“O tempo dirá se a sociedade mudou [...]” (10º§)

“[...] tribunais eleitorais vinham usando [...]” (6º§)

“[...] observar como a língua se comporta [...]” (1º§)

“[...] mas a cartilha da inclusão recomenda [...]”(9º§)

“‘Nuvens negras’ que anunciavam mau tempo [...]” (2º§)

Analisemos atentamente cada uma das passagens apresentadas para identificarmos qual delas traz uma figura de linguagem distinta das demais. O enunciado propõe que, dentre as alternativas, apenas uma exibe nuance figurativa diferente. Vamos verificar cada uma delas com cuidado:

<ul style="margin-bottom: 1.5em;">
 <li>A) “O tempo dirá se a sociedade mudou” – Nesta passagem, o sujeito “tempo” é tratado como se tivesse a capacidade de revelar informações, configurando uma personificação, que é uma figura de linguagem ao atribuir qualidades humanas a um elemento abstrato ou inanimado.</li>
 <li>B) “[...] tribunais eleitorais vinham usando [...]” – Aqui, a frase descreve uma ação concreta praticada por entidades (tribunais eleitorais) sem recorrer a metáforas, personificações ou outras figuras de linguagem. Trata-se de uma expressão literal, que não atribui nenhuma qualidade humana ou efeito figurativo aos termos.</li>
 <li>C) “[...] observar como a língua se comporta [...]” – Nesta alternativa, a língua é tratada como se tivesse atitudes ou comportamentos próprios, o que caracteriza uma personificação, na qual um elemento abstrato (a língua) é dotado de ação típica de seres vivos.</li>
 <li>D) “[...] mas a cartilha da inclusão recomenda [...]” – A “cartilha”, objeto inanimado, é descrita como se tivesse a capacidade de formular recomendações, evidenciando novamente a personificação, ao atribuir a um documento o poder de aconselhar ou orientar de forma ativa.</li>
 <li>E) “‘Nuvens negras’ que anunciavam mau tempo” – Apesar de “nuvens negras” ser uma expressão que evoca imagens e pode adquirir um sentido analogicamente carregado, trata-se, neste contexto, de uma descrição com recurso visual, sem que haja a atribuição de ação ou características humanas às nuvens de forma a configurar uma figura de linguagem inovadora em relação às demais.</li>
</ul>

Observa-se que as alternativas A, C, D e, em certa medida, E utilizam a personificação ou recorrem a efeitos que extrapolam o sentido meramente literal dos termos, atribuindo-lhes características humanas ou simbólicas. Em contrapartida, a alternativa B se destaca por empregar uma linguagem estritamente objetiva e literal, sem recorrer a figuras de linguagem. Assim, ela é a única que apresenta uma construção que não exige do leitor a interpretação de sentidos figurados ou metáforas.

Alternativa Correta:
Portanto, a opção que contém uma construção sem figura de linguagem, ou seja, com a linguagem literal, é a alternativa B.

Gabarito: Letra B

<center>Conjunto de falantes é o árbitro das mudanças linguísticas.</center>
 É sempre interessante observar como a língua se comporta diante das tensões que nela se refletem. De uns tempos para cá, muita gente passou a ser corrigida em público nas transmissões ao vivo na internet por uma audiência empenhada em rastrear as marcas de racismo, machismo, homofobia e demais preconceitos que estariam inscritos na língua. Não foram poucos os que passaram a monitorar não apenas a fala alheia como ____ própria, ciosos de que mudar as palavras é uma forma de mudar o mundo. Talvez seja, talvez não seja. O tempo dirá.
 Personagens de novela, que geralmente aparecem na trama fazendo merchandising de produtos, passaram a vender também as lições civilizatórias da cultura “woke”. “Nuvens negras” que anunciavam mau tempo foram substituídas por “nuvens cinza” e muitos outros exemplos foram incorporados aos scripts. Ao mesmo tempo, a ministra Anielle Franco ressaltou que termos como “caixa-preta” e “buraco negro”, que pareciam insuspeitos, também tinham uma carga de preconceito racial.
 O verbo “denegrir”, mesmo sendo usado desde o latim no sentido de manchar a reputação, foi um dos principais alvos das cartilhas de letramento racial que apareceram na internet, associado ____ cor de pele de pessoas, sempre com a advertência de que era muito importante mudar os hábitos linguísticos. A motivação é das melhores; só não sabemos ainda se isso vai contribuir, de fato, para o fim do racismo e dos demais preconceitos.
 Dia desses, ouvi uma pessoa ser corrigida em uma live ao usar a expressão “mãe solteira”, que deveria ser substituída por “mãe solo”. A explicação era que “mãe solteira” é uma expressão preconceituosa porque o estado civil não tem nada a ver com a maternidade. Perfeito. Nesse caso, talvez o ideal fosse a supressão do adjetivo: já que não se diz “mãe casada” ou “mãe viúva”, por que dizer “mãe solteira”? Bastaria dizer “mãe”.
 Outro caso interessante é o da expressão “pessoa com deficiência”, que viria substituir “deficiente”, pois nenhum ser humano deveria ser definido pela sua deficiência – o uso da palavra “pessoa” teria uma função importante na conscientização de que eventuais deficiências não impedem alguém de ter uma vida normal. De fato, mas o que se vê hoje é que a expressão foi reduzida ____ uma sigla (PcD) e lida “pê-cê-dê”. É provável que essa simplificação tenha ocorrido em razão do princípio da economia, muito importante na comunicação.
 ____ algum tempo, tribunais eleitorais vinham usando com insistência a construção “eleitores e eleitoras” e também “pessoa eleitora”. Parece que as coisas andaram mudando. Em trabalhos acadêmicos, sobretudo na área de humanidades, passou a ser “obrigatório” o uso da linguagem dita “inclusiva”, de modo que, onde se lia “os historiadores”, se passou a ler “os historiadores e as historiadoras” – e assim por diante, sempre com as duas palavras, no masculino e no feminino. No meio acadêmico, o uso se tornou comum.
 Uma coisa, porém, temos de reconhecer. Essa prática, além de tornar o texto enfadonho, é totalmente desnecessária. O motivo é muito simples: a forma “historiadores”, no masculino, generaliza as pessoas que exercem essa atividade. É a condição de “historiador” que interessa quando usamos o termo de modo geral (por exemplo, “os historiadores do século passado”), não a identidade do ser humano. O termo feminino existe para as situações em que tratamos de uma ou mais mulheres em particular (“uma historiadora do período”). Isso vale para qualquer termo que indique a função, a condição, a profissão etc., mas não vale, por óbvio, para homens e mulheres. Ninguém nunca disse os “homens aqui presentes” com o intuito de englobar “homens e mulheres”, certo? 
 O problema é que não está a nosso alcance fazer uma mudança desse teor, de caráter estrutural. A língua é uma construção coletiva autogerida. É a coletividade representada pelos falantes que determina o que muda e o que não muda, o que tem cabimento e o que não tem. É fácil perceber isso no caso dos neologismos, que, quando úteis ou funcionais, passam a integrar a língua, mesmo que alguns os rejeitem por apego ___ tradição ou por outro motivo.
 O pronome “todos”, por exemplo, é um pronome indefinido que indica totalidade inclusiva (todas as pessoas). É uma das palavras mais inclusivas da língua (ao lado de “tudo”), mas a cartilha da inclusão recomenda cumprimentar a “todos e todas”, reduzindo o alcance de “todos”, que ficaria restrito ao gênero masculino. Pode-se dizer que essa fórmula de saudação foi bem-aceita e acabou virando regra de etiqueta em alguns lugares. Cumprimenta-se a “todos e todas” e, depois, está-se livre para continuar falando de forma econômica.
 O tempo dirá se a sociedade mudou no rastro das palavras ou se o movimento é exatamente o inverso. Aguardemos.

Na análise do trecho “Certa noite, lá estava ele novamente vendo o perfil de Irene, quando houve um terrível incêndio na vizinhança – um incêndio de proporções assustadoras”, percebemos uma ênfase exagerada para enfatizar o impacto e a dimensão do incêndio. Essa exageração, típica de uma linguagem hiperbólica, visa realçar a gravidade do fato, independentemente dos detalhes reais que possam ser medidos.

A Hipérbole é uma figura de linguagem que consiste em exagerar uma ideia com o intuito de produzir um efeito dramático ou expressar intensamente uma emoção ou situação. No trecho em análise, o uso da expressão “incêndio de proporções assustadoras” reforça a ideia de um acontecimento grandioso e catastrófico, mesmo que, na realidade, a ênfase seja justamente para criar uma imagem mental impactante para o leitor.

Vamos analisar as alternativas apresentadas:

<ul style="margin-bottom: 1.5em;">
 <li>A) Antítese: Não se observa a justaposição de ideias opostas, característica típica da antítese.</li>
 <li>B) Metáfora: A metáfora implica uma comparação implícita, que não ocorre nos termos empregados para descrever o incêndio.</li>
 <li>C) Hipérbole: Corresponde exatamente ao uso do exagero para enfatizar a dimensão e o perigo do incêndio, tornando essa alternativa a correta.</li>
 <li>D) Metonímia: A metonímia envolve a substituição de um termo por outro com o qual este tem uma relação de contiguidade, o que não acontece no trecho analisado.</li>
 <li>E) Prosopopeia: A prosopopeia (ou personificação) atribui características humanas a seres inanimados, o que não se verifica na descrição dada.</li>
</ul>

Alternativa Correta:

A figura de linguagem predominante no trecho é a Hipérbole, pois há um uso intencional do exagero para acentuar o impacto do incendiário acontecimento narrado, o que está em total sintonia com a característica desta figura de linguagem.

Gabarito: Letra C

    Super-homem estava cansado. Não, não tinha nada a ver com o típico esgotamento físico que jamais afetaria o homem de aço. No entanto, havia anos, o super-herói estava cansado da humanidade e dos caminhos tortuosos que ela seguia. Havia décadas ele tentava salvar o ser humano de tragédias incontroláveis e, principalmente, de si mesmo.
    No entanto, após tantos planos e esforços, estratégias e salvamentos, ele percebia que as pessoas sempre voltavam à estaca zero. Apático, constatou que bastava salvar alguém de um buraco para este cair em uma vala, no segundo seguinte.
    Diante disso, Clarquinho – como era conhecido desde que se mudara para o Brasil – passava seus dias deprimido, trabalhando em um portal de “notícias”, escrevendo artigos sensacionalistas e inócuos: “Este celular vai revolucionar a humanidade” ou “Finalmente, a cura da calvície”.
    Na verdade, Clarquinho tinha vontade de escrever um artigo com o título “A tediosa vida de um super-herói”. Despejaria no artigo todo seu desalento, toda mágoa e angústia que o enfraquecia mais do que um quilo de kriptonita aninhado em seu colo.
    Certo dia, porém, ele abriu um perfil no Instagram. Extremamente reservado por conta da criação rigorosa que recebera dos pais, era a primeira vez que Clarquinho se enveredava pelas redes sociais. Começou a seguir velhos amigos. Sentiu-se nostálgico ao rever as fotos daqueles que, de uma forma ou outra, fizeram parte de sua vida. Sentiu-se especialmente emocionado ao entrar no perfil de Irene Lane, bisneta de Louis – ela tinha o mesmo sorriso meigo da bisavó.
    A rede social prendeu definitivamente sua atenção. Não tendo necessidade de dormir, ele varava noites e madrugadas seguindo pessoas, vasculhando fotos, postando feeds e stories.
    Certa noite, lá estava ele novamente vendo o perfil de Irene, quando houve um terrível incêndio na vizinhança – um incêndio de proporções assustadoras. Este era o momento em que ele abriria o pijama, arrebentando desnecessariamente botões – para tão somente ter que costurá-los novamente –, e exibiria o “S” colossal em seu peito. Sua chance de voar em alta velocidade, salvar a vida de inocentes e dar a eles a chance de não caírem no próximo buraco.
    No entanto, por algum motivo, Clark não ouviu as sirenes e nem sentiu o cheiro de fumaça. Estava hipnotizado, olhos presos na tela do celular.
    Naquele exato momento, Irene havia acabado de postar no Instagram uma foto em preto-e-branco de sua bisavó.


 Você é minha droga, paixão e carnaval. / Meu zen, meu bem, meu mal. (Caetano Veloso) 

 Oh, Deus, perdoe este pobre coitado, / Que de joelhos chorou um bocado (Gordurinha e Nelinho) 

 Por você eu largo tudo / Vou mendigar, roubar, matar (Cazuza ) 

 Eu sou a mosca que perturba o seu sono / Eu sou a mosca no seu quarto a zumbizar (Raul Seixas e Paulo Coelho) 

 Eu não posso mais ficar aqui a esperar / Que um dia de repente você volte para mim (Roberto e Erasmo Carlos)

Análise da Alternativa A (Alternativa Correta):

A alternativa A apresenta o verso “Você é minha droga, paixão e carnaval. / Meu zen, meu bem, meu mal.”, extraído de uma letra de Caetano Veloso, no qual identificamos a figura de linguagem da antítese. A antítese consiste na aproximação de ideias opostas ou contrastantes para evidenciar a dualidade de sentimentos ou características, como ocorre na oposição entre “meu bem” e “meu mal”. Essa dicotomia ressalta o conflito interno ou a complexidade de sentimentos, típica na construção de letras de MPB, onde a ambivalência pode ser condensada por meio de imagens poéticas e contrastantes. Além disso, o uso de termos aparentemente contraditórios, como “droga” e “paixão”, reforça essa oposição, evidenciando o caráter multifacetado do objeto de afeto, que pode ser visto tanto como algo prazeroso quanto prejudicial. Essa técnica estilística, ao contrastar elementos positivos e negativos, confere ao verso uma profundidade que caracteriza a ambiguidade e a riqueza expressiva da letra de uma canção.

Análise das Outras Alternativas:
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 <li>Alternativa B: “Oh, Deus, perdoe este pobre coitado, / Que de joelhos chorou um bocado”. Essa alternativa apresenta uma súplica com hipérbole, mas não há a presença de ideias opostas em caráter simétrico, característica indispensável para a antítese.</li>
 <li>Alternativa C: “Por você eu largo tudo / Vou mendigar, roubar, matar”. Aqui temos um exagero que amplifica a intensidade emocional, mas não ocorre a contraposicão de ideias equilibradas, tampouco há oposição de termos antagônicos.</li>
 <li>Alternativa D: “Eu sou a mosca que perturba o seu sono / Eu sou a mosca no seu quarto a zumbizar”. Nesta, há repetição e detalhamento da mesma ideia, sem a clara presença de termos opostos que caracterizariam uma antítese.</li>
 <li>Alternativa E: “Eu não posso mais ficar aqui a esperar / Que um dia de repente você volte para mim”. Essa alternativa expressa um lamento e a esperança de um retorno, mas ausência de oposição direta de sentidos não configura antítese.</li>
</ul>

Portanto, a antítese se manifesta exclusivamente na alternativa A, pela inserção deliberada de elementos opostos como “meu bem” e “meu mal”, que condensam a dualidade dos sentimentos de forma equilibrada e eficaz, diferenciando-se das demais alternativas que, apesar de expressarem intensidade ou outras figuras de linguagem, não evidenciam a contraposição sistemática de ideias característica da antítese.

Gabarito: Letra A

 As palavras são os médicos de uma mente doente.

 Chega de jogador mandioca, que fica plantado no meio de campo.

 Futebol é como viaduto. Num dia estamos por cima. No outro, por baixo.

 O cérebro é como um paraquedas: só funciona quando está aberto.

 Uma cama de hospital, pelo preço, é como um táxi parado com o taxímetro acionado.

Nesta questão, o candidato deve identificar qual das alternativas apresenta uma metáfora que não é objeto de uma explicação ou complemento que esclareça o sentido figurado estabelecido. A metáfora, figura de linguagem que implica uma correspondência implícita entre dois termos, por vezes é desmembrada com o auxílio de elementos explicativos ou exemplificações que reforçam a analogia.

Analisando a alternativa A, "As palavras são os médicos de uma mente doente", notamos que a metáfora está constituída pela justaposição dos termos “palavras” e “médicos” para sugerir o efeito terapêutico que a comunicação ou o conhecimento pode exercer sobre uma mente (ou seja, o pensamento). Entretanto, diferentemente dos demais exemplos, não há nenhum elemento posterior que explique ou aprofunde a comparação, mantendo-a puramente figurada e lacônica.

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 <li>Alternativa B: Embora apresente uma comparação inusitada ao chamar um jogador de “mandioca”, a expressão “plantado” reforça a ideia de imobilidade e crítica, funcionando como uma explicação implícita da metáfora.</li>
 <li>Alternativa C: Utiliza o recurso comparativo explícito “como” e segue com uma explicação que compara os momentos do futebol a estar “por cima” ou “por baixo”, elucubrand o efeito da comparação.</li>
 <li>Alternativa D: O recurso “como” vem acompanhado de uma explicação (após os dois-pontos) que associa o funcionamento do cérebro ao paraquedas, elucidando a importância de “estar aberto” para seu funcionamento.</li>
 <li>Alternativa E: Aqui, a comparação é explicada de forma crítica e humorística, empregando a analogia entre o preço de uma cama de hospital e um táxi parado, com o taxímetro acionado, o que torna a metáfora acessível e compreensível.</li>
</ul>

Assim, a alternativa A é aquela em que a metáfora “As palavras são os médicos de uma mente doente” não recebe nenhum acréscimo explicativo, deixando o leitor a interpretar a associação sem indícios de esclarecimento adicional. Essa ausência de complementação a diferencia dos demais enunciados, que dispõem de elementos de explicação que reforçam a lógica da comparação figurada.

Dessa forma, a alternativa que apresenta a metáfora sem explicação é a alternativa A.

Gabarito: Letra A

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