Morria-se praticamente de tudo. / De doença, de parto, de tosse. (versos 9 e 10)

1907, digamos, aquilo sim / é que era morrer. (versos 2 e 3)

E ainda se morria de amor, / como se o amar morte fosse. (versos 11 e 12)

Almoçou e fez a barba, / tomou banho e foi no vento. (versos 47 e 48)

O escândalo era de praxe. / Mas os danos eram pequenos. (versos 21 e 22)

O enunciado da questão requer a identificação de onde o eu lírico expressa-se de maneira explícita no poema. Analisemos as alternativas propostas.

<ul>
<li>A) Morria-se praticamente de tudo. / De doença, de parto, de tosse. (versos 9 e 10): Esses versos fornecem informações que descrevem as causas comuns de morte na época mencionada no poema. No entanto, eles são observações gerais, sem uma manifestação explícita de sentimentos ou pensamentos pessoais do eu lírico.</li>

<li>B) 1907, digamos, aquilo sim / é que era morrer. (versos 2 e 3): Estes versos claramente indicam a voz do eu lírico fazendo uma avaliação pessoal sobre a época em questão. Ele emprega uma expressão que destaca sua opinião pessoal sobre como era considerada a morte naquele ano, indicando uma presença expressa da sua voz.</li>

<li>C) E ainda se morria de amor, / como se o amar morte fosse. (versos 11 e 12): Apesar de haver uma certa poeticidade nestes versos, eles descrevem uma percepção sobre morrer de amor de uma forma mais geral, sem uma explícita manifestação do eu lírico além da descrição de uma situação.</li>

<li>D) Almoçou e fez a barba, / tomou banho e foi no vento. (versos 47 e 48): Estes versos são descritivos sobre atividades de um dia comum e não incluem um reflexo pessoal que expressaria explicitamente os pensamentos ou emoções do eu lírico.</li>

<li>E) O escândalo era de praxe. / Mas os danos eram pequenos. (versos 21 e 22): Aqui também há uma avaliação situacional sobre como eram interpretados certos eventos naquela época, mas sem o eu lírico expressar diretamente seu sentimento ou pensamento pessoal.</li>
</ul>

Levando em conta os aspectos mencionados, o trecho que de fato revela uma manifestação explícita do eu lírico, em que ele pessoalmente avalia uma condição de época, é aquele encontrado na alternativa B. Esta escolha destaca a sua opinião ou sensação pessoal relacionada com o ato de morrer em 1907.

A alternativa correta é B.

1 Antigamente, se morria.
 1907, digamos, aquilo sim
 é que era morrer.
 Morria gente todo dia,
 e morria com muito prazer,
 já que todo mundo sabia
 que o Juízo, afinal, viria,
 e todo mundo ia renascer.
 Morria-se praticamente de tudo.
10 De doença, de parto, de tosse.
 E ainda se morria de amor,
 como se o amar morte fosse.
 Pra morrer, bastava um susto,
 um lenço no vento, um suspiro e pronto,
 lá se ia nosso defunto
 para a terra dos pés juntos.
 Dia de anos, casamento, batizado,
 morrer era um tipo de festa,
 uma das coisas da vida,
20 como ser ou não ser convidado.
 O escândalo era de praxe.
 Mas os danos eram pequenos.
 Descansou. Partiu. Deus o tenha.
 Sempre alguém tinha uma frase
 que deixava aquilo mais ou menos.
 Tinha coisas que matavam na certa.
 Pepino com leite, vento encanado,
 praga de velha e amor mal curado.
 Tinha coisas que tem que morrer, 
30 tinha coisas que tem que matar.
 A honra, a terra e o sangue
 mandou muita gente praquele lugar.
 Que mais podia um velho fazer,
 nos idos de 1916,
 a não ser pegar pneumonia,
 deixar tudo para os filhos
 e virar fotografia?
 Ninguém vivia pra sempre.
 Afinal, a vida é um upa.
40 Não deu pra ir mais além.
 Mas ninguém tem culpa.
 Quem mandou não ser devoto
 de Santo Inácio de Acapulco,
 Menino Jesus de Praga?
 O diabo anda solto.
 Aqui se faz, aqui se paga.
 Almoçou e fez a barba,
 tomou banho e foi no vento.
 Não tem o que reclamar.
50 Agora, vamos ao testamento.
 Hoje, a morte está difícil.
 Tem recursos, tem asilos, tem remédios.
 Agora, a morte tem limites.
 E, em caso de necessidade,
 a ciência da eternidade
 inventou a criônica.
 Hoje, sim, pessoal, a vida é crônica.

 emancipação plena dos pressupostos programáticos dos modernistas de 22.

 afirmação pessoal de impulsos expressivos que transbordam de qualquer moderação.

 plataforma irracionalista voltada para a recuperação de mitos primitivos.

 superação de hábitos burgueses parodiados por meio de tipos tradicionais.

 projeção de uma linguagem poética refratária a mistificações irracionais.

Na análise do poema "Poética" de Manuel Bandeira, é essencial reconhecer a busca do poeta por uma forma de expressão que ultrapasse os moldes convencionais e toque nas raízes mais profundas das emoções humanas. Os versos citados no enunciado evidenciam uma preferência pela espontaneidade e pela intensidade emotiva, características que Bandeira vê representadas nos "loucos", "bêbados" e "clowns de Shakespeare".
<ul>
<li>A) A emancipação em relação aos pressupostos modernistas de 1922, embora presente em muitos aspectos do modernismo nacional, não captura totalmente o espírito desses versos específicos de Bandeira. Ele, mais do que rejeitar uma técnica, busca voz para a urgência expressiva às margens do racional e do formalmente aceitável.</li>
<li>B) Correta. A afirmação pessoal de impulsos expressivos que transbordam de qualquer moderação reflete a essência dos versos do poema "Poética". Nesta seleção, Bandeira valoriza um lirismo que rompe com as restrições para acessar uma genuinidade explosiva e visceral, uma libertação através da poesia.</li>
<li>C) A ideia de uma plataforma irracionalista focada na recuperação de mitos primitivos não é central nesse contexto da obra de Bandeira. Seu lirismo mencionado é mais um clamor pelo desregramento expressivo do que um retorno aos fundamentos arcaicos ou primitivos.</li>
<li>D) Embora Bandeira critique certas normas sociais, os versos não se concentram na superação de hábitos burgueses, mas sim em expressões de liberdade individual que rompem com padrões de sensibilidade e expressão.</li>
<li>E) A liberação de mistificações irracionais, apesar de poder ser uma interpretação intrigante, não se alinha diretamente com os versos que demonstram a busca por uma emoção e expressividade pura, além do racional e do convencional.</li>
</ul>
Portanto, a alternativa correta é B, expondo a busca de Bandeira por uma expressão poética totalmente desvinculada de moderações, algo que ele encontra na intensidade descontrolada dos "loucos" e "bêbados", e nas peculiares figuras dos clowns shakespearianos.

Fundamentação:

Para responder à questão específica que se refere ao poema "Morte do leiteiro" de Carlos Drummond de Andrade, é essencial reconhecer as características literárias e movimentos envolvidos.

No fragmento específico do poema, temos uma representação sócio-política marcada por "Há no país uma legenda, que ladrão se mata com tiro.", revelando a crueldade e aceitação da violência como forma de justiça. Essa característica se aproxima dos ideais do condoreirismo, uma vertente do Romantismo brasileiro também conhecida como "poesia social", onde se destaca o engajamento em temas políticos e sociais através de uma linguagem emotiva e impactante. Tradicionalmente, autores como Castro Alves escreveram nas linhas dessa tendência, expondo injustiças como a escravidão.

Análise das alternativas:

<ul>
<li>A) Condoreirismo: Evidencia o engajamento político e a luta por justiça social. A correta, visto que o texto de Drummond apresenta uma crítica social embebida em uma narrativa poética.</li>
<li>B) Neoclassicismo: Caracterizado pelo apreço às formas clássicas e pela valorização da razão e da ordem, não encaixa bem com a temática do fragmento analisado, que trata do uso arbitrário de violência e justiça social.</li>
<li>C) Ultrarromantismo: Enfatiza o individualismo, melancolia e uma fuga da realidade, e embora contemple questões emotivas, não foca diretamente na crítica social como principal mensageiro de seu conteúdo.</li>
<li>D) Parnasianismo: Focado na perfeição formal e beleza estética descompromissada com engajamentos sociais, claramente distante do conteúdo discutido no poema de Drummond.</li>
</ul>

Ao considerar o laço de Drummond com a modernidade e a sua capacidade de abordar temas sociais em suas obras, assim como a questão do poema que toca diretamente em práticas sociais violentas e punitivas avaliadas de forma crítica, a conexão com o sentimento político e crítico do Condoreirismo é pertinente, mesmo que Drummond mesmo seja um poeta moderno e não um romântico.

A alternativa correta é A).

<center>Considere os dois fragmentos abaixo, retirados do poema “Morte do leiteiro”, de Carlos Drummond de Andrade, e responda a questão.</center>

Há pouco leite no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há muita sede no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há no país uma legenda,
que ladrão se mata com tiro.
Então o moço que é leiteiro
de madrugada com sua lata
sai correndo e distribuindo
leite bom para gente ruim.
Sua lata, suas garrafas
e seus sapatos de borracha
vão dizendo aos homens no sono
que alguém acordou cedinho
e veio do último subúrbio
trazer o leite mais frio
e mais alvo da melhor vaca
para todos criarem força
na luta brava da cidade.
[...]

Mas este acordou em pânico
(ladrões infestam o bairro),
não quis saber de mais nada.
O revólver da gaveta
saltou para sua mão.
Ladrão? se pega com tiro.
Os tiros na madrugada
liquidaram meu leiteiro.
Se era noivo, se era virgem,
se era alegre, se era bom,
não sei,
é tarde para saber.

No poema "Morte do leiteiro" de Carlos Drummond de Andrade, observamos a complexidade das interações sociais e preconceitos entrelaçados nos fragmentos citados. Analisemos as alternativas propostas:

<ul>
<li>A) digressão: Digressão é um desvio momentâneo do assunto principal para tratar de algo relacionado, mas que não é o foco. No poema, tudo se mantém conectado ao tema central, o que descarta essa opção.</li>

<li>B) animalização: Animalização envolve atribuir características de animais a humanos. No texto, não encontramos tal figura de linguagem, portanto, essa alternativa também não é correta.</li>

<li>C) pressuposição: A pressuposição seria uma suposição feita antes de um argumento ou história principal, geralmente assumida como verdades. Apesar de no poema existir uma certa suposição cultural de que "ladrão se mata com tiro", essa expressão está mais relacionada à representação de múltiplas vozes caracterizadas pelo autor.</li>

<li>D) polifonia: Polifonia, neste contexto literário, refere-se à coexistência de múltiplas vozes e perspectivas dentro de um mesmo texto. No poema, o verso "que ladrão se mata com tiro" indica a presença de uma visão socialmente consolidada que o autor incorpora como uma das 'vozes' na narrativa, sem necessariamente expressar o seu ponto de vista pessoal. Isso qualifica o texto como polifônico, dado que espelha a complexidade e diversidade de percepções dentro de uma sociedade.</li>
</ul>

Desde uma visão mais ampla, a polifonia no poema de Drummond destaca o conflito e confusão gerados pelas normas não oficiais e pela cultura de violência, tornando a morte do leiteiro um exemplo trágico dos mal-entendidos que podem surgir dessas múltiplas vozes sociais.

A alternativa correta é D.

Questões de Literatura - Poema