 “para caber uma pessoa adulta sob sua folhagem” (parágrafo 1).

 “Todos ao redor advertiam sobre a demora da florada e das jabuticabas” (parágrafo 2).

 “A jabuticabeira cresceu mais depois das chuvas abundantes” (parágrafo 3).

 “Ela acorda muito cedo” (parágrafo 6).

A questão proposta requer o discernimento entre os sentidos denotativo e conotativo nas expressões do texto. No sentido denotativo, as palavras e expressões são usadas em seu significado mais direto e literal. No sentido conotativo, as palavras ou expressões são usadas em um sentido figurado, simbólico ou emocional, que transcende o literal.

<ul>
 <li>A) “para caber uma pessoa adulta sob sua folhagem” (parágrafo 1). 
 Essa expressão é utilizada no sentido denotativo, referindo-se literalmente ao espaço físico sob a copa da árvore, um espaço real onde uma pessoa poderia fisicamente se acomodar. Não há uso figurado ou simbólico aqui.</li>

 <li>B) “Todos ao redor advertiam sobre a demora da florada e das jabuticabas” (parágrafo 2). 
 Essa alternativa também é empregada de forma denotativa, descrevendo literalmente que as pessoas próximas da dona da casa alertavam sobre o tempo que a árvore levaria para florescer e dar frutos. A expressão é usada no seu sentido mais literal e informativo.</li>

 <li>C) “afogou casas” (parágrafo 3). 
 Este trecho é usado conotativamente. O verbo "afogar" denota, primariamente, a ação de submergir algo em água, o que é aplicável a seres vivos que respiram, como humanos ou animais. Quando aplicado a casas, assume um sentido figurado, sugerindo a extrema inundação e os efeitos devastadores da água, que se assemelham ao impacto de afogar-se. Este não é um uso literal, pois casas não respiram e, portanto, não podem ser afogadas no sentido convencional.</li>

 <li>D) “A jabuticabeira cresceu mais depois das chuvas abundantes” (parágrafo 3). 
 Este uso é denotativo, descrevendo diretamente o efeito das chuvas sobre o crescimento da jabuticabeira. Não há uma interpretação figurativa ou simbólica neste contexto.</li>

 <li>E) “Ela acorda muito cedo” (parágrafo 6). 
 Outra frase com uso denotativo, indicando simplesmente que a mulher desperta cedo. Não há elementos figurativos ou uma interpretação além do sentido literal da frase.</li>
</ul>

Portanto, após análise detalhada das alternativas, a alternativa correta é C, onde "afogou casas" é claramente usado em um sentido conotativo, aplicando uma característica humana a um objeto inanimado de forma figurada.

1 Finalmente, a jabuticabeira começa um estirão, deixa aquele estágio arbustivo e fica maior do que a dona da casa. Passa do metro e setenta, uns galhos centrais mais eretos e dirigidos ao céu, enquanto outros, mais periféricos, pendem um pouco para todos os lados, formando uma possível copa, embora ainda baixa demais para caber uma pessoa adulta sob sua folhagem verde-escura.

2 A muda da jabuticabeira não foi adquirida por conta de sua fruta. Todos ao redor advertiam sobre a demora da florada e das jabuticabas, que precisam de água abundante, e aqui... neste terreno seco, pobre, nada haveria de frutificar. A muda foi comprada primeiro porque a dona da casa queria, no futuro, uma sombra. A sombra na varanda era uma espécie de sonho inalcançável, e disseram que, com uma jabuticabeira, neste solo infértil, seria como esperar pela aposentadoria. Demoraria a vida inteira e talvez nem chegasse a tempo de existirem, nesta casa, uma mulher e uma rede, na qual ela se sentaria ou se deitaria para ler um livro ou uma revista ou com um gato cego para acarinhar.

3 Mas não parece que é o que vai acontecer. Pelo visto, a sombra chegará bem antes da aposentadoria dessa mulher que trabalha diariamente, por três turnos, interrompidos apenas por um pedaço de novela das seis e um café para acordar. A jabuticabeira cresceu mais depois das chuvas abundantes, o que ajudou a confirmar as ambiguidades e os contrassensos do mundo. Enquanto aqui a água alimentou a terra e as raízes de uma sombra frutífera futura, nos bairros ao redor ela levou encostas, fez transbordar o rio, afogou casas e animais de estimação e pessoas, incluindo velhos e crianças em pleno sono. No quintal em que está, a jabuticabeira deu resposta positiva à água que caiu do céu, crescendo mais do que o esperado pela vizinhança inteira, enchendo de alegria a dona da casa, essa mulher que cuida sozinha do filho e que pretende, um dia, habitar mais a própria casa.

4 Também para desafiar os palpites da vizinhança e dos familiares de pouca fé, a jabuticabeira, ainda bem pequena, começou a dar jabuticabas, mesmo antes de ter um metro e meio, e eram frutas que amadureciam, cresciam, ficavam suculentas e podiam ser consumidas, se alguém as colhesse daquele caule onde nascem grudadas como insetos, depois da floração branca. [...] 

5 Contra todos os palpites da vizinhança e dos poucos familiares com quem ainda conversa pelas redes sociais, a mulher cultiva a jabuticabeira com forte esperança de que seja possível cochilar sob sua sombra um dia; então, não raro, enquanto faz o almoço, a dona da casa dá olhadelas carinhosas para a árvore, já com mais de um metro e setenta de altura e galhos para todos os lados, além do tronco que a eleva e sustenta, e vê florezinhas, depois jabuticabas que, como ninguém colhe, são comidas pelos passarinhos e até por insetos, que descobriram este quintal, esta casa e esta mulher que espera pela jabuticabeira com muito mais esperança e animação do que pela aposentadoria.

6 A mulher não pode criar seu filho com a dedicação que gostaria, não pode alimentar o gato duas vezes por dia, não consegue regar as mudas com frequência, não está em casa quando o carteiro toca a campainha para entregar correspondências que exigem sua assinatura. Ela acorda muito cedo, faz as entregas do filho, das senhas, das chaves, os acordos com as outras vizinhas, e sai a trabalhar descontente, como provavelmente todas as pessoas do mundo, em especial as que não trabalham para si e para os seus. Ela retorna para o almoço, à tarde muda de endereço profissional, retorna para um café e muda novamente de direção. Nesse exercício de vaivém, quase como uma engrenagem, ela consegue dar olhadelas furtivas para a árvore que se forma no quintal, prometendo algo difícil de comprar, seu maior investimento: sombra e descanso.

7 Fruem a presença da jabuticabeira borboletas, formigas, passarinhos e mesmo o gato, que cabe embaixo dela e não se importa com a terra molhada ou as folhas em decomposição. Observam a árvore algumas pessoas da vizinhança, numa espécie de aposta controversa, em alguns casos desejando que os galhos sequem, a planta morra, a confirmar as previsões de tão inteligentes pessoas. Outras, no entanto, conseguem ter bons sentimentos e, em pensamento, ficar felizes porque a dona da casa, em alguns tantos anos, haverá de conseguir sua sombra, depois sua rede, onde se deitar com o gato cego e, em paz, morrer.

 os vizinhos serem extremamente desagradáveis 

A questão solicita a identificação da relação do trecho "que pretende, um dia, habitar mais a própria casa." do parágrafo 3 com o contexto dessa afirmativa. Analisando o texto e as alternativas:

<ul style="margin-bottom: 1.5em;">
<li>A) a casa ser hoje inabitável. 
Esta alternativa é incorreta pois o texto não sugere que a casa seja inabitável. Ele relata a esperança de vivê-la mais plenamente no futuro, devido à falta de tempo da mulher e não à condições de habitabilidade.</li>

<li>B) a mulher ser muito atarefada. 
Esta alternativa é correta. O texto descreve diversas responsabilidades da mulher, incluindo trabalhos e outras obrigações que a impedem de passar mais tempo desfrutando de sua própria casa (parágrafos 3 e 6). Ela pretende, futuramente, ter mais tempo para "habitar mais a própria casa", o que alude a um desejo de estar mais presente e usufruir do espaço.</li>

<li>C) a jabuticabeira estar bem pequena. 
Incorreto, porque o tamanho da jabuticabeira não está diretamente relacionado ao desejo de a mulher habitar mais sua casa. O texto menciona que a jabuticabeira começou a crescer mais do que esperado, contrastando com o desejo da mulher de habitar mais sua casa.</li>

<li>D) o filho requerer ainda muitos cuidados. 
Incorreto, pois apesar de mencionar cuidados com o filho, o texto não relaciona isso diretamente com o desejo de ela habitar mais a casa. O contexto maior é a falta de tempo da mulher devido ao trabalho e outras responsabilidades.</li>

<li>E) os vizinhos serem extremamente desagradáveis. 
Também incorreto. Não há indicação no texto de que os vizinhos influenciam diretamente na capacidade da mulher de habitar mais a sua casa. Eles aparecem de forma mais geral com suas opiniões sobre a jabuticabeira.</li>
</ul>

Assim, a alternativa correta é aquela que reflete a realidade da mulher como alguém extremamente ocupada, o que compromete seu tempo disponível para disfrutar do ambiente doméstico, como pleiteado. Portanto, a alternativa correta é B.

 Os palpites dos familiares jamais a desanimaram.

 Um sonho que ela acalentava era uma sombra na varanda.

 A jabuticabeira é uma árvore frutífera nativa da Mata Atlântica.

 Poucas pessoas conseguem ficar contentes com a vitória do outro.

 O vizinho falou com a mulher que acorda muito cedo todos os dias.

A ambiguidade, no contexto linguístico, refere-se à possibilidade de uma construção frasal ou expressão ser interpretada de mais de um modo. Essa característica pode gerar confusão e falta de clareza, aspectos que devem ser evitados em textos formais e oficiais.

<ul>
<li>A) "Os palpites dos familiares jamais a desanimaram." - Esta frase não apresenta ambiguidade porque a sua construção é direta e o sujeito, o objeto e a ação estão claros e bem definidos, sem margem para duplas interpretações.</li>

<li>B) "Um sonho que ela acalentava era uma sombra na varanda." - Similarmente, esta frase é clara. O sonho, especificamente o de ter uma sombra na varanda, é um desejo da pessoa mencionada, sem que haja outra forma de interpretar a sentença.</li>

<li>C) "A jabuticabeira é uma árvore frutífera nativa da Mata Atlântica." - Esta afirmação é factual e específica, indicando que a jabuticabeira pertence a determinada categoria botânica e é originária de uma região geográfica específica. Não há ambiguidade.</li>

<li>D) "Poucas pessoas conseguem ficar contentes com a vitória do outro." - Esta sentença expressa uma generalização sobre comportamento humano sem duplo sentido evidente.</li>

<li>E) "O vizinho falou com a mulher que acorda muito cedo todos os dias." - Esta é a frase com ambiguidade evidente. Pode-se interpretar que o vizinho é quem acorda cedo todos os dias ou que a mulher (com quem ele falou) é quem tem esse hábito. A conexão entre as cláusulas "que acorda muito cedo todos os dias" e "a mulher" não é explícita o suficiente para determinar sobre quem a ação de acordar cedo se aplica.</li>
</ul>

A ambiguidade em questão reside na possibilidade de interpretação quanto ao sujeito que realiza a ação de acordar cedo, o que torna a frase "O vizinho falou com a mulher que acorda muito cedo todos os dias" susceptível a múltiplas leituras conforme o entendimento de quem interpreta a sentença.

A alternativa correta é E.

Na análise da locução verbal "haverá de conseguir" presente no enunciado do fragmento do parágrafo 7, é necessário avaliar o significado contextual que ela expressa na frase “a dona da casa, em alguns tantos anos, haverá de conseguir sua sombra”. A locução "haverá de" é comumente usada como uma expressão modal que indicia a ideia de futuridade somada a uma nuance de probabilidade ou expectativa forte associada a uma ação futura. A seguir, discutiremos cada uma das alternativas para entender essa escolha.

<ul>
<li>A) Condição: Essa alternativa sugeriria que a realização de "conseguir sua sombra" está sob certa condição. No entanto, o texto não estabelece uma condição específica diretamente ligada ao ato de conseguir a sombra; consequentemente, essa alternativa não é a mais adequada.</li>
<li>B) Esperança: Considerando o uso de "haverá de" como uma forma de expressão que denota expectativa ou convicção de que algo vai acontecer, essa alternativa é a que melhor se encaixa no contexto do fragmento analisado. Reflete a expectativa positiva da dona da casa sobre o futuro, apesar das adversidades.</li>
<li>C) Solicitação: Esta opção implicaria algum pedido ou exigência, o que não está presente no contexto do fragmento. Portanto, é inadequada.</li>
<li>D) Capacidade: A locução "haverá de", neste contexto, não se refere diretamente à capacidade da dona da casa de realizar a ação, mas sim à sua expectativa e esperança em relação ao futuro.</li>
<li>E) Oferecimento: Não há no texto nenhuma indicação de que está sendo oferecido algo à dona da casa. Assim, essa alternativa não se aplica.</li>
</ul>

Ao considerar a narrativa e o uso da locução verbal, concluímos que a alternativa correta é baseada na expectativa da dona da casa de que, no futuro, a jabuticabeira proporcionará a sombra desejada — um uso adequado da locução "haverá de" revela a esperança no futuro.

A alternativa correta é B.

Para analisar o referente do pronome oblíquo "a" em destaque no enunciado "além do tronco que a eleva e sustenta", precisamos entender a quem ou a quê esse pronome se refere dentro do contexto da frase, especialmente considerando sua posição e uso gramatical como pronome oblíquo átono. Neste caso, o referente deve ser um elemento feminino singular mencionado anteriormente no texto.

<ul style="margin-bottom: 1.5em;">
<li>A) a árvore: O pronome "a" pode muito bem referir-se à árvore descrita ao longo do quinto parágrafo. A frase enfoca no tronco como parte da estrutura que ajuda a sustentar a árvore. Esta alternativa está gramaticalmente plausível e coesiva, visto que o texto contextualiza o crescimento da árvore e sua importância para a dona da casa.</li>
<li>B) esperança: A esperança é mencionada no parágrafo mas não é o sujeito sendo elevado ou sustentado pelo tronco. Assim, não é uma referência correta neste contexto.</li>
<li>C) sua sombra: Embora a sombra seja uma meta desejada pela dona da casa, gramaticalmente não faz sentido ser o referente para "a", pois sombra não é sustentada diretamente por um tronco de forma física.</li>
<li>D) a vizinhança: A vizinhança é mencionada no texto, mas não é o sujeito que está sendo sustentado pelo tronco. Assim, não é o referente correto para o pronome.</li>
<li>E) a dona da casa: A dona da casa é obviamente um foco central da narrativa, mas a frase especificamente não sugere que ela é sustentada diretamente pelo tronco físico da árvore.</li>
</ul>

Tendo em vista a análise das alternativas, vemos que o pronome "a" se refere especificamente a "árvore". Este uso pronome está alinhado com a concordância gramatical e retoma o sujeito já mencionado anteriormente na frase, mantendo a coesão textual. Portanto, a alternativa correta é A).

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