 “Emilie reconfortada, radiante de alegria, pois para fazê-la feliz bastava que um filho devorasse quantidades imensas de alimentos, como se o conceito de felicidade estivesse muito próximo ao ato de mastigar e ingerir sem fim”.

 “Havia alguma verdade nesta sentença”.

 “A humilhação e a ameaça são o açoite; a comida e a integração ilusória à família do senhor são as correntes e golilhas”.

 “A lavadeira me agradecia perfumando minhas roupas; depois de esfregá-las e enxaguá-las, ela salpicava seiva de alfazema nas camisas, lenços e meias, e, quando eu punha as mãos nos bolsos das calças, encontrava as ervas de cheiro: o benjoim e a canela”.

 “— Aqui reina uma forma estranha de escravidão — opinava Dorner”.

Nesta questão, o candidato deve identificar qual das alternativas apresenta uma metáfora. Uma metáfora é uma figura de linguagem que estabelece uma relação de identidade entre dois termos sem o uso de conectores comparativos, atribuindo a um elemento as características de outro de maneira implícita. Ou seja, há uma transferência de sentido que enriquece o texto, sem que se utilize termos como “como”, “tal qual” ou outros que efetuem comparação explícita.

Analisando as alternativas:

<ul style="margin-bottom: 1.5em;">
 <li>Alternativa A: Apesar de ter um caráter figurado, essa frase utiliza uma hipérbole ou exagero para enfatizar a associação entre a felicidade de Emilie e o ato de mastigar e ingerir alimentos, mas não caracteriza uma metáfora propriamente dita, pois a comparação é mais descritiva do comportamento e sensação.</li>
 <li>Alternativa B: A frase “Havia alguma verdade nesta sentença” é literal e não contém elementos figurados ou de transferência de sentido, não se tratando de uma metáfora.</li>
 <li>Alternativa C: “A humilhação e a ameaça são o açoite; a comida e a integração ilusória à família do senhor são as correntes e golilhas.” Nesta alternativa, há uma relação de identidade entre abstrações (humilhação, ameaça, comida e integração) e elementos concretos (açoite, correntes e golilhas) sem o emprego de conectores comparativos. Trata-se, portanto, de uma metáfora que utiliza o recurso da substituição para representar, de forma impactante, a opressão do sistema escravista e a dominação implícita na relação de poder.</li>
 <li>Alternativa D: A frase descreve a cena e o cuidado da lavadeira com as roupas, utilizando uma linguagem descritiva sem recorrer à transferência de sentido típica de uma metáfora.</li>
 <li>Alternativa E: O trecho “— Aqui reina uma forma estranha de escravidão — opinava Dorner” expõe um julgamento, mas o enunciado é literal e não figurado, por isso não se encaixa na definição de metáfora.</li>
</ul>

Alternativa Correta: A alternativa C evidencia uma metáfora, pois atribui elementos concretos – como “açoite”, “correntes” e “golilhas” – a conceitos abstratos relacionados à opressão e humilhação, fortalecendo a imagem figurada proposta pelo autor.

Portanto, ao analisar a relação entre os conceitos e os elementos concretos apresentados, é possível perceber que a metáfora é o recurso predominante na alternativa C, onde a transferência de sentido cria uma representatividade intensa e profunda do sistema de dominação. Assim, a resposta correta é a letra C.

Gabarito: Letra C

    O velho interrompeu subitamente a discussão e saiu sisudo, decepcionado antes com Emilie que com meus irmãos. Era inútil censurá-los ou repreendê-los. Emilie colocava-se sempre ao lado deles; eram pérolas que flutuavam entre o céu e a terra, sempre visíveis e reluzentes aos seus olhos, e ao alcance de suas mãos. Essa conivência de Emilie com os filhos me revoltava, e fazia com que às vezes me distanciasse dela, mesmo sabendo que eu também era idolatrado. Tornava-me um filho arredio, por não ser um estragaalbarda, por não ser vítima ou agressor, por rechaçar a estupidez, a brutalidade no trato com os outros. No meu íntimo, creio que deixei a família e a cidade também por não suportar a convivência estúpida com os serviçais. Lembro Dorner dizer que o privilégio aqui no norte não decorre apenas da posse de riquezas.
    — Aqui reina uma forma estranha de escravidão — opinava Dorner. — A humilhação e a ameaça são o açoite; a comida e a integração ilusória à família do senhor são as correntes e golilhas.
    Havia alguma verdade nesta sentença. Eu notava um esforço da parte de Emilie para manter acesa a chama de uma relação cordial com Anastácia Socorro. Às vezes bordavam e costuravam juntas, na sala; e ambas conversavam sobre um passado e lugar distantes, e essas conversas atraíam minha atenção. Permanecia horas ao lado das duas mulheres, magnetizado pelo desenho dourado gravado no corpo vítreo do narguilé, nas contas de cor carmesim que formavam volutas ou caracóis semi-imersos no líquido nacarado, e no bico de madeira que terminava num orifício delicado, como se fossem lábios preparados para um beijo. Mirando e admirando aquele objeto adormecido durante o dia, escutava as vozes, de variada entonação, a evocar temas tão distintos que as aproximavam.
Anastácia impressionava-se com a parreira sobre o pátio pequeno, o telhado de folhas, suspenso, de onde brotavam cachos de uvas minúsculas, quase brancas e transparentes, e que nunca cresciam; ela fazia careta quando degustava as frutinhas azedas, sem entender a origem dos cachos enormes de graúdas moscatéis que entupiam a geladeira, o pomar das delícias, junto com as maçãs, peras e figos que meu pai trazia do sul, bem como as caixas de raha com amêndoas, os saquinhos de miski, as latas de tâmaras e de “tambac”, o tabaco persa para o narguilé. As frutas e guloseimas eram proibidas às empregadas, e, cada vez que na minha presença Emilie flagrava Anastácia engolindo às pressas uma tâmara com caroço, ou mastigando um bombom de goma, eu me interpunha entre ambas e mentia à minha mãe, dizendo-lhe: fui eu que lhe ofereci o que sobrou da caixa de tâmaras que comi; assim, evitava um escândalo, uma punição ou uma advertência, além de deixar Emilie reconfortada, radiante de alegria, pois para fazê-la feliz bastava que um filho devorasse quantidades imensas de alimentos, como se o conceito de felicidade estivesse muito próximo ao ato de mastigar e ingerir sem fim. A lavadeira me agradecia perfumando minhas roupas; depois de esfregá-las e enxaguá-las, ela salpicava seiva de alfazema nas camisas, lenços e meias, e, quando eu punha as mãos nos bolsos das calças, encontrava as ervas de cheiro: o benjoim e a canela.


Análise Geral da Questão:

A frase “Nesse sentido, a comunicação é como um elo que estabelece as relações corporativas” utiliza uma figura de linguagem muito comum na Língua Portuguesa. Nesse enunciado, o elemento “como” introduz uma comparação explícita entre “comunicação” e “elo”. Essa estrutura é característica da comparação (ou símile), que consiste em estabelecer uma relação de semelhança entre dois termos, geralmente distintos, fundamentada em uma analogia. Assim, ao afirmar que a comunicação funciona “como um elo”, o autor ressalta a importância e o papel integrador da comunicação no ambiente corporativo.

Análise das Alternativas:

<ul style="margin-bottom: 1.5em;">
 <li>A) Comparação: Correto. A presença do termo “como” evidencia a utilização dessa figura de linguagem, que estabelece uma semelhança explícita entre a comunicação e o elo que une as relações corporativas.</li>
 <li>B) Antítese: Incorreto. A antítese caracteriza-se pela oposição ou contraste entre ideias. Na frase em análise, não há oposição, mas sim uma relação de semelhança.</li>
 <li>C) Oxímoro: Incorreto. O oxímoro junta termos de sentidos contraditórios para criar um novo significado e não se aplica ao contexto apresentado.</li>
 <li>D) Apóstrofe: Incorreto. A apóstrofe é uma figura na qual o falante dirige-se diretamente a uma pessoa ou entidade ausente, inexistente ou personificada, o que não ocorre no exemplo dado.</li>
 <li>E) Gradação: Incorreto. A gradação envolve a disposição de termos em sequência crescente ou decrescente, organizando um efeito acumulativo, o que não está presente na estrutura da frase.</li>
</ul>

Portanto, ao analisarmos a construção “a comunicação é como um elo”, fica claro que se trata de um exemplo típico de comparação, na qual se destaca a importância da comunicação como elemento integrador nas relações corporativas. É importante que o candidato esteja atento à presença de conectivos comparativos, como “como”, “tal qual”, “assim como”, entre outros, que sinalizam a utilização dessa figura de linguagem em textos dissertativos e argumentativos.

Dessa forma, a alternativa correta é a que identifica a presença de uma comparação, ou seja, a alternativa A.

Gabarito: Letra A

    A tecnologia da informação (TI) está promovendo uma nova ordem no mundo global. As empresas ponto.com definiram os novos padrões da Nova Economia, revolucionaram a maneira de fazer negócios, criaram uma nova forma de trabalhar e uma nova cultura de relacionamento entre as pessoas. A comunicação não é secundária, sendo o núcleo das estratégias de ação de uma empresa. Nesse sentido, a comunicação é como um elo que estabelece as relações corporativas.
    A virtualização crescente das organizações é um desafio para a gestão. O desafio reside na busca incessante de novas soluções, e a essência da eficácia está deslocando-se para a busca de redes e parcerias em conexões virtuais dentro de um contexto ambiental mutável.
    A organização passa a ser um tipo de comunidade no novo modelo organizacional já conhecido: hierarquias baixas, fronteiras fluidas, mais ênfase nos processos do que na estrutura e equipes autônomas e autossuficientes.


A figura de linguagem predominante na última frase do texto – “Prefere delegar.” – é a Elipse. Essa figura ocorre quando há a omissão de um ou mais termos na frase, mas a mensagem permanece compreensível pelo contexto. No caso apresentado, temos a omissão dos termos que foram claramente mencionados anteriormente, como o sujeito “o líder” e “procedimentos” ou outras expressões já presentes no enunciado. Essa lacuna não prejudica a compreensão, pois o leitor, ao ter o contexto previamente estabelecido, consegue inferir quais elementos foram omitidos.

Análise das alternativas:
<ul style="margin-bottom: 1.5em;">
 <li>A) Elipse: Correto. A elipse ocorre na última frase, pois vários termos já mencionados anteriormente foram suprimidos, mantendo a ideia completa graças ao contexto. Por exemplo, em frases como “João comeu a maçã; Maria, a pera”, a omissão do verbo “comeu” na segunda oração é perfeitamente entendida.</li>
 <li>B) Aliteração: Incorreto. A aliteração envolve a repetição de sons consonantais em uma sequência de palavras, o que não se observa na última frase do texto.</li>
 <li>C) Metáfora: Incorreto. A metáfora é uma comparação implícita entre elementos distintos para expressar uma ideia de forma mais figurativa, o que não ocorre na frase “Prefere delegar.”.</li>
 <li>D) Antítese: Incorreto. A antítese contrapõe ideias ou termos opostos numa mesma oração ou contexto, o que não se aplica à frase analisada.</li>
 <li>E) Paradoxo: Incorreto. O paradoxo une afirmativas aparentemente contraditórias, mas que possuem uma verdade subjacente, o que também não corresponde à estrutura da frase final.</li>
</ul>

A escolha da elipse como figura de linguagem se fundamenta na estrutura sintática da frase, que permite a omissão de termos já explícitos anteriormente. Nessa análise, o candidato precisa perceber que o recurso estilístico visa otimizar a comunicação, evitando repetições desnecessárias, mantendo a clareza e a coesão do texto. Assim, a compreensão contextual é essencial para identificar que “Prefere delegar.” retoma as ideias apresentadas anteriormente sem precisar repetir todos os elementos mencionados.

Portanto, a alternativa correta é a que identifica a elipse na última frase, demonstrando domínio do conceito de figuras de linguagem e da importância do contexto na interpretação textual.

Gabarito: Letra A

    As teorias de traços da personalidade são as teorias mais antigas a respeito da liderança.
Um traço é uma qualidade ou característica distintiva da personalidade. Segundo essas teorias, o líder é aquele que possui certos traços específicos de personalidade por meio dos quais pode influenciar o comportamento das demais pessoas. Essas teorias foram influenciadas pela teoria do “grande homem”, defendida por Carlyle para explicar que o progresso do mundo foi produto das realizações pessoais de alguns homens que dominaram a história da humanidade.
    Cada traço possui suas especificidades. Energia, aparência pessoal, estatura e peso compreendem os traços físicos. Adaptabilidade, agressividade, entusiasmo e autoconfiança são exemplos de traços intelectuais. Alguns exemplos de traços sociais são cooperação, habilidades interpessoais e habilidade administrativa. Realização, persistência e iniciativa são traços relacionados à tarefa.
    Em resumo, um líder deve inspirar confiança, ser inteligente, perceptivo e decisivo para ter condições de liderar com sucesso. O líder tem o poder de decidir ou delegar procedimentos. Prefere delegar.


Alternativa Correta:

Na frase “O médico informou à família que o paciente morreu de Hemorragia de sangue”, observa-se a presença de um pleonasmo, isto é, uma repetição redundante de ideias. O termo “hemorragia” já carrega em si o sentido de “derramamento excessivo de sangue”. Ao acrescentar “de sangue”, a expressão reforça essa ideia de maneira desnecessária, pois a informação já está contida na palavra “hemorragia”. Essa característica é típica dos pleonasmos, que, embora possam ser empregados para reforço de uma ideia ou por efeito de estilo, muitas vezes resultam em redundância.

Analisando as demais alternativas, percebemos que a prosopopeia (ou personificação) se refere à atribuição de características humanas a seres inanimados ou abstratos, o que não ocorre na frase em questão. Por sua vez, a onomatopeia trata da reprodução de sons por meio de palavras, o que também não se aplica aqui, pois não há som imitado na descrição. Já a metáfora envolve uma comparação tácita entre elementos diferentes sem o uso de conectores comparativos, diferente do que acontece na afirmação apresentada, que não realiza nenhuma comparação implícita.

Portanto, considerando a análise de cada alternativa, podemos concluir que a figura de linguagem utilizada é o pleonasmo, constatado pela redundância presente na expressão “hemorragia de sangue”. Essa repetição acentua a ideia expressa e é justamente o que caracteriza o pleonasmo na linguagem.

Gabarito: Letra D

Nesta questão, analisamos a frase “Que funcionário educado! Saiu mostrando a língua.”, proposta como peça de análise de figuras de linguagem. A alternativa correta é a Ironia. Iremos justificar, considerando tanto o conteúdo da frase quanto as demais alternativas apresentadas.

Análise das Alternativas:

<ul style="margin-bottom: 1.5em;">
 <li>A) Metáfora: A metáfora é uma comparação implícita entre termos, sem o uso de conectores, substituindo um termo por outro com o qual possui relação. Na frase em questão, não há essa substituição ou comparação implícita; o trecho “mostrando a língua” não está sendo usado para simbolizar outra condição ou estado por meio de uma analogia poética.</li>
 
 <li style="margin-bottom: 1.5em;">B) Pleonasmo: O pleonasmo é a repetição desnecessária de uma ideia, que acaba reforçando o enunciado, porém sem agregar significado novo. Na frase, não há repetição; o enunciado utiliza “funcionário educado” e “mostrando a língua” como elementos que se contrapõem.</li>
 
 <li style="margin-bottom: 1.5em;">C) Ironia: A ironia consiste em expressar uma ideia contrária ao significado literal das palavras, geralmente para criticar ou ridicularizar uma situação. Na frase, a expressão “Que funcionário educado!” usada em combinação com a atitude de “mostrar a língua” revela uma contradição. O comportamento de “mostrar a língua”, que é considerado desrespeitoso ou irreverente, conflita com o adjetivo “educado”, sugerindo, de maneira velada, que o funcionário não está agindo de forma correta ou polida. Assim, a crítica sutil é feita pelo contraste entre a aparente educação e o comportamento inadequado, o que caracteriza o uso da ironia.</li>
 
 <li style="margin-bottom: 1.5em;">D) Antítese: A antítese consiste na justaposição de ideias ou termos de sentido contrário para realçar o contraste. Embora haja uma oposição entre “funcionário educado” e “mostrando a língua”, o objetivo central da frase não é realçar o contraste de significados, mas sim utilizar esse contraste para provocar uma crítica irônica. Portanto, essa figura não se adequa integralmente à situação proposta.</li>
</ul>

Dessa forma, a opção que melhor representa o recurso estilístico empregado na frase é a ironia, pois o enunciado afirma, de maneira contrária ao que se espera em um comportamento educado, uma crítica velada que enfatiza a dissonância entre a aparência e a realidade dos comportamentos.

Portanto, a figura de linguagem utilizada na frase é a Ironia.

Gabarito: Letra C

Manuel Bandeira

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o
cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora
de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário
do amante exemplar com cem modelos de cartas
e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
– Não quero mais saber do lirismo que não é libertação. 

Questões de Português - Figuras de linguagem