Nesta questão, o candidato deve analisar a regência do verbo “sucumbir” em três itens, observando se as relações estabelecidas entre o verbo e seus complementos respeitam as normas da língua portuguesa. A construção padrão, de acordo com o uso consagrado, é a de que “sucumbir” é um verbo intransitivo que normalmente exige complemento introduzido pela preposição “a” – como em “sucumbir à doença” –, não admitindo objeto direto sem a preposição ou complemento mal introduzido.

Análise dos itens:
<ul style="margin-bottom: 1.5em;">
 <li>Item I – “Há leis que sucumbem os indivíduos.” 
 Em muitas situações, especialmente em textos jurídicos e argumentativos, o verbo “sucumbir” pode ser empregado num sentido figurado para indicar que algo “vence” ou “sobrepõe” aos indivíduos. Apesar de o uso mais corrente ser o de “sucumbir a” algo (ex.: “O doente sucumbiu à doença”), há um respaldo interpretativo para a construção em que o sujeito “as leis” atua de modo a causar a “submissão” dos indivíduos, mesmo que essa construção seja menos frequente. Assim, dentro da lógica interpretativa admitida em alguns contextos, pode ser considerada correta a relação ali estabelecida.</li>
 
 <li style="margin-bottom: 1.5em;">Item II – “O doente sucumbiu à doença.” 
 Trata-se da construção mais clássica e adequada para o verbo “sucumbir”. Aqui o complemento “à doença” aparece devidamente introduzido pela preposição “a”, conforme a exigência da regência verbal. Portanto, este item segue rigorosamente a norma culta da Língua Portuguesa.</li>
 
 <li>Item III – “O político sucumbiu-se de transtornos.” 
 Apesar de haver a tentativa pronominal (com o “se”), o erro está na preposição que introduz o complemento. A regência correta, mesmo na forma pronominal, exige a preposição “a”: o correto seria “O político sucumbiu-se a transtornos.” O emprego da preposição “de” caracteriza desvio em relação à norma e, por isso, o item não é considerado correto.</li>
</ul>

Alternativa Correta:
A partir da análise, os itens I e II podem ser considerados corretos em termos da regência do verbo “sucumbir”, enquanto o item III contém erro imperdoável com a preposição inadequada. Assim, a alternativa que se assinala como correta na questão é a que admite somente os itens I e II.

Observa-se que, apesar de haver certa controvérsia quanto ao emprego transitivo ou intransitivo de “sucumbir”, o contexto aplicado e a interpretação admitida em certas leituras jurídicas ou argumentativas permitem a aceitação do item I. O item II, como já mencionado, é um exemplo canônico do uso adequado do verbo.

Portanto, a resposta correta para a questão é:
Gabarito: Letra A

    Nós nunca estivemos tão conectados. As redes sociais podem fortalecer relacionamentos preexistentes e permitir que novas conexões sejam estabelecidas. No entanto, o uso __________ também pode nos fazer sentir mais sozinhos.
    Na Espanha, 92% das pessoas têm um smartphone e o utilizam principalmente para se comunicar por mensagens instantâneas com aplicativos como o WhatsApp. Nós nos comunicamos mais com nossas famílias e amigos por mensagens instantâneas do que face a face. Na verdade, passamos cada vez mais tempo interagindo com a mídia digital. Apesar disso, uma em cada três pessoas se sente solitária.
    A solidão indesejada tem consequências negativas para o __________ e a saúde. Quando persistente, pode levar a mudanças negativas em nossos sistemas nervoso, imunológico e cardiovascular. A solidão indesejada pode até aumentar o risco de morte — na mesma proporção que o fumo e mais do que a obesidade e a inatividade física.
    Então, o contato cara a cara é melhor que a comunicação virtual? Um pilar essencial na felicidade são as relações sociais. As pessoas que têm mais interações sociais face a face estão mais satisfeitas e têm um melhor estado de saúde em comparação com aquelas com uma rede social limitada. Por outro lado, a comunicação por meio de plataformas digitais nos permite nos expressar e construir a comunidade, mas parece ter um efeito negativo na satisfação das pessoas que não têm uma rede de apoio.
    Aplicativos como o WhatsApp nos permitem conectar com qualquer pessoa a qualquer momento. No entanto, a mensagem é mais simples e perdemos as nuances de tom de voz e expressão facial presentes na comunicação face a face, fundamentais para um intercâmbio social adequado. Além disso, parece haver um viés positivista nas comunicações virtuais, nós expomos mais aspectos positivos do que negativos, portanto temos a impressão de que os outros têm uma vida melhor e são mais felizes. Tudo isso pode gerar altos níveis de ansiedade. Experiências negativas em redes sociais, baixa _________ ou uma rede de apoio limitada poderiam ser alguns dos fatores que explicariam esses resultados.


Análise da Questão:

A questão propõe avaliar três afirmativas relacionadas à regência verbal, isto é, à relação que alguns verbos estabelecem com seus complementos, frequentemente exigindo ou não preposição. É fundamental que o candidato conheça, por exemplo, que o verbo "preferir" necessita de uma regência adequada para evitar ambiguidade ou incorreção. Analisemos cada uma das afirmativas abaixo:

<ul style="margin-bottom: 1.5em;">
 <li>1ª afirmação - "Prefiro praia do que piscina.": O verbo "preferir" exige o uso da preposição "a" para marcar a comparação, ou seja, o correto seria dizer “Prefiro a praia à piscina”. Assim, a afirmativa apresenta um erro de regência, marcando-a como Errada (E).</li>
 <li>2ª afirmação - "Assistimos ao final da novela, ontem.": O verbo "assistir", quando empregado com o sentido de “ver” ou “presenciar”, exige a preposição "a". A construção “assistir ao final” está correta, com a devida contração e uso do artigo. Dessa forma, essa afirmativa está Correta (C).</li>
 <li>3ª afirmação - "O não pagamento implica em multa.": O verbo "implicar", no sentido de “acarreta” ou “significa ter por consequência”, é transitivo indireto ou mesmo transitivo direto, não exigindo a preposição “em”. O uso de "em" é considerado incorreto nesse contexto, tornando a afirmativa Errada (E). </li>
</ul>

A correta identificação da regência dos verbos apresentados e o conhecimento das preposições exigidas em cada contexto são essenciais para garantir a clareza e precisão na comunicação, aspecto muito valorizado em concursos públicos. Cada verbo possui suas particularidades, e nesse caso, apontamos que a alternativa correta é aquela que classifica as afirmativas na seguinte ordem: E (para a 1ª), C (para a 2ª) e E (para a 3ª).

Portanto, de acordo com a análise exposta, a resposta correta para a questão é a Alternativa D.

Gabarito: Letra D

    Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido juntos e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.
    Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar. Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender. Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.
    Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.
    Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz. Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: Se iludindo menos e vivendo mais!
    A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional...


 Muitos indivíduos visam da segurança de uma escolha e evitam a incerteza de uma decisão.

 A audácia não costuma ser uma característica daqueles que aspiram uma vida segura e previsível.

 Ao tomar decisões, uma pessoa nem sempre obedece a critérios racionais e lógicos.

 Fazer escolhas e tomar decisões são atitudes que decorrem a processos distintos.

 Há pessoas que são pouco ousadas e almejam de uma vida sem sobressaltos.

Nesta questão, o foco é a análise da regência nominal e verbal, isto é, a observância das relações corretas entre os termos da oração, tanto no que se refere a nomes quanto a verbos.

Análise das Alternativas:

<ul style="margin-bottom: 1.5em;">
 <li>Alternativa A: "Muitos indivíduos visam da segurança de uma escolha e evitam a incerteza de uma decisão." 
 Aqui, o verbo “visar” é transitivo indireto com a regência adequada “visar a” algo, e não “visar de”. Dessa forma, o uso da preposição “de” torna a frase inadequada em conformidade com a norma-padrão.</li>
 
 <li style="margin-bottom: 1.5em;">Alternativa B: "A audácia não costuma ser uma característica daqueles que aspiram uma vida segura e previsível." 
 Apesar da primeira parte da frase estar adequada, o verbo “aspirar” exige a preposição “a”, ou seja, o correto seria “aspiram a uma vida segura e previsível”. Portanto, a regência verbal nesta alternativa está equivocada.</li>
 
 <li style="margin-bottom: 1.5em;">Alternativa C: "Ao tomar decisões, uma pessoa nem sempre obedece a critérios racionais e lógicos." 
 Esta alternativa está correta, pois o verbo “obedecer” rege a preposição “a”, conforme o uso padrão: alguém obedece a algo ou a alguém. A estrutura sintática da frase cumpre precisamente essa exigência, estando, portanto, em conformidade com a norma-padrão.</li>
 
 <li style="margin-bottom: 1.5em;">Alternativa D: "Fazer escolhas e tomar decisões são atitudes que decorrem a processos distintos." 
 O verbo “decorrem” exige a preposição “de” (“decorrem de processos”), e o uso apenas de “a” está incorreto quanto à regência verbal.</li>
 
 <li style="margin-bottom: 1.5em;">Alternativa E: "Há pessoas que são pouco ousadas e almejam de uma vida sem sobressaltos." 
 O verbo “almejar” é transitivo direto, não requerendo preposição; portanto, o correto seria “almejam uma vida sem sobressaltos”, o que mostra que a inserção da preposição “de” nesta frase é inadequada.</li>
</ul>

Alternativa Correta:

A alternativa C é a única em conformidade com as regras de regência verbal e nominal, demonstrando a correta utilização da preposição “a” com o verbo “obedecer”. Assim, a frase “Ao tomar decisões, uma pessoa nem sempre obedece a critérios racionais e lógicos” está escrita de acordo com a norma-padrão da Língua Portuguesa.

Gabarito: Letra C

Análise Geral da Questão:

A questão apresentada exige o conhecimento da regência nominal e verbal, sendo necessário preencher três lacunas com as preposições ou artigos corretos, de modo a respeitar o uso consagrado pela norma culta da Língua Portuguesa. Para isso, analisaremos cada um dos contextos apresentados no enunciado, justificando o uso adequado das opções “sobre”, “sob” e “a”.

Primeiro Espaço:
<ul style="margin-bottom: 1.5em;">
 <li>Contexto: “lança luz [___]SOB/SOBRE a importância...”</li>
 <li>Análise: A expressão “lançar luz sobre” é a forma padrão e idiomática para indicar o esclarecimento ou a ênfase em determinado tema. Assim, deve-se utilizar “sobre”, uma vez que é essa a preposição consagrada na locução.</li>
</ul>

Segundo Espaço:
<ul style="margin-bottom: 1.5em;">
 <li>Contexto: “ordenando a retirada da música ... [___]SOB/SOBRE pena de multa diária...”</li>
 <li>Análise: No contexto jurídico, a expressão “sob pena de” indica a consequência em caso de descumprimento de uma determinação. O uso correto é “sob”, pois reforça a ideia de uma sanção imediata e indiscutível, diferenciando-se de “sobre”, que não possui função prepositiva nesse contexto.</li>
</ul>

Terceiro Espaço:
<ul style="margin-bottom: 1.5em;">
 <li>Contexto: “Isso pode acarretar [___]A/NA perda de receitas consideráveis...”</li>
 <li>Análise: No uso da locução verbal “acarretar”, o complemento que indica consequência exige a preposição “a”. Portanto, “acarretar a perda” é a forma regida adequadamente, em que o artigo “a” integra a regência do verbo e completa o sentido da ação. O uso da preposição “na” não condiz com a norma culta neste contexto.</li>
</ul>

Cada espaço, portanto, necessita ser completado com a palavra adequada, resultando na sequência “sobre | sob | a”, que atende aos padrões de regência estabelecidos na norma. A escolha correta respeita tanto expressões idiomáticas (“lançar luz sobre”) quanto construções jurídicas (“sob pena de”) e a regência verbal (“acarretar a perda”).

Dessa forma, a alternativa que apresenta a sequência correta é a que utiliza “sobre” na primeira lacuna, “sob” na segunda e “a” na terceira.

Gabarito: Letra A

<center>22/01/2025 | Por Juliano Félix de Souza | Advogado especialista em Proteção Intelectual do escritório Escobar Advocacia</center>


 A recente decisão liminar da 6ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, que determinou a suspensão da música “Million Years Ago”, lançada pela cantora britânica Adele em 2015, por considerá-la plágio da canção “Mulheres”, composta por Toninho Geraes e gravada em 1995 por Martinho da Vila, lança luz [___]SOB/SOBRE a importância da proteção dos direitos autorais, especialmente no contexto empresarial. O juiz do caso reconheceu a “INDISFARÇÁVEL/INDISFARSÁVEL simetria” entre as melodias das duas obras, ordenando a retirada da música de todas as plataformas digitais, [___]SOB/SOBRE pena de multa diária de R$ 50 mil em caso de descumprimento.

 No universo jurídico, o plágio é definido como a cópia não autorizada de uma obra intelectual, configurando violação dos direitos do autor. No Brasil, a Lei de Direitos Autorais (Lei nº 9.610/1998) protege as criações intelectuais, assegurando aos autores o direito exclusivo sobre suas obras. A Convenção de Berna, da qual o Brasil é SIGNATÁRIO/SIGUINATÁRIO, ESTENDE/EXTENDE essa proteção internacionalmente, garantindo que os direitos autorais sejam respeitados além das fronteiras nacionais.

 Esse caso não é isolado. Em 1978, o cantor britânico Rod Stewart lançou “Da Ya Think I’m Sexy?”, ______ melodia apresentava semelhanças com “Taj Mahal”, de Jorge Ben Jor. Após alegações de plágio, Stewart ADMITIU/ADIMITIU a influência involuntária e acordou que os lucros da canção fossem destinados ao Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

 Outro exemplo envolve a banda britânica The Rolling Stones, que em 1968 lançou “Sympathy for the Devil”. A canção apresenta similaridades com “Sá Marina”, de Antônio Carlos e Jocafi, lançada no mesmo ano. Embora não tenha havido ação judicial, o caso é frequentemente citado em discussões sobre plágio na música.

 As consequências do plágio na economia digital vão muito além da indenização devida ao autor. O infrator, além de arcar com os custos judiciais e os valores compensatórios, enfrenta prejuízos significativos decorrentes da indisponibilidade da música em plataformas de streaming, principal canal de consumo musical na atualidade. Isso pode acarretar [___]A/NA perda de receitas consideráveis, impactando contratos publicitários e royalties. Soma-se a isso o pagamento de eventuais RECISÕES/RESCISÕES contratuais com gravadoras, distribuidoras e parceiros comerciais, além do desperdício do custo de produção da obra retirada de circulação.

 Por fim, o impacto reputacional é incalculável: a marca do artista e de sua equipe sofre danos que podem comprometer futuras colaborações e contratos. Em um mercado tão competitivo e globalizado, o plágio não é apenas uma violação legal, mas também um grande erro estratégico e financeiro.

Nesta questão, analisamos a oração “Minha avó tentou me explicar que Jesus não era Deus” com foco na regência verbal do verbo “explicar”. Observa-se que o verbo “explicar” exige a presença de dois complementos: um objeto direto e um objeto indireto. Isso significa que ele demanda, necessariamente, tanto o elemento que representa aquilo que está-a ser explicado quanto o elemento para quem se explica.

No caso em questão, “que Jesus não era Deus” funciona como uma oração subordinada substantiva completiva, cumprindo o papel de objeto direto do verbo “explicar”, pois responde à pergunta “explicar o quê?”. Já o pronome “me” é o objeto indireto, representando a pessoa a quem a explicação foi direcionada, ou seja, o receptor da ação, correspondendo à regra “explicar algo a alguém” (ou “a alguém” representado pelo pronome “me”).

Para exemplificar, considere a frase: “O professor explicou o conteúdo aos alunos”. Aqui, “o conteúdo” é o objeto direto, enquanto “aos alunos” é o objeto indireto. Analogamente, na frase do enunciado, “que Jesus não era Deus” é o conteúdo explicado e “me” designa a pessoa a quem se dirige a explicação. Portanto, a construção “explicar algo para alguém” exige a presença desses dois complementos, reforçando a resposta correta.

Alternativa Correta:
A alternativa B está correta, pois evidencia que o verbo “explicar”, no contexto apresentado, rege um objeto direto (a oração “que Jesus não era Deus”) e um objeto indireto (indicado pelo pronome “me”).

Gabarito: Letra B

<center>O papa vai ao banheiro?</center>
Por Tiago Germano
 No terceiro mês do catecismo, o padre nos deu a chance esperada: depois de doze semanas de aulas e de leituras bíblicas, tão pouco frequentadas quanto pouco entendidas, podíamos perguntar o que quiséssemos.
 Fui o primeiro a erguer o braço. O padre, encanecido, pediu que eu me levantasse. Com a coragem que hoje, nos eventos de que participo, procuro, mas não acho, arranquei do fundo da alma a dúvida atordoante: “Padre, o Papa vai ao banheiro?” 
 A morte de João Paulo II, em meio à comoção mundial gerada pelo seu funeral, em 2005, me trouxe de volta essa lembrança distante. Junto com ela, o medo que eu sentia na infância daquele homem, do quadro que minha avó conservava pendurado ao lado da imagem de Jesus.
 Eu não sabia a diferença entre Jesus e Deus. Minha avó tentou me explicar que Jesus não era Deus, mas que também podia ser.
Que foi humano por 33 anos, mas que depois que morreu virou uma pomba. Nesse dia, descobri que o Papa tinha um papamóvel (o que fazia dele quase um herói de história em quadrinho) e que, se o Papa comia, ele também tinha que ir obrigatoriamente ao banheiro. A minha avó só não conseguiu me esclarecer por que João Paulo II lia os discursos tão devagar, como se não tivesse passado da alfabetização, ele que, segundo ela, era um dos homens mais inteligentes do mundo, sabia todas as línguas faladas por todos os povos.
Na verdade, continuei com um medo brutal do Papa. Todos choravam quando se aproximavam dele.
 Nunca imaginei, por exemplo, o Papa jovem, até que vi uma foto dele um pouco mais novo do que eu era naquela época.
Careca, como sempre. Branco, como sempre. Mas humano, sem a aura de santidade que tanto me assombrava. Décadas depois, quando o vi ali, morto, estendido aos olhos da multidão, compreendi que a humanidade do Papa estava muito além das minhas cogitações infantis.
 Ainda hoje me pego imaginando o Papa no banheiro, as vestes santas despidas do corpo enorme, e rio o riso proibido do catecismo. A última imagem que guardarei do Papa João Paulo II, o único e verdadeiro Papa da minha geração, é a de sua dor, que o igualou a cada ser humano neste planeta. Uma dor como a de Jesus, que era humano mas que também era Deus. E que talvez também fosse ao banheiro, mas só de vez em quando.

Questões de Português - Regência nominal e verbal