Em relação ao texto apresentado acima, julgue os itens seguintes.


O tema do texto pode ser sintetizado no ditado popular “aqui
se faz, aqui se paga”.

Na questão em análise, a expressão “armar ali a minha tenda” foi utilizada em sentido figurado, ou seja, o autor emprega uma figura de linguagem que desvia o sentido literal das palavras para criar uma imagem metafórica. O recurso figurado, neste caso, permite que o leitor visualize o ambiente do escritório no apartamento como um espaço destinado não apenas ao trabalho, mas também à reflexão e à leitura, similar a uma "tenda" — um refúgio, um lugar de abrigo e proteção ideológica e intelectual. Trata-se, então, de um exemplo de metáfora, onde o objeto literal (a tenda) se torna representação de um ambiente mental e propício à criação e ao trabalho intelectual.

A utilização dessa expressão enriquece o texto, conferindo-lhe uma tonalidade poética e sugerindo que o espaço reservado para os livros e o trabalho é tão importante quanto um abrigo montado com carinho e dedicação. A figura de linguagem empregada enfatiza a ideia de que o ambiente não se resume à materialidade do escritório, mas se torna o cenário de um processo criativo e de autoconhecimento. Dessa forma, a escolha do autor por uma expressão figurada cumpre a função estética de transformar a descrição de um cômodo simples em um espaço carregado de significado pessoal.

Alternativa Correta:
A alternativa que afirma que a expressão “armar ali a minha tenda” foi empregada em sentido figurado é correta. O emprego do sentido, portanto, extrapola as relações literais, buscando uma imagem simbólica e poética do ambiente de trabalho e reflexão no texto.

Gabarito: Letra C

A expressão “armar ali a minha tenda” (R.3) foi empregada no
texto em sentido figurado.

No que se refere aos sentidos do texto I, julgue os próximos itens.


Naquele novo apartamento da rua Visconde de Pirajá
pela primeira vez teria um escritório para trabalhar. Não era um
cômodo muito grande, mas dava para armar ali a minha tenda
de reflexões e leitura: uma escrivaninha, um sofá e os livros.
Na parede da esquerda ficaria a grande e sonhada estante
onde caberiam todos os meus livros. Tratei de encomendá-la a
seu Joaquim, um marceneiro que tinha oficina na rua Garcia
D’Ávila com Barão da Torre.
O apartamento não ficava tão perto da oficina. Era
quase em frente ao prédio onde morava Mário Pedrosa, entre
a Farme de Amoedo e a antiga Montenegro, hoje Vinicius de
Moraes. Estava ali havia uma semana e nem decorara ainda o
número do prédio. Tanto que, quando seu Joaquim, ao
preencher a nota de encomenda, perguntou-me onde seria
entregue a estante, tive um momento de hesitação. Mas foi só
um momento. Pensei rápido: “Se o prédio do Mário é 228,
o meu, que fica quase em frente, deve ser 227”. Mas
lembrei-me de que, ao ir ali pela primeira vez, observara que,
apesar de ficar em frente ao do Mário, havia uma diferença na
numeração.
― Visconde de Pirajá, 127 ― respondi, e seu
Joaquim desenhou o endereço na nota.
― Tudo bem, seu Ferreira. Dentro de um mês estará
lá sua estante.
― Um mês, seu Joaquim! Tudo isso? Veja se reduz
esse prazo.
― A estante é grande, dá muito trabalho... Digamos,
três semanas.

Vamos começar analisando o trecho do texto que foi destacado na pergunta: "Eu era a imagem do que não era". Essa frase realmente embute uma figura de linguagem conhecida como paradoxo ou oximoro.

 

Para dar uma contextualizada, essas figuras de linguagem são usadas para expressar ideias que parecem contraditórias, mas revelam uma verdade mais profunda quando analisadas mais atentamente. No caso do paradoxo, trata-se da junção de conceitos que parecem opostos ou excludentes, mas, ao mesmo tempo, fazem sentido numa nova interpretação. Já o oximoro é um tipo específico de paradoxo que une palavras de sentidos opostos na mesma expressão, como "silêncio ensurdecedor".

 

No caso específico do texto, a frase "Eu era a imagem do que não era" junta os conceitos de "ser algo" e "não ser nada", o que parece absurdo à primeira vista. No entanto, essa expressão realça a ideia de que a persona narrativa se identifica com uma imagem ou ideia que, na realidade, ela não encarna. Isso revela uma profundidade na auto-percepção do narrador, fazendo com que a contradição inicial demonstre uma complexidade emocional e existencial. Portanto, é corretamente classificada como um paradoxo.

 

Alternativa correta é C.

A sentença “Eu era a imagem do que não era” (R.15) expressa
um paradoxo ou oximoro.

Quanto a mim mesma, sem mentir nem ser verdadeira
— como naquele momento em que ontem de manhã estava
sentada à mesa do café — quanto a mim mesma, sempre
conservei uma aspa à esquerda e outra à direita de mim. De
algum modo “como se não fosse eu” era mais amplo do que se
fosse — uma vida inexistente me possuía toda e me ocupava
como uma invenção. (...)
Enquanto eu mesma era, mais do que limpa e correta,
era uma réplica bonita. Pois tudo isso é o que provavelmente
me torna generosa e bonita. Basta o olhar de um homem
experimentado para que ele avalie que eis uma mulher de
generosidade e graça, e que não dá trabalho, e que não rói um
homem: mulher que sorri e ri.
Essa imagem de mim entre aspas me satisfazia, e não
apenas superficialmente. Eu era a imagem do que não era, e
essa imagem do não ser me cumulava toda: um dos modos mais
fortes é ser negativamente. Como eu não sabia o que era, então
“não ser” era a minha maior aproximação da verdade: pelo
menos eu tinha o lado avesso: eu pelo menos tinha o “não”,
tinha o meu oposto. O meu bem eu não sabia qual era, então
vivia com algum pré-fervor, o que era o meu “mal”.

Em relação ao texto I acima, julgue (C ou E) os itens seguintes.


O trecho “Tivemos damas das camélias em segunda mão” é uma clara referência à obra "A Dama das Camélias" de Alexandre Dumas filho, que é um símbolo literário frequentemente associado à literatura francesa. A expressão “em segunda mão” sugere algo usado, não original ou copiado, o que denota um tom pejorativo e uma crítica à imitação cultural. 

Essa expressão encaixa-se dentro do contexto mais amplo do texto em que o autor critica os escritores brasileiros por não explorarem elementos nacionais autênticos em suas obras literárias, optando, ao invés disso, por reproduzir fórmulas e estilos estrangeiros. Graciliano Ramos usa esse exemplo específico para ilustrar a "contrafação de literaturas estranhas", mencionada posteriormente no texto. A "contrafação" aqui se refere à imitação ou falsificação da literatura estrangeira, faltando autenticidade e originalidade nas produções nacionais. 

Assim, quando se afirma que a frase expressa tanto a "contrafação de literaturas estranhas" quanto o desapreço do autor por esse tipo de produção, está-se destacando o uso figurativo da linguagem para criticar a dependência cultural e a falta de originalidade na literatura nacional da época, aspectos estes que são fundamentais para entender a postura crítica do autor perante a literatura de sua época. 

Dado este contexto, a assertiva de que a frase expressa o desapreço do autor pela produção literária influenciada pela literatura estrangeira é correta, pois sublinha a aversão do autor pela imitação cultural em detrimento de uma expressão mais autêntica da identidade nacional brasileira na literatura. 

Gabarito: Letra C

A frase “Tivemos damas das camélias em segunda mão”
(R. 13 e 14) expressa, em linguagem figurada, o que Graciliano
denomina “contrafação de literaturas estranhas” (R.34) e, como
indica o emprego da expressão “em segunda mão”, o
desapreço do autor à produção literária que revelava tal
influência.

Nestes quatrocentos anos de colonização literária,
recebemos a influência de muitos países. Sempre tentamos
reproduzir, com todas as minudências, a língua, as ideias, a
vida de outras terras. Não sei donde vem esse medo que temos
de sermos nós mesmos. Queremos que nos tomem por outros. 
(...)
Na literatura de ficção é que a falta de caráter dos
brasileiros se revelou escandalosamente. Em geral, os nossos
escritores mostraram uma admirável ignorância das coisas que
estavam perto deles. Tivemos caboclos brutos semelhantes aos
heróis cristãos e bem-falantes em excesso. Os patriotas do
século passado, em vez de estudar os índios, estudaram tupi
nos livros e leram Walter Scott. Tivemos damas das camélias
em segunda mão. Tivemos paisagens inúteis em linguagem
campanuda, pores do sol difíceis, queimadas enormes, secas
cheias de adjetivos. José Veríssimo construiu um candeeiro em
não sei quantas páginas.
Muito pouco — rios, poentes cor de sangue,
incêndios, candeeiros.
Os ficcionistas indígenas engancharam-se
regularmente na pintura dos caracteres. Não mostraram os
personagens por dentro: apresentaram o exterior deles, os
olhos, os cabelos, os sapatos, o número de botões. Insistiram
em pormenores desnecessários, e as figuras ficaram paradas.
Os diálogos antigos eram uma lástima. Em certos
romances, os indivíduos emudeciam, em outros, falavam
bonito demais, empregavam linguagem de discurso. Dois
estrangeiros, perdidos nas brenhas, discutiam política,
sociologia, trapalhadas com pedantismo horrível, que se
estiravam por muitas dezenas de folhas. Via-se perfeitamente
que o autor nunca tinha ouvido nada semelhante ao palavrório
dos seus homens.
Felizmente, vamo-nos afastando dessa absurda
contrafação de literaturas estranhas. Os romancistas atuais
compreenderam que, para a execução de obra razoável, não
bastam retalhos de coisas velhas e novas importadas da França,
da Inglaterra e da Rússia.
(...)
O que é certo é que o romance do Nordeste existe e
vai para diante. As livrarias estão cheias de nomes novos. Não
é razoável pensarmos que toda essa gente escreva porque um
dia o Sr. José Américo publicou um livro que foi notado com
espanto no Rio:
— Um romance do Nordeste! Que coisa
extraordinária!

Com base nas ideias desenvolvidas no texto anterior, julgue
(C ou E) os itens seguintes.


Na análise dos segmentos mencionados na questão, identifica-se a presença de uma figura de linguagem comum a ambos: a prosopopeia ou personificação. A prosopopeia é uma figura de linguagem na qual atributos ou ações humanas são conferidas a seres inanimados ou abstratos.

No segmento "um automóvel impaciente buzinava" (R.8), observamos a atribuição da característica humana de "impaciência" a um automóvel, que é um objeto inanimado. Isso serve para realçar o contraste entre o movimento lento e irritante das carroças e a rapidez e frustração do automóvel em meio ao trânsito congestionado.

 

Por outro lado, no trecho "entre os caminhões que pediam passagem" (R.10 e 11), os caminhões, igualmente objetos inanimados, são descritos como se tivessem a capacidade de "pedir", outra ação tipicamente humana. Esta descrição reforça a ideia de urgência e movimento frenético no cenário descrito no texto.

 

A escolha dessa figura de linguagem nos dois segmentos não é coincidência; ela contribui para a construção de uma imagem vibrante e dinâmica da transformação do subúrbio, onde a modernização e a industrialização trazem consigo tanto progresso quanto caos.

 

Portanto, ao afirmar que ambos os segmentos expressam a mesma figura de linguagem, a pessoa que elaborou o item da prova está correta. Ambos ilustram o uso eficaz da personificação para enfatizar a vida e o movimento dentro do cenário descrito, apoiando a percepção de um ambiente em transformação intensa.

Gabarito: Letra C

Os segmentos “um automóvel impaciente buzinava” (R.8) e
“entre os caminhões que pediam passagem” (R. 10 e 11)
expressam a mesma figura de linguagem.

O subúrbio de S. Geraldo, no ano de 192..., já
misturava ao cheiro de estrebaria algum progresso. Quanto
mais fábricas se abriam nos arredores, mais o subúrbio se
erguia em vida própria, sem que os habitantes pudessem dizer
que transformação os atingia. Os movimentos já se haviam
congestionado e não se poderia atravessar uma rua sem
desviar-se de uma carroça que os cavalos vagarosos puxavam,
enquanto um automóvel impaciente buzinava atrás lançando
fumaça. Mesmo os crepúsculos eram agora enfumaçados e
sanguinolentos. De manhã, entre os caminhões que pediam
passagem para a nova usina, transportando madeira e ferro, as
cestas de peixe se espalhavam pela calçada, vindas, através da
noite, de centros maiores. Dos sobrados desciam mulheres
despenteadas com panelas, os peixes eram pesados quase na
mão, enquanto os vendedores em mangas de camisa gritavam
os preços. E quando, sobre o alegre movimento da manhã,
soprava o vento fresco e perturbador, dir-se-ia que a população
inteira se preparava para um embarque.

Com referência às ideias e às estruturas do texto acima,
julgue (C ou E) os itens que se seguem.


Questões de CESPE / Cebraspe - Português - Figuras de linguagem