 “As armas não descansam na guerra infame.” (Josué Solar) 

 “A vida separa muito mais que a morte.” (Murilo Mendes) 

 “E melhor é naturalmente cedo que artificialmente tarde.” (M. Assis) 

 “Sofremos demasiado pelo pouco que nos falta e alegramo-nos pouco pelo muito que temos.” (Shakespeare )

A questão apresenta uma análise de figuras de linguagem, sendo necessário identificar qual das alternativas não possui a mesma figura de linguagem presente na frase exemplo dada no enunciado. A frase do enunciado, "De um lado, a pobreza que todos repelem; de outro, a riqueza que todos almejam", exemplifica o uso da antítese, uma figura de linguagem caracterizada pela apresentação de ideias opostas ou contrastantes em uma mesma construção.

Vamos analisar cada alternativa para determinar a congruência com a figura de linguagem identificada:

<ul>
<li style="margin-bottom: 1.5em;">A) “As armas não descansam na guerra infame.” Essa frase, atribuída a Josué Solar, expressa uma relação irônica sobre o descanso das armas em um contexto de guerra, mas não estabelece um contraste direto entre dois opostos de forma explícita, como ocorre com a antítese da frase base. Logo, essa alternativa não apresenta uma antítese.</li>

<li style="margin-bottom: 1.5em;">B) “A vida separa muito mais que a morte.” Nesta expressão de Murilo Mendes, há uma antítese clara entre os conceitos de "vida" e "morte", e a forma como esses opostos são comparados em termos do que fazem - separar mais ou menos.</li>

<li style="margin-bottom: 1.5em;">C) “E melhor é naturalmente cedo que artificialmente tarde.” A frase de Machado de Assis também usa antítese ao contrastar as ideias de ser "naturalmente cedo" e "artificialmente tarde", evidenciando uma preferência através do contraste.</li>

<li style="margin-bottom: 1.5em;">D) “Sofremos demasiado pelo pouco que nos falta e alegramo-nos pouco pelo muito que temos.” Shakespeare nos mostra aqui uma clássica antítese ao comparar o sofrimento excessivo pelo que falta e a pouca alegria pelo que é abundante.</li>
</ul>

Portanto, ao avaliar a figura de linguagem apresentada na frase do enunciado e compará-la com as alternativas oferecidas, identificamos que a alternativa A, que não apresenta uma antítese, é a que não contém a mesma figura de linguagem que a frase exemplo.

A alternativa correta é A.

A questão solicita a identificação da figura de linguagem empregada no trecho específico de uma entrevista literária. Vamos analisar cada alternativa para determinar a resposta correta:

<ul style="margin-bottom: 1.5em;">
<li>Metonímia (Alternativa A): Trata-se do uso de algo relacionado para representar a coisa em si (como "tomar um copo" por "tomar o conteúdo do copo"). Não é aplicável aqui, pois não existe essa substituição no trecho.</li>
<li>Metáfora (Alternativa B): A metáfora implica uma comparação implícita entre duas coisas (como "o rio de suas lágrimas"). "Tirânicos mil sóis" poderia ser visto como uma comparação desproporcional da intensidade e da dominação da luz e do calor, mas essa figura é mais bem descrita por outra alternativa.</li>
<li>Eufemismo (Alternativa C): Eufemismo é a suavização de uma expressão que poderia ser considerada dura ou desagradável; não é relevante para o trecho em questão.</li>
<li>Antítese (Alternativa D): Consiste na colocação de palavras ou frases que apresentam ideias opostas próximas umas das outras, para enfatizar um contraste, o que não ocorre aqui.</li>
<li>Hipérbole (Alternativa E): É uma figura de exagero utilizado para ênfase ou efeito estilístico. No trecho, "tirânicos mil sóis" é claramente um exagero para descrever algo extremamente intenso ou opressivo, como a luz ou o calor. Esse uso exagerado se encaixa perfeitamente na definição de hipérbole.</li>
</ul>

Dessa forma, a expressão "tirânicos mil sóis" exagera a ideia de calor e luz para transmitir intensidade e dominação sensorial, caracterizando-se como hipérbole. Portanto, a análise mostra que a alternativa E é a correta ao descrever essa figura de linguagem.

A alternativa correta é E.

Entrevista concedida ao jornalista Júlio Lerner, em 1 de fevereiro de 1977, para o programa “Panorama”, da TV Cultura, de São Paulo. 
De minha sala até o saguão dos estúdios tenho que percorrer cerca de 150 metros. Estou tão aturdido com a possibilidade de entrevistá-la que mal consigo me organizar naquela curta caminhada. Talvez falar sobre “A Paixão Segundo G.H”… Ou quem sabe sobre “A Maçã no Escuro” e “Perto do Coração Selvagem”… Vou recordando o que Clarice escreveu. Será que li tudo? Em apenas cinco minutos consegui um estúdio para entrevistá-la. 
São quatro e quinze da tarde e disponho de apenas meia hora. Às cinco entra ao vivo o programa infantil e quinze minutos antes terei de desocupar o estúdio. Estou correndo e antes mesmo de vê-la a pressão do tempo começa a me massacrar. Não terei condições de preparar nada antes, nem mesmo conversar um pouco. Não poderei sequer tentar criar um clima adequado para a entrevista.
Eu odeio a TV brasileira! Só meia hora para ouvir Clarice. O pessoal da técnica foi novamente generoso e se empenhou para conseguir essa brecha. Olho o relógio, não consigo me organizar, estou correndo, olho novamente o relógio.
Estou desconcertado, atinjo o saguão dos estúdios e a vejo ali, dez metros adiante, Clarice de pé ao lado de uma amiga, perdida no meio do vaivém dos cenários desmontados, de diversos equipamentos e de técnicos que falam alto, no meio de um grande alvoroço. 
Paro diante dela, estou um pouco ofegante, estendo-lhe a mão e sou atravessado pelo olhar mais desprotegido que um ser humano pode lançar a semelhante. Ela é frágil, ela é tímida, e eu não tenho condições para explicar que o problema do tempo elevou meus níveis de ansiedade.
Clarice me apresenta Olga Borelli, entramos e a conduzo ao centro do pequeno estúdio. Peço para que ela sente numa poltrona de couro de tonalidade café-com-leite.
Clarice segura apenas um maço de Hollywood e uma caixa de fósforos, providencio um cinzeiro, os refletores malditos são ligados. Clarice me olha. O olhar de Clarice me interroga, só disponho de uma única câmera, o olhar de Clarice suplica, Olga se ajeita numa lateral escurecida, chega Miriam, a estagiária do programa e fica encolhida e calada, o calor está ficando insuportável e o ar-condicionado não está ajustado, são apenas quatro e vinte, Clarice tenta me dizer alguma coisa, mas não falo com ela, preocupado em ajustar uma questão de iluminação, o hálito da fornalha já nos atinge a todos, devemos ter agora no estúdio uns 50 ou 60 graus, maldita TV, bendita TV do terceiro mundo que me possibilita estar agora frente a frente com ela, Clarice me olha melindrosa, assustada e seu olhar me pede para que a tranquilize. 
“OK, Júlio, tudo pronto”, a voz metálica vem da caixa dos alto-falantes. Peço a toda equipe para sair, cabo man, iluminador, assistente de estúdio, agradeço. Clarice percebe que caiu numa arapuca e já não há como voltar atrás. Peço silêncio e depois de uns dez segundos ecoa um “gravando”. 
Não conversamos antes e disponho apenas de 23 minutos.
Estou completamente desconcertado, fico um minuto em silêncio fitando Clarice. Estou oco, vazio, não sei o que dizer. Clarice me olha curiosa, mas vigilante, defendida.
Sou o senhor do castelo e — prepotente — guardo comigo a chave desta prisão. Ninguém pode entrar ou sair sem meu expresso consentimento. Todos devem se submeter à minha autoritária vontade. 
A fornalha arde, meu coração dispara, minha boca está seca e debaixo destes tirânicos mil sóis sou o maior dos tiranos. Começa a entrevista. A entrevista avança. Seus olhos azuis-oceânicos revelam solidão e tristeza. Clarice está nua, não há perdão, Clarice agora está encapotada, ela se deixa agarrar, mas logo escapa, e volta, e me pega, e me sugere o longe, o não dizível, depois se cala. E quando nada mais espero, ela volta a falar. Faço uma antientrevista, pausas, silêncios, Clarice agora está fugindo para uma galáxia inabitada e inatingível, mas volta em seguida e, tolerante, suporta toda a minha limitação. 
Acho que ela vai se levantar a qualquer instante e me dizer: “Chega!”. Clarice pressente que por trás de meu sorriso aparentemente compreensivo e de minha fala suave esconde-se um ser diabólico autodenominado “repórter” e que quer possuir sua intimidade. Seu corpo exprime receios, ela me afasta, mas de novo me atrai, suas pernas se cruzam e se descruzam sem parar e telegrafam que de repente ela poderá se levantar e partir.

A análise das figuras de linguagem envolve a identificação de como os termos são empregados para gerar efeitos de sentido no texto. No caso da palavra "ESTRADIVÁRIUS" no excerto apresentado, vejamos cada alternativa para concluir pela opção mais apropriada:

A) metonímia. A metonímia é uma figura de linguagem na qual uma palavra substitui outra, tendo as duas um vínculo lógico que permite essa substituição. Normalmente, ocorre quando se refere a uma parte pelo todo, o autor pela obra, o efeito pela causa, entre outros. No texto, "ESTRADIVÁRIUS" é usado para representar um tipo de violino extremamente valioso, de grande renome. Ao invés de dizer simplesmente 'violino', o texto usa o nome da marca mais famosa para indicar a qualidade e importância do instrumento, estabelecendo um vínculo de representação específica. Isso caracteriza metonímia.

B) comparação. Esta figura de linguagem envolve dois termos que são explicitamente comparados, o que geralmente está indicado pelas palavras "como" ou "assim como". No trecho em questão, "ESTRADIVÁRIUS" é utilizado como uma referência direta e não como uma comparação entre dois elementos. Portanto, esta alternativa é incorreta.

C) eufemismo. O eufemismo suaviza uma expressão que poderia ser considerada rude ou desagradável. Neste caso, a palavra "ESTRADIVÁRIUS" não está sendo utilizada para suavizar alguma expressão, e sim para dar realce ao violino. Assim, essa alternativa não se aplica.

D) hipérbole. A hipérbole ocorre quando há um exagero com fins expressivos. Embora o texto esteja repleto de hipérboles para descrever a tragédia do desastre aéreo, "ESTRADIVÁRIUS" não é uma hipérbole, pois não exagera, mas especifica um tipo de violino.

E) personificação. A personificação, ou prosopopeia, acontece quando atributos humanos são dados a objetos, animais ou ideias abstratas. "ESTRADIVÁRIUS", neste contexto, não é dotado de características humanas.

Portanto, com base na análise das alternativas e dos significados das figuras de linguagem, conclui-se que a alternativa correta é A, pois a palavra "ESTRADIVÁRIUS" é empregada como uma metonímia, representando o violino através do nome de uma famosa marca.

Para Cândido Portinari Vejo sangue no ar, vejo o piloto que levava urna flor para a noiva, abraçado com a hélice. E o violinista em que a morte acentuou a palidez, despenhar-se com sua cabeleira negra e seu estradivarius1. Há mãos e pernas de dançarinas arremessadas na explosão. Corpos irreconhecíveis identificados pelo Grande Reconhecedor. Vejo sangue no ar, vejo chuva de sangue caindo nas nuvens batizadas pelo sangue dos poetas mártires. Vejo a nadadora belíssima, no seu último salto de banhista, mais rápida porque vem sem vida. Vejo três meninas caindo rápidas, enfunadas2, como se dançassem ainda. E vejo a louca abraçada ao ramalhete de rosas que ela pensou ser o paraquedas, e a prima-dona3 com a longa cauda de lantejoulas riscando o céu como urn cometa. E o sino que ia para uma capela do oeste, vir dobrando finados pelos pobres mortos. Presumo que a moça adormecida na cabine ainda vem dormindo, tão tranquila e cega! Ó amigos, o paralítico vem com extrema rapidez, vem como uma estrela cadente, vem com as pernas do vento. Chove sangue sobre as nuvens de Deus. E há poetas miopes que pensam que é o arrebo!4. 
1. aportuguesamento para a famosa marca de violinos: Stradivárius. 
2. retesadas, infladas, enrijecidas. 
3. cantora que faz o papel principal em uma opera. 
4. vermelhidão do nascer ou pôr do sol.

A análise das figuras de linguagem nos versos de Murilo Mendes revela elementos essenciais para compreender o significado poético e a expressividade do texto. Cada figura empregada tem um propósito específico no enriquecimento do poema.

<ul style="margin-bottom: 1.5em;">
 <li>Antítese (A): Esta figura de linguagem é utilizada para mostrar a oposição entre dois conceitos ou ideias. No poema citado, não parece haver uma clara oposição de ideias que se configure como antítese, uma vez que o texto progride de maneira fluida de uma cena a outra.</li>
 <li>Hipérbole (B): Consiste na exageração de um fato ou sentimento para destacar sua intensidade. Não há, nos versos em questão, um claro exagero que possamos identificar como hipérbole.</li>
 <li>Eufemismo (C): Esta figura é empregada para suavizar uma expressão que poderia ser considerada dura ou desagradável. O verso "Mamãe vestida de rendas" sugere uma imagem delicada e, posteriormente, "abriu as asas" e "caiu no álbum de retratos" podem ser interpretados como eufemismos para a morte ou o afastamento. Este parece ser o elemento que o usuário identifica como predominante, embora sua interpretação possa ser contestada.</li>
 <li>Prosopopeia (D): Consiste em atribuir características humanas a objetos inanimados ou abstratos. No verso, a mãe "abriu as asas", sugerindo a ideia de voar, que pode ser interpretada como uma figura de prosopopeia, mas se entende melhor como parte de uma metáfora maior associada ao tema do poema.</li>
</ul>

Analisando cuidadosamente e considerando a perspectiva que os versos são tratados de maneira mais suavizada e simbólica, pode-se entender a escolha do eufemismo como correção. No entanto, é importante reconhecer que a presença forte de metáfora poderia orientar a uma interpretação diferente, inclinando-se talvez mais para a prosopopeia. A efusão poética de Murilo Mendes cria um cenário onde as figuras de linguagem se entrelaçam, fazendo com que a análise de apenas um elemento possa ser desafiadora.

A alternativa correta é C.

 “a fazenda dormia num silêncio recluso, a casa estava de luto...” (Raduan Nassar) 

 “Parecia feita de canto e dança, de sol e luar, era de cravo e canela.” (Jorge Amado) 

 “A palavra e a forma serão a tábua onde boiarei sobre vagalhões de mudez.” (Clarice Lispector) 

 “Nunca sei ao certo/ Se sou um menino de dúvidas/ Ou um homem de fé/ Certezas o vento leva/ Só dúvidas permanecem de pé” (Paulo Leminski)

Analisando a figura de linguagem no trecho original de Clarice Lispector, percebemos o uso da personificação (prosopopeia), que atribui características humanas a um objeto ou conceito abstrato. Neste caso, o "sábado" é tratado como se fosse possuidor de uma volição ou desejo próprio, ao ser "tomado" pelo personagem como se fosse de sua propriedade ou parte de sua vida doméstica.

Vejamos cada alternativa:

<ul style="margin-bottom: 1.5em;">
 <li>A) “a fazenda dormia num silêncio recluso, a casa estava de luto...” (Raduan Nassar): Aqui também se observa personificação. A "fazenda dormia" e a "casa estava de luto", ambas expressões atribuem às locações características humanas, como dormir e estar enlutadas respectivamente. Isso está alinhado com a ideia de personificação.</li>
 <li>B) “Parecia feita de canto e dança, de sol e luar, era de cravo e canela.” (Jorge Amado): Esta alternativa exemplifica a sinestesia, que mistura sensações percebidas por diferentes órgãos do sentido, e a metáfora, ao comparar elementos direta ou indiretamente sem o uso de um conectivo.</li>
 <li>C) “A palavra e a forma serão a tábua onde boiarei sobre vagalhões de mudez.” (Clarice Lispector): Esta declaração é uma metáfora, comparando o auxílio que as palavras fornecem para navegar sobre um mar de silêncio.</li>
 <li>D) “Nunca sei ao certo/ Se sou um menino de dúvidas/ Ou um homem de fé/ Certezas o vento leva/ Só dúvidas permanecem de pé” (Paulo Leminski): Neste poema, há um uso de antítese (contraste entre ideias) e um emprego lúdico de palavras para transmitir estados emocionais e reflexões sobre a identidade.</li>
</ul>

Portanto, pela análise das alternativas, notamos que somente a alternativa A emprega a mesma figura de linguagem (personificação) presente no trecho de Clarice Lispector mencionado no enunciado, pois tanto a fazenda quanto a casa são descritas com comportamentos e estados humanos.

A alternativa correta é A.

Questões de Português - Figuras de linguagem