 a adoção de uma perspectiva pluriversal exige a substituição do cânone filosófico ocidental por um novo cânone afrocêntrico.

 a atitude etnocêntrica em filosofia se expressa na crítica aos procedimentos universalizantes da tradição de pensamento europeu.

 a ideia de “razão metonímica” aponta para o reconhecimento de um particularismo dissimulado na razão universal iluminista.

 a abordagem pluriversal requer que sejam ignoradas as particularidades referentes a raça, gênero ou local de origem dos autores.

 a criação de um ensino de Filosofia que não seja etnocêntrico requer o abandono de autores homens e brancos.

A alternativa correta é a Letra C. O enunciado traz uma reflexão crítica sobre a natureza da "razão universal" proposta pelo Iluminismo, argumentando que esta razão é, em essência, etnocêntrica e parcial, configurando-se mais como uma "razão metonímica", que representa uma parte específica da humanidade (brancos e masculinos) como se fosse o todo. A perspectiva pluriversal mencionada busca expandir essa visão limitada, promovendo uma inclusão mais ampla de diferentes vozes e pontos de vista.
 
Na alternativa C, é corretamente apontado que a ideia de "razão metonímica" reflete um particularismo que dissimula suas verdadeiras limitações sob a pretensão de universalidade. No contexto filosófico, isso significa reconhecer que o que foi historicamente apresentado como neutro e universal foi, de fato, influenciado por contextos sociais e culturais específicos, predominantemente europeus e masculinos.
 
Analisando as demais alternativas:
A) É incorreta porque a adoção de uma perspectiva pluriversal não implica necessariamente a substituição de um cânone por outro, mas a ampliação do cânone existente para incluir diversas perspectivas culturais e filosóficas.
 
B) É incorreta. Embora o questionamento das pretensões universalizantes da tradição europeia possa ser parte de uma crítica ao etnocentrismo, esta alternativa não captura a essência do racismo epistêmico e da razão metonímica discutidos no enunciado.
 
D) É incorreta porque a abordagem pluriversal exige precisamente o reconhecimento e a valorização das diferentes particularidades culturais, raciais e de gênero, não a sua negligência.
 
E) É também incorreta. A busca por uma filosofia não etnocêntrica não requer o abandono de qualquer conjunto específico de autores, mas sim uma ampliação para incluir vozes diversas. O abandono completo de autores brancos e homens não representa uma solução pluriversal; pelo contrário, isso poderia resultar em uma nova forma de exclusão.
 
Assim, a abordagem correta é ampliar o diálogo filosófico para incluir múltiplas perspectivas, sem necessariamente excluir as vozes que historicamente dominaram o discurso. Essa é a essência da pluriversalidade - um enriquecimento do universo filosófico com a inclusão e coexistência de múltiplos pontos de vista.
 
Gabarito: Letra C

“Apesar do etnocentrismo não servir como critério para o abandono das contribuições filosóficas de Kant, Hegel, Voltaire e de outros tantos filósofos, não é adequado desconsiderar o racismo epistêmico como um viés decisivo para entender esses trabalhos e seus desdobramentos. A suposta razão universal do Iluminismo é uma ‘razão metonímica’ (que toma a parte pelo todo), porque é, na verdade, branca e masculina. Trata-se, em vez disso, de defender o conceito de pluriversal, que não se opõe ao de universal; distante da lógica dicotômica — ‘ou isso ou aquilo’ —, a pluriversalidade nos convida a pensar usando a tática da inclusão — ‘isso e aquilo’.”

 A universalidade e a necessidade são apenas efeitos psicológicos da repetição dos fenômenos.

 Os sentidos oferecem materiais necessários para que as formas inatas da cognição realizem suas sínteses.

 O conhecimento encontra nos dados da experiência critérios suficientes para sua validade científica.

 O princípio de razão suficiente permite conciliar ideias inatas e empíricas em um único sistema.

 As estruturas inatas da cognição permitem o conhecimento empírico das coisas em si mesmas.

A filosofia de Immanuel Kant marcou uma revolução significativa no campo epistemológico, propondo a superação da dicotomia clássica entre racionalismo e empirismo. Kant desenvolveu uma teoria do conhecimento em que tanto as contribuições intelectuais quanto as experiências sensoriais são essenciais para o conhecimento humano, esta abordagem é conhecida como idealismo transcendental.
 
A alternativa B é a correta, conforme indicado. Ela afirma que "os sentidos oferecem materiais necessários para que as formas inatas da cognição realizem suas sínteses." Esta proposição encapsula perfeitamente a síntese kantiana entre racionalismo e empirismo. Kant introduziu a noção de que, embora nossos dados sensoriais sejam derivados da experiência (a tese empirista), a estrutura necessária para organizar esses dados em pensamento coeso é fornecida pela mente através de categorias a priori (a tese racionalista).
 
Kant postulou que o conhecimento não deriva exclusivamente das impressões sensoriais (empirismo), nem emerge apenas das operações puras da razão (racionalismo). Em vez disso, o conhecimento começa com a experiência, mas não deriva dela, como afirmado em sua famosa obra "Crítica da Razão Pura". As categorias a priori da mente, como causalidade e substância, são necessárias para a organização dos dados sensoriais em uma experiência coerente e cognoscível.
 
Analizando as demais alternativas para explicar por que são incorretas:
 
a) A universalidade e a necessidade são apenas efeitos psicológicos da repetição dos fenômenos. 
Esta afirmação é incorreta porque subestima a importância do a priori em Kant, que defende que a universalidade e a necessidade são características dos juízos sintéticos a priori, que moldam nossa experiência independentemente das condições empíricas.
 
c) O conhecimento encontra nos dados da experiência critérios suficientes para sua validade científica. 
Esta afirmação é errada pois Kant argumenta que, embora os dados da experiência sejam cruciais, eles por si só não bastam para constituir o conhecimento científico. As formas a priori da sensibilidade (espaço e tempo) e as categorias do entendimento são também necessárias para a constituição do conhecimento.
 
d) O princípio de razão suficiente permite conciliar ideias inatas e empíricas em um único sistema. 
Esta proposição não reflete precisamente o pensamento kantiano, pois o princípio da razão suficiente, embora importante, não é o mecanismo que Kant usa para explicar a síntese das percepções sensoriais com as categorias racionais.
 
e) As estruturas inatas da cognição permitem o conhecimento empírico das coisas em si mesmas. 
Esta afirmação é incorreta. Kant claramente distingue entre fenômenos (o mundo como o experienciamos através das formas a priori da sensibilidade e do entendimento) e númenos (as coisas-em-si), que ele argumenta serem inacessíveis ao conhecimento humano.
 
Portanto, a análise correta e o entendimento profundo da filosofia kantiana são cruciais para responder adequadamente a questões relacionadas ao seu pensamento, especialmente no contexto de provas e concursos.
Gabarito: Letra B

Para Immanuel Kant, a possibilidade do conhecimento humano e sua natureza não apenas emergem da experiência sensorial, mas também da capacidade da razão pura de estruturar e interpretar essas experiências. Em sua seminal obra "Crítica da Razão Pura", Kant propõe uma distinção crucial entre dois tipos de juízos (ou proposições): os juízos analíticos e os juízos sintéticos, e também diferencia entre conhecimentos adquiridos a priori (antes da experiência) e a posteriori (depois da experiência).

 
Juízos analíticos são aqueles em que o predicado está contido no sujeito; ou seja, são verdadeiros por definição e não expandem nosso conhecimento sobre o mundo, pois a verdade do predicado é autoevidente a partir do sujeito. Por exemplo, a afirmação "Todos os corpos são extensos" é analítica porque a ideia de extensão está contida no conceito de corpo.

 
Juízos sintéticos, por outro lado, são aqueles em que o predicado adiciona algo ao conceito do sujeito que não estava implicado anteriormente. Estes são importantes porque expandem nosso conhecimento. "Todos os corpos têm massa" é um juízo sintético porque a massa não é um atributo inerente no conceito puro de corpo.

 
Dentro dessa estrutura, Kant faz outra distinção crucial: entre juízos a priori e a posteriori. Os primeiros são independentes da experiência (por exemplo, "7 + 5 = 12"), enquanto os segundos são dependentes da experiência (por exemplo, "O fogo queima").

 
A alternativa correta, letra C, que menciona os juízos sintéticos a priori, destaca uma categoria especial de juízos que, segundo Kant, é fundamental para o avanço do conhecimento, especialmente em campos como matemática, física e metafísica. Esses juízos são sintéticos porque adicionam ao conceito do sujeito algo não contido explicitamente nele, e são a priori porque sua validade não depende da experiência sensorial.

 
O exemplo clássico de juízo sintético a priori é a matemática, onde podemos determinar propriedades de objetos matemáticos sem a necessidade de observação empírica. Kant via na metafísica a aplicação deste tipo de raciocínio para resolver problemas baseados na pura razão.

 
Análise das alternativas erradas:
<ul>
<li>A) analíticos: Embora os juízos analíticos sejam importantes para a clareza conceptual, eles não expandem nosso conhecimento sobre o mundo, como requerido na metafísica.</li>
<li>B) sintéticos a posteriori: Esses juízos dependem da experiência e, portanto, não abrangem o conhecimento necessários à metafísica que Kant propõe ser possível a priori.</li>
<li>D) analíticos a posteriori: Esta opção é conceitualmente confusa, pois os juízos analíticos são, por definição, a priori.</li>
<li>E) puros: Enquanto "puros" pode indicar um juízo a priori, não especifica a natureza sintética dos juízos necessários para o conhecimento metafísico conforme descrito por Kant.</li>
</ul>

 
A compreensão da filosofia kantiana oferece não apenas uma base para a teoria do conhecimento e metafísica, mas também explicita como a razão humana interage com o mundo em um quadro que tenta superar limitações empíricas e lógicas. Os juízos sintéticos a priori são essenciais nesse quadro pois proporcionam um meio pelo qual podemos conceber uma ciência de coisas em si, sem depender unicamente das coisas como aparecem para nós por meio dos sentidos.

Gabarito: Letra C

 tomar os novos recursos técnicos como meios seguros de acesso ao conhecimento das coisas em si mesmas.

 investigar as condições incontornáveis por meio das quais os sujeitos produzem seu conhecimento.

 adotar uma postura pessimista em relação a razão diante da impossibilidade do conhecimento objetivo.

 liberar a atividade especulativa dos antigos limites cognoscitivos do sujeito transcendental.

Immanuel Kant é notoriamente conhecido por sua abordagem revolucionária à filosofia, particularmente com sua "Crítica da Razão Pura", onde tenta responder como é possível o conhecimento. No enunciado, a questão gira em torno de como Kant vê a relação entre os avanços científicos e suas implicações na atividade filosófica. Ao se referir à moderna atividade científica, Kant sugere que ela revela as limitações da razão humana e, por isso, a filosofia deve reavaliar o propósito e a aplicação do uso da razão.
 
Analisando cada alternativa à luz do pensamento kantiano, temos:
 
<ul>
<li>A) tomar os novos recursos técnicos como meios seguros de acesso ao conhecimento das coisas em si mesmas. 
Essa alternativa é incorreta pois Kant explicitamente argumenta que os fenômenos (o que podemos experimentar através dos sentidos) são distintos das coisas em si mesmas, que não podem ser plenamente conhecidas. Os avanços técnicos, por mais que ampliem nosso entendimento fenomenal, não nos proporcionam um acesso direto às coisas em si.</li>
 
<li>B) investigar as condições incontornáveis por meio das quais os sujeitos produzem seu conhecimento. 
Esta é a alternativa correta. Kant acreditava que a filosofia deveria se focar em entender as condições sob as quais o conhecimento é possível. Para Kant, essas condições são estruturas a priori da mente, como a causalidade e o espaço-tempo, que moldam nossa experiência do mundo. A filosofia deveria se voltar para a investigação destas condições, e não meramente acumular mais dados empíricos.</li>
 
<li>C) adotar uma postura pessimista em relação a razão diante da impossibilidade do conhecimento objetivo. 
Incorreta. Kant não promove um pessimismo em relação à razão; pelo contrário, ele estabelece limites claros para o uso da razão pura e mostra como dentro desses limites, o conhecimento objetivo é possível. A ideia central de Kant não é descartar a razão, mas compreender seus limites e potenciais.</li>
 
<li>D) liberar a atividade especulativa dos antigos limites cognoscitivos do sujeito transcendental. 
Também incorreta. Kant não propõe liberar a atividade especulativa das limitações da mente humana, mas sim compreender profundamente essas limitações. Ele busca definir com precisão até onde a razão pura pode nos levar, demarcando o uso legítimo da razão para evitar mal-entendidos e erros metafísicos.</li>
</ul>
 
Portanto, de acordo com Kant, a revelação da ignorância humana pelos avanços científicos não é uma causa para desespero, mas um chamado para um entendimento mais profundo das capacidades e limites da nossa razão. Ele propõe uma filosofia crítica que questiona as bases do conhecimento e entende a estrutura da própria razão – uma revolução que, metaforicamente, repete na filosofia o que Copérnico conseguiu na astronomia ao não colocar a Terra no centro do universo.
 
Gabarito: Letra B

As observações e os cálculos dos astrônomos ensinaram-nos muitas coisas admiráveis, mas o mais importante é, certamente, terem-nos descoberto o abismo da ignorância, que a razão humana, sem estes conhecimentos, nunca poderia imaginar tão profundo; a reflexão sobre esta ignorância deve produzir uma grande mudança na determinação das intenções finais do uso da nossa razão.

Questões de Filosofia - Immanuel Kant - 2023