 belo na obra de arte e seus efeitos sobre a alma humana.

 ação humana e suas hierarquias de valor.

 religião grega, suas crenças e práticas.

 organização da sociedade e as melhores formas de governo.

A obra Metafísica de Aristóteles marca um divisor de águas na história do pensamento ocidental, especialmente em sua busca de um saber que ele dotou de uma importância primordial, nomeando-o de “filosofia primeira”. O objeto deste saber é, conforme afirmado na alternativa correta, o “ser enquanto ser e suas propriedades”. Para entender essa afirmação, é essencial analisar o que Aristóteles quis dizer com "ser" e como ele estabelece a relação entre ser, essência e existência. 

Aristóteles, ao contrário de Platão, que se focava nas ideias como a verdadeira realidade, defende que o “ser” pode ser entendido através da observação do mundo ao nosso redor. Para ele, a metafísica investiga o que é o ser em sua totalidade, indo além das aparências e ações das coisas. O conceito de ser abrange as propriedades e as categorias que definem as coisas como elas realmente são, não como parecem ser. Assim, ao se dedicar ao estudo do ser, Aristóteles estabelece a fundação de uma ontologia, uma vez que ontologia é o estudo do ser em sua essência. 

Na obra, Aristóteles observa que o ser pode ser dividido em diferentes categorias, como substância, quantidade, qualidade, relação, lugar, tempo, posição, estado, ação e paixão, formando assim uma pluralidade de modos de ser. A substância, em particular, é considerada a categoria mais fundamental, pois é o que dá suporte às outras qualidades que podemos atribuir às coisas no mundo. Portanto, quando Aristóteles fala de “filosofia primeira”, ele se refere a essa investigação fundamental que se propõe a determinar o que caracteriza o ser de uma forma mais universal e abrangente. 

Agora, vamos analisar cada uma das alternativas apresentadas para entender por que apenas a alternativa B se encaixa perfeitamente nesta definição de filosofia primeira proposta por Aristóteles: 

<ul>
 <li>A) O belo na obra de arte e seus efeitos sobre a alma humana. Esta alternativa aborda o campo da estética, que é mais uma subcategoria do conhecimento humano focando nas experiências sensoriais e emocionais relacionadas à beleza. Embora a estética possa ser uma área de filosofia, não é o objeto primordial da metafísica aristotélica, que, como discutido, lida com o ser enquanto ser.</li>
 
 <li>B) Ser enquanto ser e suas propriedades. Esta é a alternativa correta. Como já abordado, o foco de Aristóteles na metafísica é o estudo do ser em sua totalidade, abrangendo suas propriedades e categorias. É aqui que ele estabelece as bases para a compreensão do que significa "existir" e "ser".</li>
 
 <li>C) Ação humana e suas hierarquias de valor. Esta alternativa refere-se mais a um aspecto de ética e política, que são áreas importantes no pensamento aristotélico, mas não se relacionam diretamente com a metafísica que ele define. A ética trata sobre o que é um bom viver e a melhor forma de agir, questões que partem de um princípio diferente do estudo metafísico.</li>
 
 <li>D) Religião grega, suas crenças e práticas. Embora Aristóteles tenha sido influenciado pela cultura grega e tenha discutido religião em seus escritos, esta alternativa não se relaciona diretamente com o escopo da metafísica, sendo mais uma análise sociocultural do fenômeno religioso.</li>
 
 <li>E) Organização da sociedade e as melhores formas de governo. Este ponto está mais próximo da filosofia política de Aristóteles, que discute as formas de governo e cidadania, mas novamente não se conecta com o objeto da metafísica, que é a busca pelo ser em sua essência.</li>
</ul>

Portanto, somente a alternativa B capta a essência do que Aristóteles considera ser o estudo fundamental e universal a ser empreendido na metafísica. Esta propriedade do “ser” indica que, antes de essas categorias mais específicas serem possíveis, devemos primeiro compreender o que significa o "ser" em seu sentido mais abrangente e fundamental. Ao fazê-lo, Aristóteles estabelece as bases para uma série de debates filosóficos que ainda reverberam até os dias atuais, sendo este um aspecto crucial da história da filosofia. 

Gabarito: Letra B

 a mente humana é incapaz de conhecer os princípios últimos da realidade.

 a visão a respeito dos saberes é eurocêntrica e colonialista.

 o comportamento do mundo sublunar e o do mundo supralunar são distintos.

 o discurso mítico e o discurso teórico apresentam equivalência.

 os saberes teóricos ou contemplativos têm primazia sobre os saberes práticos ou utilitários.

A questão proposta envolve uma citação famosa de Aristóteles que enfatiza a importância da Metafísica em relação a outras ciências. Aristóteles, ao se referir à Metafísica como a “Filosofia Primeira”, está sinalizando que, embora outras ciências possam ter aplicação mais prática e imediata, nenhuma delas alcança o mesmo nível de profundidade na investigação dos princípios fundamentais da realidade. 

A afirmação de que "os saberes teóricos ou contemplativos têm primazia sobre os saberes práticos ou utilitários" é crucial para entender o projeto filosófico de Aristóteles, que distingue entre diferentes tipos de conhecimento. Tal distinção está profundamente enraizada na sua visão de que a filosofia e a busca pelo conhecimento absoluto são, no fundo, questões que tocam a essência da existência e do ser. 

Vamos proceder a uma análise detalhada de cada alternativa proposta na questão. 

<ul>
<li>A) a mente humana é incapaz de conhecer os princípios últimos da realidade.</li>
Esta alternativa está incorreta. Aristóteles, ao contrário de Platão, que enfatizava a dificuldade do conhecimento verdadeiro através das sombras no mundo das ideias, defendia que o conhecimento dos princípios últimos era, de fato, alcançável. Para Aristóteles, a busca filosófica é não apenas válida, mas necessária, pois é através dela que a mente humana pode acessar e entender os princípios subjacentes à realidade. 
<li>B) a visão a respeito dos saberes é eurocêntrica e colonialista.</li>
Esta alternativa é incorreta e anacrônica ao contexto de Aristóteles. A crítica ao eurocentrismo e ao colonialismo são temas contemporâneos que não se aplicam à filósofo grego, cuja análise do conhecimento e das ciências era focada na categorização e avaliação do saber de seu tempo. Ao invés de um olhar sobre a colonização cultural, Aristóteles estava mais preocupado em estabelecer uma hierarquia entre os diversos tipos de conhecimento. 
<li>C) o comportamento do mundo sublunar e o do mundo supralunar são distintos.</li>
Embora Aristóteles tenha de fato explorado as diferenças entre o mundo sublunar (a Terra e tudo que nela existe) e o mundo supralunar (o céu e os corpos celestes), esta alternativa não aborda corretamente o que a afirmação inicial implica sobre a primazia dos saberes. O foco da Metafísica é entender as causas e princípios, não apenas categorizar mundos. Portanto, esta alternativa é parcialmente verdadeira, mas não se conecta diretamente à ideia de primazia dos saberes teóricos. 
<li>D) o discurso mítico e o discurso teórico apresentam equivalência.</li>
Esta opção é incorreta. Aristóteles realiza uma distinção clara entre o discurso mítico, que está fundamentado em narrativas e tradições culturais, e o discurso teórico, que procura explicações racionais e causais para os fenômenos. Para Aristóteles, o discurso teórico é superior ao mítico por se basear em uma lógica que busca entender a essência da realidade. Portanto, essa alternativa não respalda a primazia dos saberes contemplativos, mas sim o contrário. 
<li>E) os saberes teóricos ou contemplativos têm primazia sobre os saberes práticos ou utilitários.</li>
A alternativas correta. Aristóteles postula que a Metafísica, como estudo do ser e das causas primeiras, é a forma mais elevada de conhecimento. Embora os saberes práticos sejam eficazes e necessários na vida cotidiana, a filosofia, segundo Aristóteles, deve contemplar as verdades mais profundas, que são a base de todos os outros saberes. Este ponto de vista é central na sua filosofia e justifica a prioridade do saber teórico sobre o utilitário. 
</ul>

Ao abordar o conceito de saber na filosofia aristotélica, é importante destacar que Aristóteles distingue três tipos de conhecimento: o teórico (ou contemplativo), o prático (ou ético) e o produtivo. O conhecimento teórico é, para ele, o mais elevado, pois se relaciona diretamente com a busca pela verdade; neste sentido, a Metafísica desempenha um papel crucial ao questionar não apenas o que existe, mas o porquê das coisas serem como são. 

Além disso, Aristóteles também estabelece uma conexão entre teoria e prática, mas reserva a primazia para o saber que se ocupa da contemplação das essências e dos princípios últimos. Essa hierarquia é fundamental para entender sua ética e sua política, nas quais ele argumenta que a vida virtuosa é guiada por um entendimento racional da realidade. 

Dessa forma, ao afirmar que "todas as outras ciências serão mais necessárias que esta, mas nenhuma lhe será superior", Aristóteles não apenas sublinha a importância da Metafísica, mas também convida à reflexão sobre o valor intrínseco do saber contemplativo, que busca a verdade para além das aplicações práticas. 

Gabarito: Letra E

Questões de Filosofia - Aristóteles - 2024