O esforço de agrupamento dos escritores modernistas, especialmente visível na Semana de Arte Moderna de 1922, era caracterizado por uma forte busca pela renovação da expressão artística e literária em contraposição às tendências conservadoras da época. Este movimento estava intimamente ligado às vanguardas europeias, que influenciaram os caminhos da arte e literatura brasileiras.

Contudo, ao abordarmos a literatura brasileira contemporânea, é necessário considerar que essa tendência de formação de grupos com nítidos projetos coletivos baseados nas vanguardas europeias não se mantém com a mesma intensidade. A literatura contemporânea brasileira é marcada por uma diversidade de vozes e estilos, e embora existam grupos e coletivos literários, eles não possuem a mesma uniformidade ideológica e estética das vanguardas do início do século XX. Cada autor contemporâneo pode explorar temáticas variadas e adotar differentes abordagens formais, o que faz com que a produção literária atual seja heterogênea.

Desse modo, a afirmação de que escritores contemporâneos retomam diretamente os projetos das vanguardas europeias quanto à pesquisa formal e temática não se sustenta, por isso a alternativa "Certo" não é apropriada. Os escritores contemporâneos podem até être influenciados por diversas fontes, incluindo as vanguardas, mas isso ocorre de maneira muito mais individual e menos coletiva e homogênea.

A alternativa correta é E.

Assim como ocorria no Modernismo, parte significativa dos escritores da literatura brasileira contemporânea organiza-se em grupos que retomam projetos construídos pelas vanguardas europeias no que tange à pesquisa formal e temática.


    Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa.
Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.
    Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, até o canário ficou mudo. Não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam. Ficava só, sem o perdão de sua presença, última luz na varanda, a todas as aflições do dia.
    Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate — meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa. Calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor.


Considerando o texto acima, bem como as tendências temáticas e formais da literatura brasileira contemporânea, julgue o item a seguir.


O conto apresentado expõe de maneira profunda a vivência e impacto do cotidiano na vida do narrador, destacando sentimentos e detalhes pequenos, porém significativos, que mudam com a ausência de uma figura importante. A literatura contemporânea brasileira frequentemente explora o tema da trivialidade cotidiana, utilizando-se de eventos e detalhes do dia a dia para revelar mais profundas emoções e realidades humanas.



O foco em experiências cotidianas como a rotina de cuidados pessoais e domésticos que se desestruturam na ausência da Senhora, como mostrado nos detalhes do leite que coalha e do cuidado com as plantas que se perde, são reflexos de um dos principais eixos temáticos da prosa contemporânea que explora o doméstico e o pessoal como espaço de narrativa significativa.



Este recurso literário é interessante pois aproxima o leitor da história, tornando-a relatable e verossímil, ao mesmo tempo que permite explorar a complexidade dos sentimentos e relações humanas que são afetadas por essas mudanças cotidianas. Além disso, a maneira como o texto é construído, refletindo sobre a falta e a memória por meio de objetos e rotinas diárias, solidifica essa abordagem.



Portanto, o item avaliado como certo de acordo com a proposta da questão é uma validação deste tema, corretamente identificando a apresentação de acontecimentos da vida cotidiana como um aspecto recorrentemente explorado na literatura contemporânea.


a alternativa correta é C

Nesse conto, são apresentados acontecimentos da trivialidade cotidiana, o que ocorre frequentemente na prosa e na poesia contemporâneas.


O enunciado apresenta uma análise de recursos estilísticos dentro de um exemplo textual, relacionando a estética literária de Dalton Trevisan e tendências gerais da literatura contemporânea brasileira. Vamos verificar a precisão dessa caracterização.

<ul>
<li>Frases curtas: Apesar de serem notáveis no texto apresentado, consistem em um traço estilístico frequentemente utilizado por Dalton Trevisan, sendo parte de seu estilo enxuto e direto. No entanto, afirmar que frases curtas caracterizam de forma generalizada a literatura brasileira contemporânea seria um excesso, uma vez que esta varia amplamente em estilo e forma, dependendo do autor e das particularidades de cada obra.</li>

<li>Rejeição das digressões: O trecho do texto realmente sugere um foco nas ações e sentimentos imediatos, sem digressões extensivas. Esse também é um aspecto comum nas obras de Trevisan, mas novamente, não é uma característica onipresente na literatura brasileira contemporânea, uma vez que outros autores podem empregar digressões de forma intencional e significativa.</li>

<li>Uso da ironia: No texto apresentado, a ironia pode ser interpretada sutilmente no contraste entre a suposta autossuficiência inicial do narrador e sua crescente desordem e desespero. Contudo, não é uma técnica restrita a Trevisan nem dominante na literatura contemporânea como um todo.</li>

<li>Apelo ao fluxo de consciência: O texto evoca uma espécie de monólogo interior, uma marca da técnica de fluxo de consciência. Esta técnica, embora usada por Trevisan, é mais identificável com outros autores modernistas e contemporâneos em contextos específicos, não sendo um elemento definidor da literatura brasileira contemporânea em geral.</li>
</ul>

Portanto, o texto em questão reflete de fato algumas características comuns nas obras de Dalton Treivan, porém estender essas características para a literatura brasileira contemporânea de maneira abrangente e definitiva é um equívoco. Estilos literários contemporâneos são diversos e não podem ser encapsulados por um único conjunto de técnicas e temáticas, mesmo quando essas podem ser evidentes em determinados autores.

A alternativa correta é E.

O emprego de frases curtas, a rejeição das digressões, o uso da ironia e o apelo ao fluxo de consciência caracterizam não somente esse conto, como também a obra de Dalton Trevisan como um todo e parte significativa da produção ficcional brasileira contemporânea.


O enunciado da questão remete ao romance Vidas Secas de Graciliano Ramos, pedindo para avaliar se o inverno mencionado na obra é caracterizado por maior aridez. Analisando o trecho disponibilizado e o contexto geral da obra, entendemos que o inverno é, na verdade, um período de chuvas na região da caatinga, contradizendo a ideia de aridez apresentada na alternativa.

No romance, o inverno é representado como um momento de alívio e renovação para a família sertaneja protagonista, que consegue um respiro depois de uma longa estação de seca. O termo 'inverno' no contexto do semiárido nordestino refere-se à estação chuvosa, extremamente esperada e celebrada pelos habitantes da região.

Assim, quando se fala desse 'inverno', não se está discutindo um aumento da aridez, mas precisamente o oposto: a presença de chuvas que revigora a terra e traz esperanças aos seus habitantes. O período de inverno é essencial para a realização das atividades agrícolas e para a manutenção da biodiversidade local.

A confusão pode surgir pela nomenclatura 'inverno' que, em outras regiões, pode ser associada à frieza e secura, mas no contexto do semiárido brasileiro, representa a época mais úmida do ano. É fundamental reconhecer essa especificidade regional para uma compreensão adequada da obra e de seu ambiente.

Portanto, a alegação de que o inverno descrito em Vidas Secas é marcado por maior aridez está incorreta, conforme a própria descrição da obra de Graciliano Ramos e do entendimento climático do Nordeste brasileiro.

A alternativa correta é E.

O inverno de que trata o romance Vidas Secas é caracterizado por maior aridez.

O termo “refugiado ambiental” é utilizado para se referir às pessoas que fogem de onde vivem, em razão de problemas como seca, erosão dos solos, desertificação, inundações, desmatamento, mudanças climáticas, entre outros. A migração causada por eventos climáticos não é nova, mas tende a intensificar-se. O tema é bastante atual, mas, na obra Vidas Secas, o escritor Graciliano Ramos já tratava, embora com outras palavras, dos refugiados do clima do semiárido brasileiro.

 Vidas Secas não é um romance de seca, no entanto. A centralidade dessa obra literária está em um “ano bom”, ou seja, um ano de chuvas na caatinga. O sétimo capítulo, localizado bem no centro da obra, composta por 13 capítulos, é intitulado “Inverno”, o que remete ao período de chuvas na região. Essa visão contraria certa leitura superficial da obra.

 Graciliano Ramos acreditava em um mundo com mais justiça social e menos desigualdades no Nordeste, para o que era necessário transformar o modelo de sociedade extremamente perverso que caracterizava as relações sociais no meio rural.

 Ao mostrar a vida da uma família de sertanejos durante um ano de “inverno”, com relativa segurança e estabilidade, o escritor alagoano questionou as relações sociais excludentes e tensivas, que impediam essa família de viver com mais estabilidade no Nordeste brasileiro.

 Na obra, quando a família ocupou uma fazenda abandonada, no fim de uma seca, o vaqueiro parecia satisfeito.
Mas suas esperanças esmoreceram, pois as chuvas vieram e, com elas, também o proprietário da fazenda, sob o domínio do qual o vaqueiro passou a viver, sendo humilhado, enganado, animalizado.

 Somente com muita insistência, Fabiano conseguiu ficar trabalhando ali como vaqueiro. Moraria com a família pouco “mais de um ano” numa “casa velha” da fazenda.

 Para o escritor de Vidas Secas, a opressão à família de Fabiano era causada por questões sociais, não pela seca. Caso tivesse acesso à terra e à água, a família conseguiria obter o sustento, como resultado do seu esforço e trabalho.

 A condição climática natural da caatinga era instrumentalizada pelos latifundiários para a exploração de uma população extremamente vulnerável à seca, como era o caso da família de Fabiano e sinhá Vitória.

 A concentração fundiária era, e continua sendo, uma das formas mais perversas de impedir a autonomia dos pequenos produtores rurais do semiárido brasileiro. O romance denuncia a realidade social dos sertanejos pobres que viviam no Nordeste da época, cujo cotidiano era marcado pela opressão, humilhação, miséria, espoliação econômica e extremas privações, sobretudo nos períodos de seca.

Com relação às ideias do texto 2A2-I, julgue o item seguinte.


Com base no texto apresentado, julgue o item.


Nesse texto, tem-se um narrador-observador.


Questões de Literatura - Verdadeiro ou falso