Na frase “Maior qualidade que Ronaldo tinha era o pai que ele era”, encontramos duas ocorrências da palavra “que”. A primeira, em “Maior qualidade que Ronaldo tinha”, funciona como pronome relativo, ligando o substantivo “qualidade” à oração subordinada “Ronaldo tinha”. Já a segunda ocorrência, em “o pai que ele era”, tem uma função diferente e é essa que está em análise.

Nesta segunda estrutura, “que” retoma o antecedente “pai” e introduz a oração “ele era”, funcionando como um elemento que integra uma oração de predicativo. Aqui, a estrutura “o pai que ele era” reavalia a identidade de Ronaldo, enfatizando que, independentemente de outras qualidades, a característica que o destacava era justamente a forma como desempenhava o papel paterno. Assim, “que” integra uma oração que, por meio do verbo de ligação “era”, estabelece uma relação de predicação em relação ao sujeito “pai”. Essa oração atribui uma qualidade ao sujeito, caracterizando-a como predicativo do sujeito, mesmo que a análise envolva uma retomada do substantivo “pai” na estrutura da oração.

A seguir, analisamos as alternativas:

<ul style="margin-bottom: 1.5em;">
 <li>A) sujeito. – Incorreta, pois “que” não exerce a função de sujeito na oração; o sujeito da oração “ele era” é o próprio “ele”.</li>
 <li>B) objeto direto. – Incorreta, pois “que” não recebe a ação de um verbo transitivo direto; a oração “ele era” utiliza “que” para remeter a “pai” como característica atribuída a ele.</li>
 <li>C) complemento nominal. – Incorreta, pois complemento nominal vincula-se a um nome e completa o sentido de um substantivo, adjetivo ou advérbio, o que não ocorre nesta estrutura.</li>
 <li>D) adjunto adnominal. – Incorreta, pois o adjunto adnominal, embora possa modificar um substantivo, não exerce a função de predicação, que é o caso na oração “ele era”.</li>
 <li>E) predicativo do sujeito. – Correta, pois na oração “o pai que ele era”, “que” integra o predicativo do sujeito “pai”, atribuída mediante o verbo de ligação “era”.</li>
</ul>

Portanto, a segunda ocorrência de “que” na frase exerce a função sintática de predicativo do sujeito, pois restaura a característica do sujeito “pai”, destacando a qualidade peculiar de Ronaldo enquanto pai. Essa estrutura enfatiza uma característica essencial que, de certo modo, transcende outras qualidades mencionadas. Assim, a oração “ele era” complementa e qualifica o sujeito “pai”, configurando o predicativo do sujeito e reforçando o significado da mensagem.

Gabarito: Letra E

1     O representante comercial Ronaldo Cavaliere era
   um dos passageiros do avião que caiu em Vinhedo (SP)
   na sexta‑feira (9). Pai dedicado e amoroso, ele trocou
4  Ubatuba (SP) por Maceió (AL) para acompanhar de
   perto o crescimento do único filho Enzo Cavaliere, agora
   um adolescente.
7     Ronaldo Cavaliere completou 43 anos no dia 14
   de junho. Representante comercial de várias empresas,
   participou de uma convenção de vendas do Grupo
10 GhelPlus, em Ampére (PR). Ele e mais oito pessoas
   que participaram do evento pegaram o mesmo voo de
   Cascavel (PR) para Guarulhos (SP).
13   Entre as fotos de encontros com o amigo
   Ronaldo, a jornalista tem uma especial, a do último Natal,
   em 2023. Por meio das redes sociais, Mirella Costa fez
16 uma homenagem ao representante comercial.
       “A dor não é de quem perdeu um amigo,
   eu perdi um irmão. Um irmão de alma tão parecido
19 comigo… Nesse momento não tenho forças para escrever
   nada, mas quero agradecer por tantos anos de amizade,
   lealdade, parceria e por todos os momentos que fomos
22 felizes e que choramos juntos, sempre juntos. Te amarei
   para sempre”.


Na análise da frase “fez uma homenagem ao representante comercial”, é necessário identificar a função sintática do termo “ao representante comercial”. O termo vem introduzido pela preposição "a", que estabelece uma relação com o substantivo "homenagem". Essa característica indica que o termo funciona como complemento nominal, uma vez que completa o sentido de um nome (neste caso, "homenagem").

O complemento nominal é empregado para completar ou especificar o sentido de um substantivo, adjetivo ou advérbio, sendo de uso obrigatório em determinadas estruturas, como “homenagem a alguém”, “amor por alguém” ou “medo de alguma coisa”. Assim, a preposição "a" que vem junto do substantivo "representante comercial" demonstra exatamente essa função, ligando o nome "homenagem" ao indivíduo homenageado.

Análise das alternativas:
<ul style="margin-bottom: 1.5em;">
 <li>A) Objeto indireto. Incorreto. O objeto indireto vem regido por um verbo transitivo indireto, mas nesse caso a preposição não integra o complemento do verbo, e sim, do substantivo “homenagem”.</li>
 <li>B) Adjunto adverbial. Incorreto. O adjunto adverbial modifica o sentido do verbo, indicando circunstâncias de tempo, modo, lugar, entre outros. Aqui, “ao representante comercial” não exerce essa função.</li>
 <li>C) Adjunto adnominal. Incorreto. O adjunto adnominal caracteriza ou especifica um substantivo, mas geralmente não é introduzido por preposição com função de completar o sentido do nome principal, como ocorre no caso da homenagem.</li>
 <li>D) Complemento nominal. Correto. Esse termo completa o sentido do substantivo “homenagem”, que necessita da preposição “a” para que sua ideia seja completa, indicando a quem ou a que a homenagem é destinada.</li>
 <li>E) Predicativo do objeto direto. Incorreto. O predicativo do objeto atribui uma característica ao objeto, mas não há ligação com a preposição nem com a estrutura do substantivo “homenagem”.</li>
</ul>

Alternativa Correta:
Portanto, o termo “ao representante comercial” exerce a função de complemento nominal, pois completa o sentido do substantivo “homenagem”. Essa análise se fundamenta na necessidade de complementação que alguns nomes apresentam e que, por meio de uma preposição, se ligam a termos que os especificam adequadamente.

Gabarito: Letra D

Alternativa Correta:

Na oração “estima‑se que a IA possa contribuir com até 14% da riqueza adicional para as economias emergentes da América Latina”, temos uma construção impessoal na qual o verbo “estimar” aparece na forma “estima‑se”. Nessa estrutura, a oração subordinada iniciada por “que” (ou seja, “que a IA possa contribuir com até 14% da riqueza adicional para as economias emergentes da América Latina”) funciona, de fato, como sujeito da oração principal. Esse fenômeno está relacionado à chamada “oração subordinada subjetiva”, que substitui o sujeito indeterminado em verbos impessoais, como é o caso do verbo “estimar”.

Em construções desse tipo, é comum encontrarmos verbos de percepção, opinião ou estima, que, ao serem conjugados na forma impessoal – sem sujeito expresso –, exigem como sujeito uma oração subordinada. Assim, a oração “que a IA possa contribuir…” é o elemento que desempenha essa função sintática, referindo-se à possibilidade da Inteligência Artificial impactar a economia de forma mensurável, conforme apontado pelo predicado. Destacar essa estrutura é fundamental, pois ela demonstra como o enunciado organiza a informação de maneira a realçar o conteúdo que se estima, sustentando a análise do impacto da IA conforme apresentado no texto.

Para exemplificar, consideremos uma estrutura semelhante: “Acredita‐se que a educação transforma vidas.” Neste exemplo, a oração “que a educação transforma vidas” funciona também como sujeito da oração “acredita‐se”. Dessa forma, ao aplicarmos o mesmo raciocínio à questão em análise, fica claro que o trecho “que a IA possa contribuir com até 14% da riqueza adicional para as economias emergentes da América Latina” opera como sujeito do verbo “estima‑se”.

Portanto, a alternativa “Certo” atende corretamente à análise proposta na questão acerca da função sintática do trecho destacado.

Gabarito: Letra C

O trecho “que a IA possa contribuir com até 14% da riqueza adicional para as economias emergentes da América Latina” (linhas de 27 a 29) funciona como sujeito de “estima‑se” (linha 27).


1      Entre os muitos desafios compartilhados pelos
    países da América Latina e do Caribe em uma época de
    incerteza econômica e política, a melhoria da prestação
4  de serviços do Estado, principalmente nas áreas de
    educação e saúde, figura entre os primeiros lugares. O
    desenvolvimento de estratégias regionais para enfrentar
7  com sucesso esses desafios é cada vez mais complexo,
    não apenas devido às diferenças políticas, culturais e
    econômicas observadas, mas também devido à crescente
10 desigualdade social. Embora esse panorama possa
    parecer desanimador, muitos agentes de mudança
    regionais estão procurando novas alternativas, contando
13 com ferramentas tecnológicas que prometem criar uma
    região mais próspera e justa. Entre essas ferramentas
    está a Inteligência Artificial (IA).
16     A IA promete melhorar o design de serviços
    digitais focados nas necessidades das pessoas e na
    eficiência dos processos vitais, como a prestação
19 de serviços sociais e a transparência na tomada de
    decisões públicas, bem como incentivar a economia por
    meio do aumento da produtividade. Ela também pode
22 contribuir para os 17 Objetivos de Desenvolvimento
    Sustentável (ODS) da Organização das Nações
    Unidas (ONU).
25     Um exemplo da relevância da IA é o impacto
    que ela pode ter na economia de um país em
    desenvolvimento: estima‑se que a IA possa contribuir
28 com até 14% da riqueza adicional para as economias
    emergentes da América Latina. O potencial da IA é
    tão vasto, que se espera que ela seja uma ferramenta
31 essencial para enfrentar os desafios atuais e futuros.
       Já o conceito de IA para o bem social aponta
    na direção do empoderamento das pessoas: ela é usada
34 para enfrentar os desafios mais importantes dos nossos
    tempos, que impactam diretamente os seres humanos e
    o meio ambiente nas mais diversas áreas, como saúde,
37 educação, emprego, justiça, disponibilidade de recursos,
    mudança climática, igualdade de gênero e redução
    de desigualdades.


Com base na estrutura linguística e no vocabulário empregados no texto, julgue o item seguinte.


“VOCÊ faz tudo que ele manda.”

“Não diz ‘BURRO’, mas está implícito.”

“‘Bip!’ ‘Olha aqui, PESSOAL: ele errou.’ ‘O burro errou!’”

“E a MÁQUINA (...) jamais faria ‘bip’ em público.”

“Sabendo que ela aguentaria sem reclamar, como sempre, a POBREZINHA.”

Neste item, a questão pede que se identifique qual das expressões destacadas nas alternativas exerce a mesma função sintática que “seu desprezível pré-eletrônico” presente no enunciado: “Parece estar dizendo: vamos lá, seu desprezível pré-eletrônico, mostre o que você sabe fazer.” Ao analisar a frase, nota-se que a expressão em destaque age como um vocativo, isto é, um elemento usado para chamar ou interpelar diretamente o interlocutor, de forma a atribuir um tom coloquial e, por vezes, irônico à comunicação.

Na alternativa A, o termo “VOCÊ” funciona como sujeito da oração “você faz tudo que ele manda”, e não como vocativo, pois não se dirige a uma pessoa de forma chamativa ou interpelatória. Já na alternativa B, “BURRO” aparece em uma estrutura em que sua utilização remete a uma característica atribuída, estando integradamente ligada à função de predicativo ou apelativa, mas sem a mesma estrutura de vocativo que demanda uma entonação de chamamento direto.

A alternativa C, por sua vez, apresenta a palavra “PESSOAL” na frase “‘Bip!’ ‘Olha aqui, PESSOAL: ele errou.’ ‘O burro errou!’”. Neste contexto, “pessoal” é usado para chamar a atenção de um grupo, funcionando exatamente como um vocativo, assim como “seu desprezível pré-eletrônico” chama a atenção direta do interlocutor. Já a alternativa D, onde “MÁQUINA” funciona como sujeito da oração “E a máquina (...) jamais faria ‘bip’ em público”, não cumpre a função vocativa. Por fim, a alternativa E, com “POBREZINHA”, atribui uma característica à máquina, funcionando como um adjetivo nominal que modifica o substantivo, e não como vocativo.

Alternativa Correta:
Na alternativa C, “pessoal” cumpre exatamente a mesma função sintática – a de vocativo – presente na expressão “seu desprezível pré-eletrônico”.

Gabarito: Letra C

Luís Fernando Veríssimo 

    Para começar, ele nos olha na cara. Não é como a máquina de escrever, que a gente olha de cima, com superioridade. Com ele é olho no olho ou tela no olho. Ele nos desafia. Parece estar dizendo: vamos lá, seu desprezível pré-eletrônico, mostre o que você sabe fazer. A máquina de escrever faz tudo que você manda, mesmo que seja a tapa. Com o computador é diferente. Você faz tudo que ele manda. Ou precisa fazer tudo ao modo dele, senão ele não aceita. Simplesmente ignora você. Mas se apenas ignorasse ainda seria suportável. Ele responde. Repreende. Corrige. Uma tela vazia, muda, nenhuma reação aos nossos comandos digitais, tudo bem. Quer dizer, você se sente como aquele cara que cantou a secretária eletrônica. É um vexame privado. Mas quando você o manda fazer alguma coisa, mas manda errado, ele diz “Errado”. Não diz “Burro”, mas está implícito. É pior, muito pior. Às vezes, quando a gente erra, ele faz “bip”. Assim, para todo mundo ouvir. Comecei a usar o computador na redação do jornal e volta e meia errava. E lá vinha ele: “Bip!” “Olha aqui, pessoal: ele errou.” “O burro errou!” 

    Outra coisa: ele é mais inteligente que você. Sabe muito mais coisa e não tem nenhum pudor em dizer que sabe. Esse negócio de que qualquer máquina só é tão inteligente quanto quem a usa não vale com ele. Está subentendido, nas suas relações com o computador, que você jamais aproveitará metade das coisas que ele tem para oferecer.
Que ele só desenvolverá todo o seu potencial quando outro igual a ele o estiver programando. A máquina de escrever podia ter recursos que você nunca usaria, mas não tinha a mesma empáfia, o mesmo ar de quem só aguentava os humanos por falta de coisa melhor, no momento. E a máquina, mesmo nos seus instantes de maior impaciência conosco, jamais faria “bip” em público.

    Dito isto, é preciso dizer também que quem provou pela primeira vez suas letrinhas dificilmente voltará à máquina de escrever sem a sensação de que está desembarcando de uma Mercedes e voltando à carroça. Está certo, jamais teremos com ele a mesma confortável cumplicidade que tínhamos com a velha máquina. É outro tipo de relacionamento, mais formal e exigente. Mas é fascinante. Agora compreendo o entusiasmo de gente como Millôr Fernandes e Fernando Sabino, que dividem a sua vida profissional em antes dele e depois dele. Sinto falta do papel e da fiel Bic, sempre pronta a inserir entre uma linha e outra a palavra que faltou na hora, e que nele foi substituída por um botão, que, além de mais rápido, jamais nos sujará os dedos, mas acho que estou  sucumbindo. Sei que nunca seremos íntimos, mesmo porque ele não ia querer se rebaixar a ser meu amigo, mas retiro tudo o que pensei sobre ele. Claro que você pode concluir que eu só estou querendo agradá-lo, precavidamente, mas juro que é sincero.

    Quando saí da redação do jornal depois de usar o computador pela primeira vez, cheguei em casa e bati na minha máquina. Sabendo que ela aguentaria sem reclamar, como sempre, a pobrezinha.


 pronome pessoal reto e adjunto adnominal.

pronome pessoal oblíquo e objeto indireto.

 pronome pessoal oblíquo e complemento nominal. 

Na frase “O camelô ME mostrou uma pequena peça”, o termo “me” é um pronome pessoal oblíquo átono, ou seja, ele não vem acompanhado de preposição e está posicionado na ênfase clítica exigida pela sintaxe do verbo “mostrar” na função de objeto indireto. Esse verbo, quando empregado na sua forma transitiva dupla, admite tanto um objeto direto quanto um objeto indireto. Na construção analisada, “uma pequena peça” é o objeto direto (aquilo que foi mostrado), enquanto “me” corresponde a quem recebeu a ação, ou seja, o objeto indireto (equivalente a “a mim”).

Uma explicação mais detalhada: o pronome “me” está relacionado à pessoa que recebe a ação verbal, sendo subordinado a uma valência verbal que exige o complemento indireto. Vale lembrar que, na gramática normativa, os pronomes pessoais oblíquos (como “me”, “te”, “se”, “nos”, “vos”, “lhe”, “lhes”) desempenham o papel de complementos verbais, podendo indicar tanto objeto indireto quanto objeto direto em casos de cliticismo, conforme o verbo e a construção frasal.

Analisando as alternativas:

<ul style="margin-bottom: 1.5em;">
 <li>A) pronome indefinido e objeto indireto. Incorreto, pois “me” não é pronome indefinido, e sim pessoal.</li>
 <li>B) pronome indefinido e adjunto adnominal. Incorreto, pois “me” não exerce função de adjunto adnominal e, novamente, não é indefinido.</li>
 <li>C) pronome pessoal reto e adjunto adnominal. Incorreto, porque “me” é um pronome pessoal oblíquo, e não reto, e não funciona como adjunto adnominal.</li>
 <li>D) pronome pessoal oblíquo e objeto indireto. Correto, pois “me”, na posição apresentada, atende a ambos os critérios.</li>
 <li>E) pronome pessoal oblíquo e complemento nominal. Incorreto, pois “me” não é um complemento nominal, mas sim o objeto indireto da ação verbal.</li>
</ul>

Alternativa Correta:
Como demonstrado, “me” é um pronome pessoal oblíquo que, na sintaxe da frase, exerce a função de objeto indireto, justificado pelo fato de que designa a pessoa que recebe ou é beneficiada (ou prejudicada) pela ação de “mostrar”.

Gabarito: Letra D

Flanando outro dia pela avenida Rio Branco, vi-me sem querer numa galeria formada por camelôs na cidade do Rio de Janeiro. E, como estava ali, caí na tentação de procurar um objeto: uma lanterninha, daquelas micro, de plástico, a pilha. O camelô me mostrou uma pequena peça, que acoplou a seu celular, e produziu um jatinho de luz. Agradeci e respondi que não me servia – “Não uso celular”, expliquei.

O camelô se escandalizou: “Não usa celular???”, perguntou, com vários pontos de interrogação e num volume que o fez ser ouvido por todo mundo em volta. A frase se espalhou pelos demais camelôs e, em segundos, à medida que eu passava pelo corredor humano, podia sentir os dedos apontados para mim e a frase: “Não usa celular!!!”. Para eles, eu devia equivaler a alguém que ainda não tinha aderido ao banho quente ou à luz elétrica. Acho até que um camelô me fotografou, talvez para mostrar a algum amigo incrédulo – como pode haver, em 2017, quem não use celular? 

Consciente de ser um anacronismo ambulante, confesso-me esta pessoa e me atrevo a dizer que o celular nunca me fez falta – e continua não fazendo. Para me comunicar, vivo hoje mais ou menos como em 1990, quando o treco ainda não existia e nem se pensava no assunto.

Ninguém deixa de falar comigo por falta de telefone. Se estou em casa, atendo àquele aparelho que hoje chamam, com desprezo, de “fixo”. Se tiver de sair, faço as ligações de que preciso e vou alegremente para a rua. Se eu estiver fora e alguém me telefonar, paciência – se for importante, ligará de novo.

Por que não uso celular? Porque, com suas 1001 utilidades, tipo Bombril, ele é capaz de me escravizar. O único jeito é manter-me à distância – até o dia em que, com ou sem ele, provavelmente ficarei inviável de vez.


Questões de Português - Função sintática