 tem por base uma lógica ideal à qual podem ser reduzidas todas as suas aplicações.

 consiste em uma variedade de contextos específicos que concedem sentido aos enunciados.

 é tanto mais perfeita quanto mais precisamente é capaz de traduzir os pensamentos.

 é fundamentalmente uma forma de lazer que se contrapõe à gravidade da atividade filosófica.

 é lugar privilegiado para a clara manifestação da essência do ser para o homem.

A alternativa correta é a letra B, que afirma que a linguagem "consiste em uma variedade de contextos específicos que concedem sentido aos enunciados". Esta compreensão baseia-se numa interpretação madura do pensamento de Ludwig Wittgenstein, especificamente de sua fase posterior caracterizada em obras como as "Investigações Filosóficas". Nesta fase, Wittgenstein se distancia do seu antigo ideal de que a linguagem poderia ser compreendida completamente através das estruturas lógicas, como propôs em seu primeiro livro, o "Tractatus Logico-Philosophicus".
 
Em suas "Investigações Filosóficas," Wittgenstein argumenta que a linguagem é uma entidade de práticas variadas, integradas ao contexto da vida diária, o que ele chama de "jogos de linguagem". Segundo ele, o significado de uma palavra ou frase emerge do seu uso em contextos específicos, e não de uma correspondência direta ou lógica com o mundo ou com pensamentos abstratos. Esta visão rompe com qualquer tentativa de reduzir a linguagem a uma única lógica, insistindo que o "sentido" é formado e reformulado continuamente na prática cotidiana.
 
Examinando as outras opções:
<ul>
 <li>
 A) "tem por base uma lógica ideal à qual podem ser reduzidas todas as suas aplicações" - Esta alternativa reflete mais o pensamento inicial de Wittgenstein no "Tractatus", onde ele tentava estabelecer uma correspondência estrita entre proposições e fatos do mundo. No entanto, ele mais tarde criticou essa visão como simplista e insuficiente para captar a complexidade e a variedade dos usos da linguagem.
 </li>
 <li>
 C) "é tanto mais perfeita quanto mais precisamente é capaz de traduzir os pensamentos" - Wittgenstein critica fortemente essa ideia de que existe uma correlação direta e perfeita entre pensamento e expressão linguística. Ele argumenta que os pensamentos são inerentemente vinculados e formados pela própria linguagem que usamos, e não pré-existentes ou independentes dela.
 </li>
 <li>
 D) "é fundamentalmente uma forma de lazer que se contrapõe à gravidade da atividade filosófica" - Esta afirmação seria enganosa e não reflete as visões de Wittgenstein, que via a investigação da linguagem como central para os problemas filosóficos, e não como uma trivialidade.
 </li>
 <li>
 E) "é lugar privilegiado para a clara manifestação da essência do ser para o homem" - Esta afirmação parece mais alinhada com o pensamento Heideggeriano do que com Wittgenstein. Para Wittgenstein, a linguagem não revela "essências"; é uma ferramenta prática cujo significado é baseado em seu uso.
 </li>
</ul>
 
Assim, a compreensão de Wittgenstein sobre a linguagem como atrelada a contextos específicos, refletida na alternativa B, é fundamental para apreciar seu impacto na filosofia contemporânea, especialmente em suas ideias sobre como o significado é construído e compreendido em diversas situações de vida, revelando sua natureza essencialmente prática e situada.
 
Gabarito: Letra B

“O livro trata dos problemas filosóficos e mostra – creio eu – que a formulação desses problemas repousa sobre o mau entendimento da lógica de nossa linguagem. Poder-se-ia talvez apanhar todo o sentido do livro com estas palavras: o que se pode em geral dizer, pode-se dizer claramente; e sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar.”

“A filosofia não deve, de modo algum, tocar no uso efetivo da linguagem; em último caso, pode apenas descrevê-lo. Pois também não pode fundamentá-lo. A filosofia deixa tudo como está.”

A relação entre linguagem e pensamento é central na obra de Ludwig Wittgenstein, sobretudo em seu desenvolvimento filosófico que transita da fase inicial, exemplificada em sua obra "Tractatus Logico-Philosophicus", até o período de suas investigações posteriores, principalmente em "Investigações Filosóficas". Este enunciado reflete uma visão evolutiva de Wittgenstein sobre o papel da linguagem. 

Analisando as alternativas: 

A) representação do mundo. 
Esta alternativa pode ser sedutora porque, inicialmente, no Tractatus, Wittgenstein realmente considera a linguagem como uma representação do mundo. Contudo, ele evolui essa perspectiva, especialmente em "Investigações Filosóficas", onde a linguagem passa a ser vista como parte integrante das atividades humanas e suas respectivas formas de vida, não apenas como representação. Logo, esta alternativa é incorreta para refletir a visão mais madura de Wittgenstein. 

B) forma de vida. 
Esta é a alternativa correta. Wittgenstein, nas "Investigações Filosóficas", introduz o conceito de "jogos de linguagem", que são variedades de linguagem integradas às práticas sociais específicas. Para ele, entender o significado das palavras implica compreender como estas são usadas em diferentes formas de vida, ou seja, em contextos sociais e culturais distintos. Portanto, a linguagem está intrinsecamente associada à forma de vida. 

C) nomeação de objetos. 
Esta alternativa remete novamente ao pensamento inicial de Wittgenstein, onde ele vislumbrava a linguagem principalmente sob a ótica da correspondência entre palavras e objetos. Embora esta noção ainda seja relevante, ela é muito restrita para encapsular a compreensão de linguagem em sua fase posterior, que é muito mais abrangente e focada nas práticas sociais. Assim, esta alternativa é incorreta. 

D) enunciação do desejo. 
Embora a expressão de desejos, comandos e sentimentos seja parte do uso da linguagem em contextos sociais específicos, esta alternativa limita excessivamente o conceito abrangente de "formas de vida". Wittgenstein não reduz a linguagem à enunciação de desejos, mas a enxerga como um fenômeno multifacetado, que permeia todos os aspectos das interações humanas. Esta alternativa, portanto, é incorreta. 

Ao avaliar a evolução do pensamento de Wittgenstein, torna-se evidente que sua perspectiva sobre a linguagem transcendia a mera representação ou nomeação, abarcando uma visão muito mais integrada com as práticas e contextos sociais — o que ele define como formas de vida. Esse insight permite abordar a linguagem não apenas como um sistema de signos, mas como uma atividade viva, imbuída de significados que variam conforme o contexto. 

Gabarito: Letra B

    Pode-se representar facilmente uma linguagem que consiste apenas de comandos e informações durante uma batalha. – Ou uma linguagem que consiste apenas de perguntas e de uma expressão de afirmação e de negação. E muitas outras.


Questões de Filosofia - Linguagem e Pensamento - 2023