A questão trata da substituição da preposição que acompanha o verbo "contar" na expressão "a diferença de renda entre quem conta e quem não conta com saneamento básico", buscando a forma correta para quando esse verbo for substituído.

Observemos que o verbo “contar” na expressão “contar com” exige a preposição com, tendo o sentido de “dispor de”, “ter à disposição”. Assim, a locução verbal “contar com saneamento básico” significa “dispor de saneamento básico”.

Ao substituir o verbo “contar” por outro verbo, é importante analisar a regência verbal, isto é, qual preposição cada verbo exige quando vinculado ao complemento.

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<li>A) Dispor: o verbo “dispor” exige a preposição de. Diga-se, por exemplo, “dispor de recursos”, “dispor de informações”. Portanto, a locução adequada seria “quem dispõe de saneamento básico”. Esta forma é gramaticalmente correta e natural.</li>
<li>B) Possuir: o verbo “possuir” é transitivo direto, ou seja, não requer preposição. Diz-se “possuir saneamento básico”, e não “possuir de saneamento básico”. Logo, a substituição por “possuir” não justifica a troca da preposição para “de”.</li>
<li>C) Usar: o verbo “usar” também é transitivo direto e não exige preposição. Nomeadamente “usar saneamento básico” não é correto, pois saneamento não é algo que se use diretamente. Além disso, não se emprega “usar de” em sentido semelhante.</li>
<li>D) Tem: o verbo “ter” é transitivo direto, não leva preposição. Portanto, “ter saneamento básico” está correto, sem preposição. A troca para “de” não é compatível.</li>
<li>E) Recorrer: o verbo “recorrer” exige a preposição a, como em “recorrer a tratamentos”, “recorrer a recursos”. Logo, a preposição não poderia ser “de”.</li>
</ul>

Resumo: apenas o verbo “dispor” exige preposição “de”, substituindo adequadamente, na frase, a expressão “contar com”. Assim, a reescrita correta com preposição “de” ocorre com o verbo “dispor”.

Alternativa Correta:
A alternativa correta é a letra A, pois o verbo “dispor” exige a preposição “de” e mantém o sentido original da expressão.

Gabarito: Letra A

A falta de saneamento básico no Brasil faz com que 6,6 milhões de crianças de zero a seis anos, a chamada primeira infância, afastem-se de suas atividades, de acordo com o estudo Futuro em risco: efeitos da falta de saneamento na vida de grávidas, crianças e adolescentes, divulgado recentemente pelo Instituto Trata Brasil. Esse contingente de crianças, que equivale à população do Paraguai, segue sendo negligenciado na fase da vida que é, segundo múltiplas evidências nacionais e internacionais, determinante para um futuro digno.
 Sem acesso a esgoto tratado e a creches, ou às vezes sem poder frequentar a creche, quando esta existe, justamente porque falta saneamento na região em que vivem, parte significativa das crianças brasileiras cresce com uma herança nefasta, traduzida por uma renda 46,1% menor na idade adulta, de acordo com o estudo. Considerando-se um período de 35 anos de atuação profissional, a diferença de renda entre quem conta e quem não conta com saneamento básico é de mais de R$ 126 mil, montante nada trivial em um país tão desigual quanto o Brasil.
 O estudo do Trata Brasil radiografa uma série de efeitos nefastos que vão se acumulando na vida de quem não conta com saneamento na primeira infância. Sem água tratada ou banheiro, crianças de 11 anos têm dificuldade para identificar as horas em um relógio ou para calcular o valor de um troco, habilidades básicas e extremamente necessárias no dia a dia. E esse é apenas um exemplo do quanto a falta do mínimo trava a capacidade de aprendizado e, por consequência, de ascensão social. Crianças que viveram a primeira infância em condições precárias de saneamento chegam à segunda infância (7 a 11 anos) com sequelas no desenvolvimento e têm notas sensivelmente mais baixas em avaliações como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Não é surpresa, então, que jovens de 19 anos sem acesso a saneamento tenham, em média, atraso de 1,8 ano na escolaridade.
 Garantir acesso à água e ao esgoto tratados, bem como à educação, é o melhor investimento que o País pode fazer em nome do bem-estar da população brasileira e de seu próprio futuro. Sem esgoto tratado, milhões de brasileiros estão expostos a enfermidades que deveriam pertencer ao passado, sobrecarregando e onerando o sistema de saúde, faltam às aulas (quando e se há escola), aprendem pouco ou quase nada, como demonstram indicadores nacionais e internacionais de educação, e tornam-se adultos despreparados e dependentes de ajuda governamental.

Análise da questão:

A questão cobra o emprego correto do verbo e das preposições em conformidade com a norma-padrão da língua portuguesa, especialmente no que se refere à concordância verbal, uso das preposições "a" e "à" e à forma impessoal dos verbos na passiva sintética ou na voz ativa com sujeito indeterminado.

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<li>Primeira lacuna: "Um contingente expressivo de crianças ... __________ sem esgoto tratado". O sujeito é "Um contingente", expressão coletiva no singular, portanto, o verbo deve concordar em número com o sujeito — segue (singular) e não seguem (plural).</li>

<li>Segunda lacuna: "devido __________ falta de saneamento". Trata-se de indicar a causa, logo, é necessário o emprego da preposição contraída à (a + a), já que "falta" é uma palavra feminina. Logo, correto é à falta.</li>

<li>Terceira lacuna: "estarão sujeitas ________ uma herança nefasta". O verbo "estarão sujeitas" rege a preposição a, indicando o objeto indireto, portanto, correto é o uso da preposição a sem crase, pois "herança" é feminino, mas não há artigo que provoque a crase. Contudo, "herança" aceita o artigo feminino, e o termo exige crase. Aqui a análise mais precisa indica crase: "sujeitas à uma herança..." porém, "à uma" é incorreto porque o artigo já está no "à", e "uma" é pronome indefinido. O correto é usar "sujeitas a uma herança": neste caso, o verbo "estar" seguido da preposição "a" que rege complemento sem artigo definido, apenas pronome indefinido "uma". Portanto, a sem crase.</li>

<li>Quarta lacuna: "_________ que mais de R$ 126 mil é a diferença de renda". Trata-se aqui de construção com verbo na voz ativa, sujeito em posição posposta, e impessoal, que exige a forma estima-se (3ª pessoa do singular, voz ativa, sujeito indeterminado). As formas estimam-se e são estimados não concordam com o sujeito singular "diferença".</li>
</ul>

Análise das alternativas:

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<li>A) segue … a … à … são estimados Errada. Na segunda lacuna, é necessário crase (à falta), e na última lacuna, o verbo não pode ser plural nem na voz passiva.</li>

<li>B) seguem … à … à … são estimados Errada. O verbo no início deve ser singular ("segue") e o verbo na última lacuna está incorreto no plural.</li>

<li>C) segue … a … à … estimam-se Errada. Na segunda lacuna deve haver crase (à falta), e na terceira lacuna o correto é "a" sem crase.</li>

<li>D) seguem … a … a … é estimado Errada. Concordância verbal errada no início ("seguem") e o verbo na última lacuna deve ser na voz ativa "estima-se".</li>

<li>E) segue … à … a … estima-se Correta. Concordância verbal coerente; preposição e crase adequados conforme análise acima; verbo impessoal na forma correta.</li>
</ul>

Explicação gramatical:


- Segue: verbo concorda com o sujeito singular "um contingente". 
- À falta: preposição "a" + artigo feminino "a", exigindo crase para indicar causa. 
- A uma herança: verbo "estar sujeita a" pede preposição simples "a", com pronome indefinido "uma" que não admite crase. 
- Estima-se: forma impessoal do verbo estimar na voz ativa, 3ª pessoa do singular, sujeito posposto, comum em orações sem sujeito explícito. 


Exemplo semelhante de crase na expressão "devido à falta" e preposição simples com pronome indefinido: "está sujeito a uma multa".

Com isso, a alternativa que apresenta a correção gramatical conforme a norma da língua portuguesa e a coerência de sentido é a Letra E.

Gabarito: Letra E

A questão pede que se julgue se o sentido do texto seria alterado caso o vocábulo “mal”, presente no período “Isso é tão familiar que mal percebemos.” (quarto parágrafo), fosse deslocado para logo após a forma verbal “percebemos”. Ou seja, a frase passaria a ser: “Isso é tão familiar que percebemos mal.”

Para analisar corretamente, precisamos entender o uso dos advérbios de modo na língua portuguesa. Na frase original, “Isso é tão familiar que mal percebemos”, o termo “mal” funciona como advérbio de tempo, no sentido de “quase não”, “dificilmente”: quase não nos damos conta, tal é a familiaridade. A ênfase recai na ideia de que a familiaridade é tamanha que quase não percebemos o fenômeno abordado pelo texto.

Já na construção modificada, “Isso é tão familiar que percebemos mal”, “mal” assume sentido de advérbio de modo, isto é, passamos a entender que há uma percepção, porém feita de maneira inadequada ou incorreta — percebemos de forma errada, equivocadamente. Aqui ocorre uma alteração semântica significativa: enquanto no texto original a percepção é mínima, na frase alterada a percepção existe, mesmo que seja defeituosa.

Note que esse tipo de sutil diferença semântica é cobrado de forma recorrente em provas de concursos, pois revela domínio não apenas de aspectos gramaticais, mas, sobretudo, da interpretação e da função textual das palavras.

Para ilustrar, compare situações similares: “Ele mal saiu de casa.” (quase não saiu/ saiu há poucos instantes) vs. “Ele saiu mal de casa.” (saiu de forma inadequada, atrapalhada). Tal paralelismo deixa clara a distinção: a posição do advérbio altera completamente o sentido.

Alternativa Correta:
Diante do exposto, a resposta correta é a alternativa “C) Certo”, pois, de fato, haveria alteração de sentido com a troca de posição do vocábulo “mal”.

Gabarito: Letra C

O sentido original do texto seria alterado caso o vocábulo “mal” (segundo período do quarto parágrafo) fosse deslocado para logo após a forma verbal “percebemos”.


    Ordenar e nomear a vida não é uma ciência esotérica. Nas últimas décadas, estudos mostraram que selecionar e batizar o mundo natural é uma atividade humana universal e fundamental para compreender o mundo vivo, bem como nosso lugar nele.
    Os antropólogos foram os primeiros a reconhecer que a taxonomia poderia ser mais do que a ciência oficialmente fundada pelo botânico sueco Carl Linnaeus no século XVIII.
Estudando como não cientistas ordenam e nomeiam a vida, criando as chamadas taxonomias populares, eles começaram a perceber que, quando as pessoas criam grupos ordenados e dão nomes às coisas vivas, elas seguem padrões altamente estereotipados, aparentemente guiando-se, de modo inconsciente, por regras não escritas.
    Por exemplo, Cecil Brown, antropólogo norte-americano que estudou taxonomias populares em 188 línguas, concluiu que os seres humanos reconhecem repetidamente as mesmas categorias básicas, que incluem peixes, aves, cobras, mamíferos, árvores e wugs, termo que significa vermes e insetos. Os wugs não são um grupo coeso, do ponto de vista evolutivo ou ecológico. Mesmo assim, as pessoas repetidamente os reconhecem e os nomeiam.
    Da mesma forma, as pessoas consistentemente usam epítetos com duas palavras para designar organismos específicos dentro de um grupo maior, apesar de haver infinitos métodos potencialmente mais lógicos. Isso é tão familiar que mal percebemos. Em português, entre os carvalhos, distinguimos o carvalho americano; entre os ursos, os ursos cinzentos. Quando os maias, familiarizados com os javalis, conheceram os porcos espanhóis, apelidaram-nos de javalis de aldeia.
    A prova mais surpreendente de quão arraigada é a taxonomia vem de pacientes que, por acidente ou doença, sofreram traumas cerebrais. Nesse sentido, destaca-se o caso de um universitário que foi vítima de um inchaço cerebral causado por herpes. Ao se recuperar, ele era capaz de reconhecer objetos inanimados, como lanterna, bússola e chaleira, mas não coisas vivas, como canguru e cogumelo. Médicos de todo o mundo encontraram pacientes com a mesma dificuldade. Recentemente, cientistas que estudaram esses pacientes notaram lesões numa região do lóbulo temporal, o que levou à hipótese de que pode existir uma parte específica do cérebro dedicada à taxonomia.
    Sem a capacidade de ordenar e nomear a vida, uma pessoa simplesmente não sabe como viver no mundo e como entendê-lo.
Se abandonarmos a taxonomia, perderemos uma conexão com o mundo vivo. Quando você começa a notar os organismos e encontrar um nome para bichos e flores específicos, não é possível deixar de ver a vida e a ordem que nela existe, bem onde sempre esteve: ao seu redor.


Julgue o item a seguir, relativo aos sentidos e a aspectos linguísticos do texto CB2A1.


Para analisar a questão apresentada, é necessário considerar o trecho extraído do último período do texto: “Quando você começa a notar os organismos e encontrar um nome para bichos e flores específicos, não é possível deixar de ver a vida e a ordem que nela existe, bem onde sempre esteve: ao seu redor.” A questão propõe a substituição de “não é possível deixar de ver” por “não pode deixar de ver”, questionando se essa alteração afetaria os aspectos sintáticos, a correção gramatical ou a coerência do texto.

A primeira observação importante diz respeito à relação sintática. O trecho original utiliza uma construção impessoal (“não é possível”), enquanto a proposta introduz um sujeito definido (“você não pode deixar de ver”). Na forma original, tem-se uma oração subordinada substantiva subjetiva: “não é possível deixar de ver a vida...”. Já com a troca, a oração passa a ser uma oração principal, com o sujeito explícito (“você”) e o verbo modal “pode”. Logo, há, sim, uma alteração na estrutura sintática, pois mudamos de uma impessoalidade genérica para uma afirmação dirigida diretamente à pessoa do interlocutor.

Quanto à correção gramatical, a frase resultante da substituição — “quando você começa a notar os organismos e encontrar um nome para bichos e flores específicos, você não pode deixar de ver a vida e a ordem que nela existe” — está plenamente correta. Não há desvio sintático, semântico ou de regência. A concordância é mantida, visto que o sujeito “você” rege adequadamente o verbo “poder”.

No que diz respeito à coerência textual, mantém-se o sentido global do trecho: a inevitabilidade da percepção da ordem da vida ao redor quando se começa a nomear os seres vivos. A substituição não prejudica o entendimento ou o encadeamento de ideias do texto, apenas aproxima a mensagem do leitor, fortalecendo seu caráter pessoal em vez de impessoal. Em textos de divulgação científica ou expositivos, essa flexibilidade é comum sem comprometer a coesão ou a coerência.

Assim, conforme enunciado, houve alteração nas relações sintáticas sem prejuízo para a correção gramatical nem para a coerência textual. Portanto, o item está correto.

Gabarito: Letra C

No último período do texto, a substituição do trecho “não é possível” por não pode alteraria as relações sintáticas originalmente estabelecidas no texto, mas não prejudicaria nem a correção gramatical nem a coerência textual.

Questões de Português - Correção e reescrita de textos