta da alpercata. As brasas estalaram, a cinza caiu, um círculo de luz espalhou-se em redor da trempe de pedra, clareando vagamente os pés do vaqueiro, os joelhos da mulher e os meninos deitados. De quando em quando estes se mexiam, porque o lume era fraco e apenas aquecia pedaços deles. Outros pedaços esfriavam recebendo o ar que entrava pela rachadura das paredes e pelas gretas da janela. Por isso não podiam dormir. Quando iam pegando no sono, arrepiavam-se, tinham precisão de virar-se, chegavam-se à trempe e ouviam a conversa dos pais. Não era propriamente conversa: eram frases soltas, espaçadas, com repetições e incongruências. Às vezes uma interjeição gutural dava energia ao discurso ambíguo. Na verdade nenhum deles prestava atenção às palavras do outro: iam exibindo as imagens que lhes vinham ao espírito, e as imagens sucediam-se, deformavam-se, se não havia meio de dominá-las. Como os recursos de expressão eram minguados, tentavam remediar a deficiência falando alto. [...] 

 Espero que encontrem-no bem de saúde; caso contrário, me avisem.

 Lamento lhes dizer com toda franqueza, mas o fato é que ele nunca apresenta-se bem.

 Isto abalou-me de tal modo que entreguei-me à bebida.

 De imediato disse-me: – Se devolver-me a máquina, consertá-la-ei.

 Justificando, mostrei-lhe os itens que se debateriam na reunião do condomínio.

Entendi, vamos mergulhar nessa questão de pronomes oblíquos átonos, que pode ser um terreno bem escorregadio se não estivermos atentos às normas! A colocação pronominal é uma área do Português que pode apresentar variações dependendo da formalidade da situação e da região do falante. Mas, na norma culta escrita, as regras são mais rígidas.

 

A alternativa A ("Espero que encontrem-no bem de saúde; caso contrário, me avisem.") está correta em relação à colocação pronominal. O uso de "encontrem-no" exemplifica a ênclise, uso do pronome depois do verbo, correto por estar em frase afirmativa e não iniciar por palavra atrativa.

 

A alternativa B ("Lamento lhes dizer com toda franqueza, mas o fato é que ele nunca apresenta-se bem.") está errada porque há um erro de colocação pronominal em "apresenta-se". O correto seria "se apresenta", usando a próclise devido à palavra negativa "nunca" que atrai o pronome.

 

A alternativa C ("Isto abalou-me de tal modo que entreguei-me à bebida.") apresenta erro em "entreguei-me", onde o correto seria "me entreguei", utilizando próclise por estar em uma oração subordinada iniciada pelo conectivo "que".

 

Na alternativa D ("De imediato disse-me: – Se devolver-me a máquina, consertá-la-ei."), ocorre erro em "devolver-me". O correto seria "me devolver" (próclise) por estar em uma estrutura condicional (após "Se"). Além disso, "consertá-la-ei" também apresenta erro, pois o correto seria "a consertarei", com a próclise motivada pela terminação verbal futura do presente.

 

Finalmente, a alternativa E ("Justificando, mostrei-lhe os itens que se debateriam na reunião do condomínio.") está correta. O pronome "lhe" é usado corretamente na posição enclítica no verbo "mostrei", o que é aceitável seguindo a ênclise usada após formas verbais no passado e não precedidas por palavra atrativa. Em "que se debateriam", o "se" está corretamente colocado antes do verbo, indicando uma próclise causada pelo pronome relativo "que".

 

Alternativa correta é E.

E aí, galera! Vamos mergulhar um pouquinho nessa questão super ligada à morfossintaxe, que é só um jeito fancy de falar sobre como as palavras se comportam e se organizam em frases. 
 
A palavra "novas" no texto é usada antes de "mídias da cibercultura", certo? Essa colocação dá uma pista monstra de que estamos lidando com um adjetivo. Os adjetivos são os camaradas que descrevem ou modificam substantivos, dando aquela temperada na frase para não ficar tão sem graça. Nesse caso, "novas" está especificando um pouco mais sobre as "mídias", indicando que não são qualquer mídias, são as novinhas em folha, a última moda da cibercultura! 
 
Agora chega a hora da eliminação de alternativas, tipo aqueles programas de reality show sabe? Olha só: 
 
- **B) substantivo**: não faz sentido, porque "novas" não tá sendo usada como o nome de algo. 
- **C) advérbio**: também não, porque os advérbios modificam verbos, adjetivos ou outros advérbios, não substantivos. 
- **D) conjunção**: negativo, conjunções são as palavras de ligação, tipo "e", "ou", que conectam partes da frase. 
- **E) verbo**: passa longe, porque "novas" não mostra ação alguma, e além das formas verbais terem um aspecto bem diferente. 
 
Então, vendo por esses ângulos, o lance é que "novas" é um adjetivo que tem a função de caracterizar as mídias da cibercultura, apontando um aspecto de novidade nelas. Portanto, a alternativa correta é A.

Vivemos um período cultural de hipercomplexidade midiática. Para compreender esse período, é importante situar o atual sistema cultural em seu processo histórico, principalmente porque os sistemas culturais interagem entre si, um novo sistema cultural não desloca o que veio antes, mas agrega uma nova camada.

 Apesar da interação entre sistemas culturais, cada período fica sob o domínio da técnica ou da tecnologia de comunicação mais recente. No atual período de hipercomplexidade midiática, seis tipos de lógicas culturais, historicamente sequenciais e distintas, mesclam-se e interconectam-se de modo indissolúvel.
Essas seis lógicas são: a cultura oral, a cultura escrita, a cultura impressa, a cultura de massas, a cultura das mídias e a cibercultura.

 O critério definidor dos seis ciclos culturais é a gradativa introdução de novos meios de produção, armazenamento, transmissão e recepção de signos no seio da vida social. O específico das novas mídias da cibercultura é a possibilidade de agregar todas as outras em si. É a atual convergência das mídias no mundo ciber, na coexistência com a cultura das mídias e com a cultura das massas, juntamente com as culturas precedentes, a oral, a escrita e a impressa, todas ainda vivas e ativas, que tem sido responsável pelo nível de exacerbação que a densa rede de produção e circulação de bens simbólicos atingiu nos nossos dias. Essa é uma das marcas registradas da cultura digital.

A questão compreende assuntos relativos à correta identificação da significação vocabular. Com base nisso, passemos às alternativas:Em "a": Errado - "Evitar o acúmulo de água" seria o objetivo; por isso, o vocábulo "para", como de praxe, introduz uma circunstância de finalidade. Em "b": Certo - Como vimos, "evitar acúmulo de água" é o objetivo; por isso, "para" indica uma finalidade. Em "c": Errado - Como vimos, trata-se de chegar a um objetivo, e não de chegar a conclusões. Em "d": Errado - Ideias não estão sendo contraditórias nesse caso; por isso, não estamos diante de uma relação de concessão. Em "e": Errado - Trata-se de chegar a um objetivo, e não de explicar ideias. Resposta: Letra B.

Questões de Português - Classes de palavras - 2022