Na questão em análise, o enunciado afirma que, no primeiro verso da quinta estrofe, o vocábulo “que” é um pronome relativo que se refere ao termo “fonemas” (último verso da quarta estrofe) e funciona como sujeito da oração em que se insere. Contudo, após uma leitura atenta do poema, percebe-se que essa identificação apresenta inconsistências. Para fundamentar a resposta, é necessário observar a estrutura sintática do texto.

Inicialmente, o termo “fonemas” aparece na terceira estrofe (linha “e descobrir que todos os fonemas”), mas a oração que contém o pronome “que” não é imediatamente subsequente a esse termo. Analisando a divisão das estrofes, nota-se que o “que” a que se refere a questão ocorre no início do primeiro verso da quinta estrofe, momento em que o antecedente mais próximo – do ponto de vista da coesão textual – não é “fonemas”, mas sim um termo que remete ao conteúdo expresso na estrofe imediatamente anterior. Normalmente, para que um pronome relativo exerça a função de sujeito de sua oração, o seu antecedente deve estar logicamente relacionado e próximo, o que não ocorre neste caso, já que a distância textual e a mudança temática não permitem que “fonemas” seja considerado o termo a que o “que” retoma.

Além disso, na prática da gramática normativa, é fundamental que haja clareza na relação de anáfora, isto é, a referência precisa que o pronome estabelece com o seu antecedente. O deslocamento do termo “fonemas” (localizado na terceira estrofe) para a oração que inicia a quinta estrofe causa um “salto” que inviabiliza essa referência direta. Dessa forma, a função atribuída ao “que” na questão – como sujeito da oração com referência a “fonemas” – não se sustenta nem do ponto de vista sintático nem do ponto de vista semântico.

Para exemplificar, imagine uma frase como “Vi os pássaros que voavam no céu”. Neste caso, o “que” retoma diretamente “pássaros”, que está imediatamente antes do pronome. No poema em análise, a separação entre “fonemas” e o pronome “que” impede que se estabeleça essa relação tão clara e necessária para a correta função de sujeito dentro da oração.

Alternativa Correta:
Portanto, a afirmação de que o “que” se refere ao termo “fonemas” e funciona como sujeito é equivocada, motivo pelo qual a alternativa correta é a letra E) Errado.

Gabarito: Letra E

No primeiro verso da quinta estrofe, o vocábulo “que” classifica-se gramaticalmente como pronome relativo, o qual se refere, na estrutura sintática do poema, ao termo “fonemas” (último verso da quarta estrofe) e funciona como sujeito da oração em que se insere.


Thiago de Mello

<center>Peço licença para algumas coisas.
Primeiramente para desfraldar 
este canto de amor publicamente.

Sucede que só sei dizer amor 
quando reparto o ramo azul de estrelas 
que em meu peito floresce de menino.

Peço licença para soletrar, 
no alfabeto do sol pernambucano, 
a palavra ti-jo-lo, por exemplo, 

e poder ver que dentro dela vivem 
paredes, aconchegos e janelas, 
e descobrir que todos os fonemas 

são mágicos sinais que vão se abrindo 
constelação de girassóis gerando 
em círculos de amor que de repente 
 estalam como flor no chão da casa.

Às vezes nem há casa: é só o chão.
Mas sobre o chão quem reina agora é um homem 
diferente, que acaba de nascer: 

porque unindo pedaços de palavras 
aos poucos vai unindo argila e orvalho, 
tristeza e pão, cambão e beija-flor, 

e acaba por unir 
a própria vida 
no seu peito partida e repartida 
quando afinal descobre num clarão 

que o mundo é seu também, que o seu trabalho 
não é a pena que paga por ser homem, 
mas um modo de amar — e de ajudar 

o mundo a ser melhor. Peço licença 
para avisar que, ao gosto de Jesus, 
este homem renascido é um homem novo: 

ele atravessa os campos espalhando 
a boa-nova, e chama os companheiros 
a pelejar no limpo, fronte a fronte, 

contra o bicho de quatrocentos anos, 
mas cujo fel espesso não resiste 
a quarenta horas de total ternura.

Peço licença para terminar 
soletrando a canção de rebeldia 
que existe nos fonemas da alegria: 

canção de amor geral que eu vi crescer 
nos olhos do homem que aprendeu a ler.</center>

Julgue o item que se segue, relativo à análise linguística do poema precedente.


Analisemos a frase: “um ciclone extratropical transformou a paisagem árida do deserto do Saara”. Essa sequência “do Saara” está ligada diretamente ao substantivo “deserto”, funcionando como um termo que especifica qual deserto está sendo mencionado. Assim, o termo “do Saara” agrega uma característica ao núcleo “deserto”, qualificando-o e inserindo-o num contexto mais específico.

Análise de cada alternativa:

<ul style="margin-bottom: 1.5em;">
 <li>A) Objeto indireto. – Incorreta. O objeto indireto é geralmente complemento de um verbo que exige preposição, o que não ocorre neste caso, pois “do Saara” não complementa nenhum verbo, mas sim o substantivo “deserto”.</li>
 
 <li>B) Complemento nominal. – Incorreta. O complemento nominal atua sobre um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) que exige complemento para completar seu sentido. Contudo, “deserto” nesse contexto não exige um complemento obrigatório para completar seu significado; trata-se de uma especificação adicional, não de uma complementação indispensável.</li>
 
 <li>C) Adjunto adnominal. – Correta. Adjunto adnominal é o termo que, por meio de determinantes ou locuções prepositivas, qualifica ou determina um substantivo. No caso, “do Saara” funciona como adjunto adnominal de “deserto”, restringindo o seu sentido e especificando de qual deserto trata-se.</li>
 
 <li>D) Aposto. – Incorreta. O aposto é um termo que se utiliza para explicar, resumir ou enumerar outro termo da oração, geralmente isolado por vírgulas ou traços. Na frase em análise, “do Saara” não apresenta essa característica de explicação ou enumeração, tampouco é marcado por pausas que indiquem isolamento, não configurando, portanto, um aposto.</li>
</ul>

Portanto, ao considerarmos o papel sintático, “do Saara” exerce a função de adjunto adnominal, pois está qualificando o substantivo “deserto” sem que haja o isolamento típico de um aposto, tampouco servindo de complemento obrigatório para o sentido do substantivo.

Assim, embora a alternativa inicialmente informada seja D, a alternativa correta, com base na análise sintática completa, é a alternativa C.

Gabarito: Letra C

    Em setembro de 2024, um ciclone extratropical transformou a paisagem árida do deserto do Saara. Vários lagos efêmeros surgiram após fortes chuvas que, em apenas alguns dias, deixaram o equivalente a um ano de precipitação no Marrocos, na Argélia, Tunísia e Líbia.
    Um dos lagos mais proeminentes é o Sebkha el Melah, na Argélia, que revela uma paisagem que lembra um passado muito mais verde e úmido nessa vasta região desértica.
    As imagens do satélite Landsat 9 da Nasa mostram um contraste impressionante entre o leito seco do lago, em 12 de agosto de 2024, e o mesmo local cheio de água em 29 de setembro do mesmo ano.
    “O lago cobria 191 quilômetros quadrados, com uma profundidade de 2,2 metros, e estava aproximadamente 33% cheio”, disse o pesquisador Moshe Armon, da Universidade Hebraica de Jerusalém, que analisou as imagens e os dados de satélite.
    Imagens do Landsat 9 e de outros satélites mostram uma mudança não apenas em Sebkha el Melah, mas também em outros lagos efêmeros perto de Erg Chebbi, no Marrocos, demonstrando como os rios das Montanhas Atlas contribuíram para o fenômeno, de acordo com o site de notícias científicas Live Science.
    “Trata-se de um fenômeno transitório raro e em grande parte não documentado”, disse a pesquisadora Joëlle Rieder, do Observatório da Terra da Nasa. Desde 2000, apenas dois eventos semelhantes foram registrados nesse lago, um em 2008 e outro em 2014.
    O que é fascinante nesse fenômeno é que ele pode estar oferecendo pistas de como o Saara era há milhares de anos. Entre 11 mil e 5 mil anos atrás, durante o chamado Período Úmido Africano, esse deserto era um lugar muito diferente. Uma oscilação na órbita da Terra havia transformado a região num ambiente muito mais verde e úmido, onde os humanos antigos pintavam cenas de caça em cavernas e de lagos abundantes.
    Apesar dessas evidências, há um debate científico sobre o quanto o Saara era realmente úmido naquela época. Modelos climáticos atuais não conseguem reproduzir a precipitação necessária para  sustentar os vastos lagos que se acredita terem existido. É nesse ponto que fenômenos como o enchimento do Sebkha el Melah entram em cena.
    Armon propõe uma teoria intrigante: “Eventos extremos de precipitação, como o ocorrido em setembro no noroeste do Saara, podem ter sido mais frequentes no passado”. Dado o tempo que esses lagos levam para secar (o lago de 2008 persistiu até 2012), eventos semelhantes poderiam ter mantido os lagos parcialmente cheios por anos ou décadas, mesmo sem chuvas frequentes.
    Essas descobertas são cruciais para compreender não apenas o passado, mas também o futuro climático do Saara. Ainda que as variações orbitais conhecidas como ciclos de Milankovitch tenham sido as principais impulsionadoras do Período Úmido Africano, o impacto da mudança climática atual acrescenta outra camada de complexidade.
    As projeções do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) indicam que algumas partes do Saara podem receber mais precipitação com o aumento da temperatura global, enquanto outras podem se tornar ainda mais secas.
    “As incertezas dessas projeções são maiores do que as mudanças projetadas”, disse Armon. “O que vai acontecer no Saara ainda não está muito claro, mas esperamos que, com o tempo, possamos entender melhor o futuro do deserto estudando esses fenômenos de preenchimento de lagos.” 


Dois eventos semelhantes foram registrados nesse lago.

Trata-se de um fenômeno transitório raro.

Eventos semelhantes poderiam ter mantido os lagos parcialmente cheios.

Esse deserto era um lugar muito diferente.

Nesta questão, precisamos identificar a alternativa em que um termo exerce, corretamente, a função sintática de sujeito paciente. Em construções na voz passiva, o sujeito paciente é o termo que sofre a ação expressa pelo verbo, diferentemente do agente da passiva, que a pratica (quando expresso). Assim, analisaremos cada alternativa para compreender qual apresenta essa característica.

Análise da Alternativa A: "Dois eventos semelhantes foram registrados nesse lago." Nesta frase, a construção "foram registrados" indica voz passiva, onde o sujeito "Dois eventos semelhantes" é o paciente da ação, pois sofre a ação de ser registrado. Por ser o termo que recebe a ação verbal, ele resulta como sujeito paciente. Portanto, esta alternativa cumpre a condição exigida pela questão.

Análise da Alternativa B: "Trata-se de um fenômeno transitório raro." Nesta estrutura, utiliza-se uma construção pronominal impessoal, onde "um fenômeno transitório raro" funciona como complemento nominal ou predicativo, e não assume o papel de sujeito paciente. Não há, portanto, a presença de um sujeito que sofre ação.

Análise da Alternativa C: "Eventos semelhantes poderiam ter mantido os lagos parcialmente cheios." Apesar de "eventos semelhantes" ser o sujeito da oração, a frase está construída na voz ativa. Nesse caso, o sujeito desempenha a função de agente da ação, não sendo, portanto, paciente. Assim, essa alternativa não atende aos critérios propostos.

Análise da Alternativa D: "Esse deserto era um lugar muito diferente." Na oração, "esse deserto" é o sujeito da oração copulativa, ligado pelo verbo de ligação “era” a um predicativo do sujeito ("um lugar muito diferente"). Aqui, o sujeito não sofre ação, não caracterizando um sujeito paciente.

Alternativa Correta:
A alternativa A apresenta um termo com função sintática de sujeito paciente, pois “Dois eventos semelhantes” é quem sofre a ação verbal da passiva "foram registrados".

Gabarito: Letra A

Nesta questão, analisamos dois elementos oracionais destacados: “um debate científico” e “realmente”. A função desses termos deve ser definida segundo as regras da gramática normativa, considerando o papel de cada um na oração.

Começando por “um debate científico”, temos a oração “há um debate científico sobre o quanto o Saara era realmente úmido naquela época”. O verbo “haver”, quando utilizado no sentido de existir (como nesta oração), é impessoal, ou seja, não admite sujeito. Apesar disso, o termo que o complementa – “um debate científico” – exerce a função de objeto direto. Essa interpretação está amparada no fato de que, em construções existenciais (uso intrafuncional de “haver”), o complemento é o termo que vem a indicar aquilo que existe ou se apresenta. Assim, “um debate científico” é o elemento que complementa o significado do verbo e apresenta a informação que se quer transmitir.

Quanto ao termo “realmente”, este funciona como um advérbio de intensidade/maneira, qualificando o adjetivo “úmido”. Ou seja, sua função é modificar o sentido da qualidade atribuída ao Saara na época, enfatizando a veracidade ou intensidade da condição descrita. Essa característica classificadora o elemento como adjunto adverbial, pois ele acrescenta uma circunstância (quanto à realidade da umidade) à oração, sem alterar a estrutura sintática principal.

Alternativa Correta:

Na alternativa B, “um debate científico” é interpretado como objeto direto, enquanto “realmente” é considerado adjunto adverbial. Essa análise sintática está de acordo com a estrutura da oração, onde “haver” é impessoal e seu complemento direto fornece a informação central (o debate), e o advérbio “realmente” funciona para qualificar o adjetivo “úmido”.

Portanto, a alternativa correta é a letra B.

Gabarito: Letra B

Na frase “O que vai acontecer no Saara ainda não está muito claro, mas esperamos que, com o tempo, possamos entender melhor o futuro do deserto”, a conjunção integrante “que” introduz uma oração subordinada substantiva objetiva direta, ou seja, funciona como o objeto direto do verbo “esperar”. Isso ocorre porque o verbo “esperar” exige um complemento para que seu sentido esteja completo, e a oração subordinada (iniciada por “que”) cumpre essa função ao especificar aquilo que se espera.

Análise das alternativas:
<ul style="margin-bottom: 1.5em;">
 <li>A) Objeto direto. – Correta. A oração “que, com o tempo, possamos entender melhor o futuro do deserto” atua como o complemento direto do verbo “esperamos”, funcionando como objeto direto da oração principal.</li>
 <li>B) Adjunto adverbial. – Incorreta. Embora a expressão “com o tempo” exerça função adverbial na oração subordinada, ela não é o elemento introduzido pela conjunção “que”, nem determina a natureza sintática da oração subordinada.</li>
 <li>C) Objeto indireto. – Incorreta. Verbos que regem objeto indireto são aqueles que exigem preposição para ligar o complemento. No caso, “esperar” é transitivo direto e, consequentemente, a oração subordinada não pode ser considerada objeto indireto.</li>
 <li>D) Aposto. – Incorreta. O aposto é um termo que explica ou detalha um termo anterior, podendo ser removido sem prejuízo do sentido da frase, o que não ocorre com a oração introduzida por “que”, que é essencial para completar o sentido do verbo “esperar”.</li>
</ul>

Portanto, a função sintática desempenhada pela conjunção “que” na oração em questão é a de introduzir uma oração subordinada substantiva objetiva direta, complementando o sentido do verbo “esperar”. Tal estrutura é comum na Língua Portuguesa e constitui um aspecto importante a ser compreendido, pois ajuda a identificar a relação de dependência entre as orações, esclarecendo o papel de cada termo dentro da frase.

Além disso, vale destacar a importância de identificar a estrutura ortotática e sintática de uma oração para compreender integralmente o seu funcionamento e evitar ambiguidades, sendo fundamental em situações de interpretação de textos, especialmente em concursos públicos.

Gabarito: Letra A

Questões de Português - Função sintática