o ponto de vista do narrador, que não compraria uma 
casa naquele lugar.

a confirmação de que se trata de um lugar inadequado para viver.

um pensamento preconceituoso que se pode atribuir 
aos donos da casa.

a conclusão acertada do narrador de que há muitos 
bairros cercados de favelas.

um julgamento improcedente, haja vista a invasão 
sofrida.

O trecho destacado na questão retrata uma visão crítica das favelas e suas consequências na paisagem de uma residência de alto padrão. Ao analisarmos as alternativas fornecidas, podemos identificar mais claramente qual encapsula melhor a essência do texto do ponto de vista literário e narrativo.

<ul>
<li>Alternativa A) interpõe que a frase reflete o ponto de vista do narrador, que não compraria uma casa naquele local. No entanto, o trecho citado do texto sugere ser um sentimento dos proprietários da casa, não necessariamente a perspectiva pessoal do narrador.</li>
<li>Alternativa B) sugere que o trecho confirma a inadequação do local para se viver. Contudo, essa interpretação é genérica demais e não capta a especificidade do conflito sociocultural expresso entre a residência luxuosa e a paisagem de favela semi-incorporada ao cenário.</li>
<li>Alternativa C) identifica o pensamento como preconceituoso e sendo associado aos donos da casa. Essa é a alternativa que mais diretamente se alinha ao texto com sua descrição da percepção dos donos acerca da favela "comprometendo" a paisagem, apontando para pré-julgamentos sociais e estéticos.</li>
<li>Alternativa D) indica que a conclusão do narrador é que há muitos bairros cercados de favelas, o que é uma dedução muito ampla e que não emerge diretamente do trecho citado nem da dinâmica entre os personagens e o espaço descrito.</li>
<li>Alternativa E) argumenta que o julgamento é improcedente porque a invasão é um ato isolado. Entretanto, isso não aborda adequadamente a carga preconceituosa e estética expressa no texto e sua relação com os sentimentos dos donos da casa.</li>
</ul>

Portanto, a alternativa C é a mais acurada no que se refere ao tom e à intenção do trecho citado, ao evidenciar como o pensamento dos donos reflete preconceitos sociais e estéticos, condizendo plenamente com a narrativa apresentada. Assim, a alternativa correta é C.

Era uma esplêndida residência, na Lagoa Rodrigo de 
Freitas, cercada de jardins e tendo ao lado uma bela piscina. 
Pena que a favela, com seus barracos grotescos se alastran-
do pela encosta do morro, comprometesse tanto a paisagem.
Diariamente desfilavam diante do portão aquelas mulhe-
res silenciosas e magras, lata d’água na cabeça. De vez em 
quando surgia sobre a grade a carinha de uma criança, olhos 
grandes e atentos, espiando o jardim. Outras vezes eram as 
próprias mulheres que se detinham e ficavam olhando.
Naquela manhã de sábado ele tomava seu gim-tônica no 
terraço, e a mulher um banho de sol, estirada de maiô à beir a 
da piscina, quando perceberam que alguém os observava 
pelo portão entreaberto.
Era um ser encardido, cujos molambos em forma de saia 
não bastavam para defini-la como mulher. Segurava uma lata 
na mão, e estava parada, à espreita, silenciosa como um 
b icho. Por um instante as duas mulheres se olharam, sepa-
radas pela piscina.
De súbito pareceu à dona da casa que a estranha cria-
tura se esgueirava, portão adentro, sem tirar dela os olhos. 
Ergueu-se um pouco, apoiando-se no cotovelo, e viu com 
terror que ela se aproximava lentamente: já transpusera o 
gramado, atingia a piscina, agachava-se junto à borda de 
azulejos, sempre a olhá-la, em desafio, e agora colhia água 
com a lata. Depois, sem uma palavra, iniciou uma cautelosa 
retirada, meio de lado, equilibrando a lata na cabeça – e em 
pouco sumia-se pelo portão.
Lá no terraço o marido, fascinado, viu toda a cena. Não 
durou mais de um ou dois minutos, mas lhe pareceu sinistra 
como os instantes tensos de silêncio e de paz que antece-
dem um combate.
Não teve dúvida: na semana seguinte vendeu a casa.

destaca contrastes sociais, contrapondo signos de 
pobreza e de riqueza.

mostra simpatia pelo modo de vida confortável dos 
abastados.

condena a atitude discriminatória da dona da piscina.

emprega termos depreciativos para expressar seu 
desagrado com a invasora.

ironiza a miséria dos favelados, ao compará-los a 
bichos à espreita.

A cena descrita no excerto de Piscina demonstra claramente a habilidade do narrador em realçar os contrastes sociais ao apresentar personagens e espaços tão distintos na mesma moldura narrativa. As imagens de uma residência opulenta na Lagoa Rodrigo de Freitas, com uma bela piscina, são contrastadas com a favela próxima, retratada por meio de barracos "grotescos". Esse jogo de contrastes está muito bem ilustrado do início ao fim do trecho.

<ul>
<li>A) destaca contrastes sociais, contrapondo signos de pobreza e de riqueza. 
Esta alternativa é a mais adequada, considerando que o texto coloca em contraposição a riqueza da casa e da piscina contra a pobreza da mulher da favela que busca água na piscina dos ricos. Essa contraposição é uma marca literária significativa que intensifica a crítica social inerente ao texto.</li>

<li>B) mostra simpatia pelo modo de vida confortável dos abastados. 
Não há elementos claros no texto que indiquem uma simpatia particular do narrador pelo estilo de vida dos abastados. O que se observa está mais relacionado ao contraste social.</li>

<li>C) condena a atitude discriminatória da dona da piscina. 
O texto não fornece elementos suficientes para afirmar que há uma explícita condenação da atitude da dona da casa, embora o episódio revele um desconforto desta com a presença da mulher da favela.</li>

<li>D) emprega termos depreciativos para expressar seu desagrado com a invasora. 
Embora termos como "encardido" e "molambos" possam carregar um tom pejorativo, eles servem mais para ressaltar os contrastes sociais e a marginalização, do que para expressar um desagrado pessoal do narrador com a personagem.</li>

<li>E) ironiza a miséria dos favelados, ao compará-los a bichos à espreita. 
Não há uma ironia explícita quanto à miséria. A comparação com "bichos" pode enfatizar o olhar de outrem sobre a figura marginalizada, mas não constitui uma ironia sobre a favela.
</li></ul>

A alternativa correta é A.

burlescas e tratarem de temas metafísicos.

empoladas e desenvolverem teses filosóficas.

classicistas e reproduzirem estereótipos burgueses.

incompletas e atacarem a tradição acadêmica.

regionalistas e terem a Itália como cenário.

As obras Escorpião e Félix e Oulanem, criadas por Karl Marx durante sua juventude, refletem aspectos significativos que, embora diferentes do seu corpus teórico posterior, já demonstram uma crítica pontual a elementos da sociedade de seu tempo. Analisando cada uma das alternativas fornecidas, observamos:

<ul>
 <li>A) burlescas e tratarem de temas metafísicos. Incorreta, pois não há indicação explícita no texto de que estas obras lidem com questões metafísicas, sendo mais focadas na sátira social e crítica às convenções burguesas.</li>
 <li>B) empoladas e desenvolverem teses filosóficas. Incorreta, dado que as obras são descritas como satire e attacks on bourgeois conventions, e não como desenvolvimentos de teses filosóficas profundas.</li>
 <li>C) classicistas e reproduzirem estereótipos burgueses. Incorreta, visto que, ao contrário, as obras são uma dissolução dos lugares comuns do classicismo e da literatura da época.</li>
 <li>D) incompletas e atacarem a tradição acadêmica. Correta, pois o texto confirma que as obras eram inacabadas e continham críticas às normas e formalismos intelectuais do tempo, alinhando-se com as referências sobre interesse de Marx na ruptura com as tradições estabelecidas.</li>
 <li>E) regionalistas e terem a Itália como cenário. Incorreta, Majoritariamente, as obras abordam elementos da cultura alemã da época e não estão centradas exclusivamente na Itália ou em regionalismos.</li>
</ul>

A alternativa D é precisa ao descrever os textos de Marx como incompletos e críticos da tradição acadêmica, enfatizando seu descontentamento com os pedantismos e as restrições intelectuais de seu tempo. Esses escritos, embora não tão conhecidos quanto suas futuras teorias econômicas e políticas, já mostram sua predisposição para rejeitar o status quo.

A alternativa correta é D.

É preciso levar a sério a filha de Marx, Eleanor, quando
disse que seu pai “era o mais alegre e divertido de todos os
homens”. Em outubro de 1837, com apenas dezenove anos,
o jovem Karl compôs uma peça de teatro e um breve romance
satírico, inacabados, nos quais ridiculariza e condena as convenções
burguesas, o moralismo filisteu, a aristocracia e o
pedantismo intelectual.
Naquele ano, por indicação médica – pois adoecera
por excesso de trabalho –, Marx deixou Berlim e estabeleceu-
se,
para repousar, em Stralow, uma vila de pescadores.
Mas, em vez do descanso, optou por trabalhar intensamente.
Foi nesse momento que escreveu as duas operetas
contidas no livrinho que a Boitempo oferece agora aos leitores
brasileiros: Escorpião e Félix e Oulanem.
Essas pequenas obras remetem à atmosfera cultural
da Alemanha no período posterior ao Congresso de Viena,
com a rejeição romântica do classicismo e a grande difusão
da obra de Laurence Sterne, principalmente do seu Tristram Shandy. Esse romance, publicado entre 1759 e 1767, cobre
de ridículo os estereótipos literários então dominantes. É dessa
fonte literária, além de pitadas de E. T. A. Hoffmann, que
o jovem Karl bebe em seu romance Escorpião e Félix, dissolvendo
os lugares comuns narrativos num divertido desprezo
pela lisura formal do romance clássico. Já Oulanem é um
drama fantástico em versos, um suspense gótico. Na criação
desse poema-tragédia, ambientado numa aldeia na Itália, o
jovem filósofo estava sob a influência dominante de Goethe
e, sob essa luz, delineava sua visão da história e sua ideia
de que o mundo precisava ser completamente revolucionado.
Esse Karl ainda não é o Marx que conhecemos melhor,
mas são claros os indícios do futuro filósofo materialista que
despontam.

Questões de Fundação Vunesp - Literatura - 2019