Por Sam Gruet e Megan Lawton

01 “Recebo muito ódio”, diz a criadora de conteúdo Winta Zesu.
02 Em 2023▲ ela ganhou US$ 150 mil (cerca de R$ 900 mil) com postagens nas redes sociais.
03 O que diferencia Zesu de outros influenciadores é que as pessoas que comentam nas suas
04 postagens e levam tráfego para os seus vídeos, muitas vezes, são levadas pela raiva.
05 “Cada vídeo meu teve milhões de visualizações devido aos comentários de ódio”, explica
06 a jovem de 24 anos.
07 Nos vídeos, ela documenta a vida de uma modelo na cidade de Nova York, nos Estados
08 Unidos. Seu maior problema é ser bonita demais.
09 O que algumas pessoas que fazem comentários não per__ebem é que Zesu está
10 interpretando uma personagem.
11 “Recebo muitos comentários desagradáveis”, conta ela, do seu apartamento em Nova
12 York. “As pessoas dizem ‘você não é a menina mais bonita’ ou ‘por favor, baixe a bola, você tem
13 confiança demais’”.
14 Winta Zesu faz parte de um grupo cada vez maior de criadores on-line que elaboram
15 conteúdo que serve de “isca de ódio” (rage-baiting, em inglês).
16 O objetivo é simples: gravar vídeos, produzir memes e escrever postagens que provoquem
17 raiva vi__eral nas pessoas. Com isso, elas contam milhares, até milhões de curtidas e
18 compartilhamentos.
19 O rage-baiting é diferente do seu primo clickbait, muito comum na internet. Neste, usa-
20 se uma manchete para incentivar o leitor a clicar para ver um vídeo ou reportagem.
21 “A isca de ódio é criada para manipular as pessoas”, diz a produtora de podcasts de
22 marketing Andréa Jones.
23 Mas a atração exercida pelo conteúdo negativo sobre a psicologia humana está incrustada
24 em nós, segundo William Brady, que estuda as interações do cérebro com as novas tecnologias.
25 “No passado, este era o tipo de conteúdo em que realmente precisávamos prestar
26 atenção”, explica ele. “Por isso, temos esses vieses embutidos na nossa atenção e no nosso
27 aprendizado”.
28 O crescimento das iscas de ódio coincidiu com o aumento do pagamento por conteúdo,
29 por parte das principais plataformas de redes sociais.
30 Esses programas de criadores recompen__am os usuários pelas curtidas, comentários e
31 compartilhamentos. Eles permitem a postagem de conteúdo patrocinado e são considerados
32 responsáveis pelo aumento do rage-baiting.
33 “Se observarmos um gato, nós dizemos ‘oh, que bonito’ e rolamos a imagem. Mas, se
34 virmos alguém fazendo algo obsceno, podemos comentar ‘isso é terrível’”, explica Jones. “E o
35 algoritmo considera este tipo de comentário como engajamento de melhor qualidade”.
36 “Quanto mais conteúdo um usuário criar, mais engajamento ele consegue e mais ele
37 recebe”, prossegue ela, com ar preocupado. “Por isso, alguns criadores farão de tudo para
38 conseguir mais visualizações, mesmo se for algo negativo ou se incitar a raiva e o ódio nas
39 pessoas. Isso gera desvinculação”.

A isca de ódio tem o mesmo significado de clickbait.

 O aumento das iscas de ódio tem relação com o surgimento de novas formas de publicação nas redes sociais.

 No uso da isca de ódio, as manchetes são utilizadas para atrair internautas.

 Manipular as pessoas é o objetivo da criação da isca de ódio.

01 Na meta de reduzir o hábito de fumar, o Brasil recebeu notícias positivas no mês de julho: foi
02 o segundo país, depois da Turquia, a alcançar patamares da Organização Mundial da Saúde
03 (OMS) em ações como a proibição do tabaco em espaços públicos e a ajuda ____________ que
04 querem largar o vício. Dados .............. pelo Ministério da Saúde também mostraram que, em
05 2018, 9,3% dos adultos brasileiros das 27 capitais declararam fumar – uma diminuição
06 significativa em relação a 2006, quando o percentual era de 16,2%.
07 Mas a publicação anual da qual estes dados fazem parte, o Vigitel (Vigilância de Fatores de
08 Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), mostrou também algo que é
09 uma tendência não só no Brasil, mas no mundo: o hábito de fumar persiste entre aqueles com
10 menor escolaridade e renda. O percentual dos que se declaram fumantes no Brasil cai __ medida
11 que os anos de estudo aumentam: tabagistas são 13% entre aqueles que estudaram durante 0
12 a 8 anos; 8,8% na faixa de 9 a 11 anos de estudo; e 6,2% para aqueles com 12 ou mais anos
13 de estudo.
14 A publicação não traz dados para renda, mas, segundo especialistas, o fumo também
15 acompanha os mais pobres – afinal, sobretudo em países desiguais como o Brasil, os mais
16 escolarizados tendem a ser mais ricos. "A associação entre pobreza e fumo é uma das relações
17 mais consolidadas no conhecimento sobre tabagismo", resume Tânia Cavalcante, médica do
18 Instituto Nacional do Câncer (Inca). "Estas pessoas têm menor acesso à informação, como sobre
19 os malefícios do tabagismo, e __ escolas, que hoje de uma forma ou de outra abordam o tema.
20 Também têm menos acesso __ tratamentos para deixar de fumar."
21 Paula Johns, diretora da organização ACT Promoção em Saúde, lembra também que o acesso
22 à informação foi na história um divisor de águas no perfil de quem fuma. "No .............., o cigarro
23 era vendido como um produto glamuroso. Tinha um apelo da emancipação, que atingia os
24 formadores de opinião, como as sufragistas. A partir da década de 1960, 70, aumenta o
25 conhecimento sobre os malefícios do produto, e o perfil começa a mudar", explica.
26 "A questão do acesso à informação é a principal explicação para o fato de hoje os mais pobres
27 fumarem mais, globalmente". Johns aponta que isso implica em um maior impacto da
28 participação do tabagismo no orçamento dos mais pobres, que é menor – tomando o lugar de
29 custos com alimentação, educação e saúde.
30 Foi o que demonstrou uma pesquisa publicada em 2016, com o título Tabagismo e pobreza
31 no Brasil: uma análise do perfil da população tabagista a partir da POF 2008-2009. A partir de
32 dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os autores concluíram que 84%
33 da população tabagista recebia entre 1 e 3 ........................ per capita; 8,4% de 3 a 5 salários;
34 e 7,5% acima de 5.
35 Foram considerados tabagistas aqueles que consumiram produtos relacionados, como
36 cigarros, charutos, isqueiros e papel para cigarro. Na pesquisa, eles compuseram cerca de 10%
37 da população, com predominância de homens. O consumo com estes produtos comprometeu
38 1,5% da renda, em média.
39 "Isso mostra por que é uma medida efetiva para prevenir o tabagismo o aumento do preço
40 destes produtos", diz Johns, destacando a importância de taxas e impostos incidindo sobre esses
41 itens, o que é classificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como "a ação com melhor
42 ..........................." para redução do tabagismo.
43 Se toda mudança de comportamento em relação ao dinheiro é difícil, isto é agravado, no caso
44 do tabagismo, por tratar-se de um vício.

Por Vanessa Lima

01 A cada dez adolescentes brasileiros, atualmente, três têm obesidade ou sobrepeso.
02 Enquanto por aqui a obesidade e o sobrepeso afetam 31% dos adolescentes, a média do mundo
03 é de 18%, de acordo com o levantamento “Observatório da Saúde na Infância”. Embora as taxas
04 de obesidade e sobrepeso entre as crianças menores também tenham aumentado e sejam
05 maiores no Brasil em comparação com a média global, a incidência do problema nos adolescentes
06 preocupa os pesquisadores sobremaneira, por ser algo ainda mais impactante. Mas por que a
07 adolescência é uma fase tão vulnerável para esse ganho exagerado de peso?
08 As principais explicações estão relacionadas ___ mudanças físicas do corpo que ocorrem
09 nessa fase da vida, somadas ao momento do desenvolvimento social e emocional, além da
10 alimentação e do estilo de vida. De acordo com a nutricionista Alessandra Leonardo, no início da
11 adolescência, ___ uma hiperplasia celular, ou seja, um ganho acelerado de células adiposas.
12 “Nesse período, o adolescente vai ganhar peso para sustentar ___ estirão do crescimento, mas
13 esse aumento não deve ser exagerado. Existe também toda a modificação da puberdade, com o
14 crescimento das mamas, dos testículos, dos pelos e as alterações hormonais”, explica.
15 A parte emocional, nessa fase da vida, também tem um grande impacto. “A adolescência é
16 um período em que o indivíduo está aprendendo a lidar com as próprias emoções, a tomar
17 decisões, a lidar com conflitos e a administrá-los sozinho”, lembra a professora Raquel Boff, da
18 Universidade de Caxias do Sul. “Tudo é muito intenso. O adolescente se apaixona pela primeira
19 vez e geralmente se ilude no amor. Os amigos são tudo para ele. Há uma certa desregulação
20 emocional”, aponta. E é natural que isso aconteça dessa maneira. Em muitos casos, a estratégia
21 de enfrentamento a essas emoções envolve algum tipo de transtorno alimentar.
22 Quando a criança é pequena, os familiares ainda controlam as suas refeições. Já o
23 adolescente tem mais opções em seus cardápios. “Os adolescentes passam a ter mais autonomia
24 para o consumo de alimentos calóricos e ultraprocessados”, diz a nutricionista Alessandra. “Eles
25 comem mais vezes fora de casa, com os amigos. E as escolhas nesses momentos não costumam
26 ser as mais saudáveis”, salienta. “Quando saem, eles vão geralmente aos shoppings ou ao
27 cinema, em que há todo um estímulo para a alimentação inadequada. Os bons alimentos ficam
28 calados nessa hora”, afirma a especialista.
29 Isso tudo também tem a ver com o fato de os jovens ficarem mais tempo dentro de casa
30 diante das telas, acessando a internet para conversar com os amigos apenas virtualmente ou
31 entrar nas redes sociais, nos aplicativos de mensagens e em jogos online. “A tendência, nessas
32 situações, é aumentar o consumo de alimentos e diminuir drasticamente o nível de atividade
33 física”, enfatiza a nutricionista da Fiocruz. Isso sem falar nos impactos no sono, sendo que dormir
34 bem e por uma quantidade de tempo adequada é uma ferramenta importante para manter a
35 saúde e combater a obesidade e o sobrepeso. Além de todos esses fatores ligados ao ambiente
36 e aos hábitos, é preciso, ainda, avaliar o contexto familiar. Em alguns casos, existe o risco
37 genético, quando a mãe, o pai ou outros familiares próximos também são obesos.
38 Para Alessandra, prevenir a obesidade é olhar para os hábitos alimentares e de atividade
39 física dos jovens, além do estilo de vida. “É importante regular o tempo de tela, o sono, trabalhar
40 a conscientização sobre a alimentação. A prática de atividade física recomendada para um
41 adolescente, de acordo com o Ministério da Saúde, é de pelo menos 60 minutos diários”, alerta.
42 Manter um bom padrão de sono, entre 8 e 10 horas, também é fundamental. “As escolas
43 precisariam aumentar a atividade física para os jovens, melhorar as refeições, os alimentos
44 vendidos nas cantinas, reduzindo, por exemplo, a venda de bebidas açucaradas”, orienta. Para
45 ela, em termos de políticas públicas, pode-se pensar em uma taxação em alimentos e bebidas
46 com mais açúcar, por exemplo, o que reduziria o consumo. “A arrecadação extra abre a
47 possibilidade para a ampliação de investimentos sociais em reeducação alimentar”, sugere.

Questões de Compreensão e interpretação de textos