Epidemia – Estrangeirismo – Xenofobia

Ebola – Xenofobia – Segurança sanitária

O texto apresenta uma crítica profunda à reação social frente ao caso suspeito de ebola no Brasil, evidenciando a xenofobia e o racismo entranhados na sociedade. O autor expõe como uma crise de saúde pública acaba por desenterrar preconceitos e discriminações sociais, em específico, em relação aos africanos e ao continente de onde provêm.

 

A abordagem principal do texto transcende a própria doença do ebola, focando mais fortemente em como a epidemia revela outros "vírus" sociais, como o da xenofobia e do racismo. Ele descreve a situação como uma oportunidade de confrontar estas questões profundas, mostrando várias instâncias em que o racismo se manifesta abertamente contra indivíduos de origem africana, rotulados pejorativamente como "ratos". Essa linguagem chocante é usada para sublinhar o grave problema de desumanização e preconceito prevalente.

 

O texto, então, se associa mais claramente com as ideias de "Xenofobia – Preconceito – Racismo", pois enfatiza como a epidemia de ebola é apenas um pano de fundo para expor as falhas morais e éticas mais profundas na sociedade brasileira. O ebola, enquanto doença, passa a ser um elemento quase secundário diante dos temas sociais urgentes que emergem com a crise. Portanto, a alternativa C reflete melhor o eixo temático do trecho apresentado.

 

A alternativa correta é C.

Uma epidemia, como Albert Camus sabia tão bem, revela toda a doença de uma 
sociedade. A doença que esteve sempre lá, respirando nas sombras (ou nem tão nas 
sombras assim), manifesta sua face horrenda. Foi assim no Brasil na semana passada. Era 
uma suspeita de ebola, fato suficiente, pela letalidade do vírus, para exigir o máximo de 
seriedade das autoridades de saúde, como aconteceu. Descobrimos, porém, a deformação 
causada por um vírus que nos consome há muito mais tempo, o da xenofobia. E, como o 
outro, o “estrangeiro”, a “ameaça”, era africano da Guiné, exacerbada por uma herança 
escravocrata jamais superada. O racismo no Brasil não é passado, mas vida cotidiana 
conjugada no presente. A peste não está fora, mas dentro de nós.  
 E logo se ouviu o clamor. Não é hora de fechar as fronteiras?, cobrou-se das 
autoridades. Que os ratos fiquem do lado de fora, onde sempre estiveram. Que os ratos 
apodreçam e morram. Para os ratos não há solidariedade nem compaixão. Parece que nada 
se aprendeu com a AIDS, com aquele momento de vergonha eterna em que os gays foram 
escolhidos como culpados, o preconceito mascarado como necessária medida sanitária. 
 E quem são os ratos, segundo parte dos brasileiros? Há sempre muitos, demais, 
nas redes sociais, dispostos a despejar suas vísceras em praça pública. No Facebook, 
desde que a suspeita foi divulgada, comprovou-se que uma das palavras mais associadas 
ao ebola era “preto”. “Ebola é coisa de preto”, desmascarou-se um no Twitter. “Alguém 
me diz por que esses pretos da África têm que vir para o Brasil com essa desgraça de 
bactéria (sic) de ebola”, vomitou outro. “Graças ao ebola, agora eu taco fogo em qualquer 
preto que passa aqui na frente”, defecou um terceiro. Acreditam falar, nem percebem que 
guincham. 
 O ebola não parece ser um problema quando está na África, contido entre 
fronteiras. Lá é destino. O ebola só é problema, como escreveu o pesquisador francês 
Bruno Canard, porque o vírus saiu do lugar em que o Ocidente gostaria que ele ficasse. 
“A militarização da resposta ao ebola, que com a anuência do Conselho de Segurança das 
Nações Unidas, em setembro último, passou da Organização Mundial da Saúde a uma 
Missão da ONU, revela que a grande preocupação da comunidade internacional não é a 
erradicação da doença, mas a sua contenção geográfica”, reforça Deisy Ventura. 
 O homem a quem se acusou de trazer a doença para o Brasil, para o lugar onde o 
vírus não pode estar, sempre foi um sem nome, um ninguém, um não ser. Só é nomeado, 
ganha rosto, para mais uma vez ser violado. Para que continue a não ser enxergado, 
porque nele só se vê a ameaça, que é mais uma forma de não reconhecê-lo como humano. 
Ele, o rato. 
 Para o homem que alcançou o Brasil em busca de refúgio e teve sua dignidade 
violada na exposição de seu nome, rosto e documentos, ainda existe a espera de um 
segundo teste para o vírus do ebola. Não importa se der negativo ou positivo, devemos 
desculpas. Devemos reparação, ainda que saibamos que a reparação total é uma 
impossibilidade, e que essa marca pública já o assinala. Não é uma oportunidade para ele, 
é para nós. 
 É preciso reconhecer o rato que respira em nós para termos alguma chance de nos 
tornarmos mais parecidos com um humano.

Contribui como argumento de autoridade para confirmar a tese de que o ebola 
torna-se um problema apenas porque tem berço na África.

Funciona como tese que se contrapõe a “O ebola não parece ser um problema quando 
está na África.”.

Opera como argumento de autoridade pelo fato de o pesquisador ser um notório 
intelectual francês.

Funciona como tese que rejeita o argumento “porque o vírus saiu do lugar em que o 
Ocidente gostaria que ele ficasse.”.

Olá! Vamos dar uma olhada nessa questão da CONSULPAM que você trouxe sobre o vírus da xenofobia, onde o texto discorre eloquentemente sobre a perversa relação entre a xenofobia e as reações ao ebola no Brasil. A pergunta aponta para o uso de uma citação de um pesquisador francês, Bruno Canard, e nos pede para identificar como essa citação enquadra uma estratégia argumentativa.
 
Na frase em estudo, o texto menciona que “O ebola só é problema, como escreveu o pesquisador francês Bruno Canard, porque o vírus saiu do lugar em que o Ocidente gostaria que ele ficasse.” Isso nos mostra que a citação de Canard é utilizada para enfatizar a hipocrisia ou o eurocentrismo na forma como as crises de saúde são percebidas e geridas internacionalmente. Ao nomear um pesquisador específico, o autor busca conferir maior credibilidade e autoridade à afirmação, que o ebola é considerado um problema apenas quando escapa das fronteiras africanas e ameaça o Ocidente.
 
Esse uso da citação serve, portanto, como um argumento de autoridade que reforça a tese de que o ebola torna-se preocupante principalmente quando tem potencial para afetar o Ocidente, ao invés de ser contido geograficamente na África. Isso sublinha a ligação entre a percepção de 'problema' e o local afetado pela doença.
 
Ao analisar as alternativas, a opção A) Contribui como argumento de autoridade para confirmar a tese de que o ebola torna-se um problema apenas porque tem berço na África é precisamente o que discutimos. As outras alternativas falham em capturar essa interpretação estratégica da citação do pesquisador, focando incorretamente em outras facetas da declaração ou na estrutura argumentativa geral do texto.
 
Alternativa correta é A.

Consequência em relação a “Há sempre muitos, demais, nas redes sociais, dispostos a 
despejar suas vísceras em praça pública.”.

Causa em relação a “O ebola não parece ser um problema quando está na África, 
contido entre fronteiras.”.

Conclusão em relação a “Há sempre muitos, demais, nas redes sociais, dispostos a 
despejar suas vísceras em praça pública.”.

Oposição em relação a “O ebola não parece ser um problema quando está na África, 
contido entre fronteiras.”.

O trecho do texto mencionado na questão "O ebola só é problema, porque o vírus saiu do lugar em que o Ocidente gostaria que ele ficasse" sugere uma relação de causa e efeito no contexto apresentado. A função textual deste trecho é explicar por que o ebola passa a ser visto como um problema apenas quando transcende as fronteiras estabelecidas, neste caso, as fronteiras da África.

Para entender melhor: o texto argumenta que dentro de um contexto africano, o ebola é normalizado ou menos enfatizado pelas potências ocidentais. Entretanto, quando há uma ameaça de que o vírus atinja outras regiões, particularmente o Ocidente, sua perceção muda drástica e subitamente, sendo então reconhecido e tratado como uma ameaça severa.

Já a proposição "O ebola não parece ser um problema quando está na África, contido entre fronteiras." serve como pano de fundo para a afirmação de que o vírus só se torna uma preocupação global quando ameaça atravessar essas fronteiras. Assim, a veiculação do ebola enquanto problema só se dá quando existe o risco de afetar diretamente os interesses das nações ocidentais, configurando a causa para a mudança de atitude perante a doença.

Portanto, no contexto da banca da CONSULPAM, que muitas vezes espera do candidato a capacidade de entender as subtilidades do texto, a alternativa correta, que associa a causa da mudança de perspectiva sobre a gravidade do ebola ao potencial de afetar o Ocidente, é apropriada.

 Alternativa correta é B.

Que os ratos fiquem do lado de fora, onde sempre estiveram.

… que é mais uma forma de não reconhecê-lo como humano.

Para os ratos não há solidariedade nem compaixão.

Há sempre muitos, demais, nas redes sociais, dispostos a despejar suas vísceras em 
praça pública.

Vamos mergulhar nesse texto e na pergunta para encontrar a resposta certa. O texto criativamente usa a metáfora do "rato" para salientar questões de xenofobia e racismo, relatando como pessoas são desumanizadas e comparadas a animais indesejados pela sociedade. Interpretação é o coração dessa questão: como as palavras moldam a narrativa e influenciam a nossa percepção.
 
Nesse enredo, a frase final em análise - “É preciso reconhecer o rato que respira em nós para termos alguma chance de nos tornarmos mais parecidos com um humano” - precisa de uma comparação. Estamos buscando outra menção, nos itens, que use termos de maneira similar, ou seja, que suporte, desmascare ou enfrente diretamente a desumanização ou negatividade com a qual o termo é carregado.
 
Olhando para as alternativas:
<ul>
<li>A) Fala para manter os “ratos” fora, o que reforça a exclusão, totalmente diferente da proposta de reconhecimento para mudança que vemos na linha de argumentação do texto.</li>
<li>B) A menção de “humano” está em um contexto de negação, falando sobre não reconhecimento da humanidade, não se alinhando com o desafio de mudança pessoal solicitado na linha argumentativa de questionamento.</li>
<li>C) Essa alternativa reafirma a negatividade e exclusão dos "ratos", similar à alternativa A.</li>
<li>D) Frase que traz uma crítica à maneira como muitos, em excesso nas redes sociais, espalham negatividade. É a que mais se assemelha ao reconhecimento problemático, conhecendo as mazelas para então mudar, como proposto no contexto do “rato” no trecho em questão.</li>
</ul>
 
Portanto, a alternativa D apresenta uma orientação argumentativa mais próxima ao desafio de enfrentamento e mudança proposto na expressão destacada no enunciado, ao destacar a presença exagerada e negativa nas redes sociais de maneira crítica, similar ao reconhecimento do "rato" em nós que o texto propõe.
 
A alternativa correta é D.

Questões de CONSULPAM - Português - Compreensão e interpretação de textos