01    Um país de fãs de afiadores de facas, filmes de terror e músicas melosas; de obcecados
02 por campeonatos juniores de futebol, peixes nórdicos e pela convocação da seleção sueca de
03 futebol. Esse é um dos recortes possíveis para quem quisesse entender o brasileiro a partir de
04 suas buscas mais feitas no Google ao longo de 2018. A gigante das buscas — e de tantas outras
05 facetas da vida conectada, incluindo os dados de localização de seus usuários — revelou
06 recentemente quais foram os termos mais buscados em sua plataforma pelos usuários brasileiros,
07 convenientemente dividindo-os em categorias como “como fazer?”, “cultura” e “mortes”. É um
08 documento interessante, ainda que com distorções, sobre os temas que fizeram nossa cabeça
09 nesse ano atribulado.
10    Antes de tudo, é óbvio que nem todos os resultados surpreendem. São assuntos perenes,
11 como um interminável reality show, e outros particulares a nosso ano, como o nome do
12 presidente eleito. Ainda assim, há bastante espaço para buscas, no mínimo, interessantes. No
13 mesmo Top 10 figuram o “Horário de Brasília” (possivelmente por conta da pane nos relógios dos
14 celulares), a Copa São Paulo de Juniores (que aparece na frente de seu parente profissional, o
15 Brasileirão) e até mesmo o falecido quadrinista Stan Lee.
16    No relatório, alguns dados saltam aos olhos. Na categoria “O que é?”, assuntos que
17 dominaram o noticiário são refletidos, como a busca pela definição de fascismo, intervenção
18 militar e da Ursal, a inventiva União das Repúblicas Socialistas da América Latina antagonizada
19 por Cabo Daciolo (que não aparece na lista). Há outros termos que passaram batidos, como a
20 doença tuberculose ganglionar, a palavra “momo”, a condição física afonia e até a chaira, que,
21 confesso, fui pesquisar no Google e descobri ser outro nome para amolador de faca.
22    Já na seara das ações práticas, ou seja, as pesquisas de “como fazer”, o grande vencedor é
23 o Slime, um “brinquedo” que nada mais é do que uma gosma colorida e que parece voltar aos
24 holofotes da juventude com alguma frequência. Também têm destaque as dúvidas de “como fazer
25 figurinhas no Whatsapp” (o que já rendeu belos memes ao longo do ano) e “como fazer gasolina”,
26 que suponho ter sido impulsionada pela greve dos caminheiros, outro tema muito destacado no
27 Google esse ano. Há espaço também para “como fazer bacalhau”, o peixe norueguês que todo
28 ano desafia cozinheiros e cozinheiras natalinos pelo país.
29    De volta ao mundo da carne, chegamos ___ categoria de Celebridades. Além de estrelas
30 desse ano, como Pablo Vittar, MC Loma e o involuntariamente polêmico Roger Waters, uma
31 surpresa e tanto: o famoso mais buscado no Brasil foi o ator brucutu Sylvester Stallone. Nem
32 ouso conjecturar o motivo. No Top 10 dos esportistas, duas surpresas em primeiro e décimo
33 lugar: o jovem craque francês Kyllian Mbappé encabeça ___ lista, que é completa por Lyoto
34 Machida, lutador brasileiro de MMA conhecido por seus chutes e por ter migrado do UFC para ___
35 rival Bellator nesse ano.
36    Também é importante destacar os filmes e músicas mais buscados no ano: entre as
37 produções cinematográficas estão o terror “A Freira” (que fica muito atrás em qualidade se
38 comparada aos antecessores Invocação do Mal 1 e 2) e o filme de herói Deadpool 2. Nas músicas,
39 foram mais buscadas as letras da prosaica “Era uma Vez” de Kell Smith e a bombada “Que Tiro
40 Foi Esse” de Jojo Toddynho, que também apareceu como meme do ano no buscador.
41    É preciso, porém, sempre entender essas listas tendo em conta suas limitações. Antes de
42 tudo, muitos brasileiros não têm acesso ___ internet, estando 35% dos cidadãos não conectados .
43 Além disso, o Google não é a única maneira de busca de informações na rede, ainda que faça um
44 esforço descomunal para passar essa impressão. Internautas ainda buscam em redes sociais, nos
45 e-mails e nos sites de notícia. Termos e assuntos que comoveram e movimentaram o país não
46 necessariamente são buscados de maneira uniforme na plataforma. Se mais nada, ao menos, o
47 relatório mostra que, ao contrário das aparências, as eleições não foram o único assunto da
48 internet nesse ano. Ainda bem.

 “os temas que fizeram nossa cabeça” (ℓ. 08).

 “é óbvio que nem todos os resultados surpreendem” (ℓ. 10).

 “que aparece na frente de seu parente profissional” (ℓ. 14).

 “que também apareceu como meme do ano no buscador” (ℓ. 40).

 “que comoveram e movimentaram o país” (ℓ. 45).

<i>Por Martha Medeiros</i>

01    Tem pessoas que adoram obras, estão sempre derrubando uma parede, trocando um piso,
02 con...ertando um telhado, ___ vezes tudo isso ao mesmo tempo. Eu? Nem que tivesse energia e
03 dinheiro sobrando. Minha especialidade na vida é evitar incomodação. Sou craque em manter as
04 coisas como ___ encontro – a não ser que representem algum risco. Só de imaginar as
05 negociações de prazo, o entra-e-sai de funcionários e o barulho, desisto e me apego ___ tese de
06 que o tempo deixa tudo mais bonito.
07    Parece desculpa para a preguiça, mas há um fundamento. As coisas gastas desenvolvem
08 um valor, digamos, atmosférico. Ganham ranhuras, trocam de cor e se revestem, por fim, com
09 a aura sofisticada da permanência. Resistiram a modismos e an...iedades, viraram testemunhas
10 do que foi vivido ao seu redor. Acho isso de uma elegância rara, pena que só valorizada lá longe,
11 na Europa.
12    Este texto deveria ser publicado em algum folheto de antiquário, eu sei, ou de um museu.
13 Sou bem retrô em relação a certos assuntos. Gosto de novidades, desde que a ebulição aconteça
14 dentro da minha cabeça, sem necessidade de um caminhão de mudanças. Tive poucos endereços
15 na vida. Preservo amizades feitas no colégio. Conto mês a mês os aniversários de
16 relacionamento, e quanto mais ele resiste íntegro e satisfatório, mais me orgulho. Quase gosto
17 de estar envelhecendo.
18    Quase. Preferiria congelar nos 50, mas deter o tempo como? Cada um é livre para fazer o
19 que deseja, eu faço nada. No que diz respeito à vaidade pessoal, sigo a mesma cartilha das
20 paredes, pisos e telhados: deixo tudo como está. Invisto em maquiagem leve, tonalizante nos
21 cabelos e exercícios físicos – de agulhas, passo longe. Até aqui, dispensei procedimentos
22 rejuvenescedores, como botox, preenchimentos ou lifting (o “valor atmosférico” do meu rosto
23 confirma). Nunca fui estonteante, o que ajuda a envelhecer sem pânico. Não há tanto a perder,
24 afinal, e o que se ganha fica visível de outra forma.
25    Mulheres lindas de na...ença talvez sofram mais para aceitar com tranquilidade o desgaste
26 da própria aparência. E as apaixonadas por obras, essas nem querem saber: têm conta nas
27 clínicas de estética e trocam de pele como quem troca de tapete. Não posso garantir que um dia
28 não venha também a ceder meu corpo a reformas (mesmo o corpo sendo uma casa provisória:
29 não o deixaremos de herança para ninguém). Mas ainda prefiro defender a tese de que o tempo
30 costuma, sim, deixar tudo mais bonito. É quando a dignidade prevalece.
31    Alterações físicas nos abalam, mas devemos reagir a elas com calma, sem exagerar na
32 camuflagem. Nada adianta fazermos das nossas casas – corpo e residência – lugares belos para
33 se fotografar, mas que dão a impressão de não haver nenhum morador dentro.

01    A relação positiva entre arte e excelência na educação está amplamente comprovada por
02 estudos como o de James Catterall (1948-2017), professor da Universidade da Califórnia
03 (UCLA), que dedicou boa parte da sua vida para analisar pesquisas que provam como as artes
04 desenvolvem a cognição do indivíduo, habilidade aplicável .... qualquer outra área do
05 conhecimento.
06    Ana Mae Barbosa, uma das maiores especialistas brasileiras no tema, em artigo publicado
07 em 2018, mostrou <b>que</b> a introdução das artes nos Ensinos Fundamental e Médio nos Estados
08 Unidos, no programa conhecido como Stem (Science, Technology, Engineering and
09 Mathematics), melhorou significativamente o fraco desempenho em ciências dos estudantes
10 norte-americanos.
11    Por que menciono isso em meio .... uma tempestade provocada pela pandemia que deixou
12 mais de 5,5 milhões de crianças e jovens brasileiros sem aulas em 2020 e, segundo estudo
13 recente, divulgado pelo Todos pela Educação, 244 mil crianças e jovens entre 6-14 anos sem o
14 direito .... educação?
15    Primeiro, o modelo fordista de escola precisa mudar. A pandemia acelerou um debate que
16 se arrasta há anos, _____ da necessidade de olharmos para um sistema de ensino-
17 aprendizagem que não responde mais ao tempo em que vivemos, e que faz as crianças e jovens
18 de hoje, como seus pais, avós e bisavós, irem aos bancos escolares com pouca ou nenhuma
19 motivação para enfrentarem o dia de estudos.
20    Além do modelo híbrido, é preciso aprofundar o que queremos das escolas; qual ambiente
21 físico melhor acolhe e estimula em uma era de uso exacerbado das tecnologias; se as didáticas
22 e práticas que discutimos incentivam a cooperação, a criatividade e a resolução de problemas;
23 ou se ainda estamos presos em um sistema que contribui para a evasão e o desinteresse.
24    Como a cultura pode contribuir para a mudança? E como pode cooperar com o
25 desenvolvimento de jovens mais preparados?
26    Primeiro, arte e cultura são ferramentas de extrema importância para o conhecimento e a
27 educação de qualidade. Segundo, a produtividade do país depende de formação continuada, e
28 o motor econômico no século 21 é a economia do conhecimento, impulsionada pelo
29 investimento em inovação e, no ensino das ciências básicas, pelo acesso e pelo
30 desenvolvimento das tecnologias e pelos setores das artes, do design, da gastronomia, da
31 moda, do entretenimento e de todo o conjunto das chamadas indústrias criativas.
32    No meio das várias crises que temos vivenciado, ___ algumas oportunidades que podemos
33 aproveitar. Contudo, para algo acontecer é preciso um plano orientado de trabalho –
34 pedagógico, mas também de governança – e o engajamento do sistema cultural, que enfrenta
35 dificuldades combinadas, mas apresenta resiliência e uma boa rede básica de gestão.
36    Entretanto, abrir um diálogo com as secretarias de educação e organizar uma oferta a
37 partir da sua rede de programas e instituições, é algo que pode ser feito de imediato. Uma
38 saída complementar é envolver fundações e institutos de educação e cultura que reúnam
39 especialistas das áreas para elaborar as bases de um Plano de Arte e Cultura. Uma bússola
40 inicial que oriente os _______ para um processo de implantação.
41    O importante é começar.

Questões de Formação e estrutura das palavras - Morfologia