O que vemos depende, necessariamente, do que fazemos.

A função do educador é, antes de tudo, a de ensinar a ver.

Não obstante a física dos olhos seja relativamente simples, o ato de ver não o é.

Por contraposição à maioria dos adultos, as crianças têm um olhar lúdico.

E aí, tranquilo? Vamos dar uma olhada nessa questão da Fundação Mariana Resende Costa sobre compreensão de texto. A questão aqui é identificar o item que não condiz com o texto, e isso exige que a gente entenda a mensagem principal do autor. Vamos nessa!
 
O texto gira em torno de uma ideia bem bacana: a capacidade de ver o mundo de maneira poética e profunda, algo que vai além da simples percepção visual. O autor usa várias referências a poetas e filósofos para mostrar como nossa visão do mundo pode ser transformada pela arte e pela poesia.
 
Vamos às alternativas:
 
<ul>
<li>Alternativa A: "O que vemos depende, necessariamente, do que fazemos." - O texto sugere exatamente o oposto. Por exemplo, a mulher simplesmente cortava cebolas, uma ação banal, e terminou tendo uma experiência estética profunda. Logo, essa alternativa está em desacordo com o texto.</li>
<li>Alternativa B: "A função do educador é, antes de tudo, a de ensinar a ver." - Esta afirmação alinha-se diretamente com a ideia do texto de que aprender a ver o mundo é uma habilidade essencial que deve ser cultivada.</li>
<li>Alternativa C: "Não obstante a física dos olhos seja relativamente simples, o ato de ver não o é." - Isso é confirmado pelo texto, que destaca a complexidade de realmente "ver" para além da percepção superficial.</li>
<li>Alternativa D: "Por contraposição à maioria dos adultos, as crianças têm um olhar lúdico." - O texto valoriza a capacidade natural das crianças de ver maravilhas no cotidiano, o que está totalmente em linha com essa alternativa.</li>
</ul>
 
Resumindo, a alternativa A é a que não está de acordo com o conteúdo do texto, pois sugere uma relação de dependência entre ação prática e percepção que o texto claramente questiona.
 
alternativa correta é A

Ela entrou, deitou-se no divã e disse: “Acho que estou ficando louca”. Eu fiquei em silêncio aguardando que 
ela me revelasse os sinais da sua loucura. “Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebo-
las, os tomates, os pimentões – é uma alegria! Aconteceu, entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para 
fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Entretanto, cortada a cebo-
la, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajus-
tados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De re-
pente a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo 
aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora tudo o que vejo me causa espanto...” Ela se calou, 
esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui até a estante de livros e de lá retirei as “Odes Elementales”, de 
Pablo Neruda. Procurei a “Ode à cebola” e lhe disse: “Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os 
poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: “...rosa de água com es-
camas de cristal...” Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver.” 
Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais 
fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física ótica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de 
fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física. William Blake sabia 
disso é afirmou: “A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê”. Sei isso por experiência própria. 
Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. 
Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa, 
porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo. 
A Adélia Prado diz: “Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra”. O 
Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema. 
Há muitas pessoas de visão perfeita que nada veem. “Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as 
flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios”, escreveu Alberto Caeiro. O ato de ver não é coisa 
natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação era ensinar a 
ver. O Zen Budismo concorda e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada “satori”, a abertu-
ra do “terceiro olho”. Não sei se Cummings se inspirava no Zen Budismo, mas o fato é que escreveu: “Agora os 
ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram...” 
Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus Res-
suscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão “os seus olhos se abri-
ram”. Vinícius de Moraes adota o mesmo mote no “Operário em Construção”: “De forma que, certo dia, ao cortar o 
pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção ao constatar assombrado que tudo naquela mesa – garrafa, 
prato, facão – era ele quem fazia, ele, um humilde operário, um operário em construção”. 
A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na Caixa de Ferramentas 
eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, no-
mes de ruas – e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre. Os 
olhos não gozam... Mas, quando os olhos estão na Caixa dos Brinquedos, eles se transformam em órgãos de 
prazer: brincam com o que veem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo. 
Os olhos que moram na Caixa de Ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na Caixa dos 
Brinquedos são os olhos das crianças. Para ter olhos brincalhões é preciso ter as crianças por nossas mestras. 
Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra 
vez criança, eternamente: “A mim ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coi- 
sas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as tem na mão e olha devagar 
para elas...” 
Por isso, porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver, eu gostaria de sugerir que se 
criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar para os 
assombros que crescem nos desvão da banalidade cotidiana. Como o Jesus Menino do poema do Caeiro. Sua 
missão seria partejar “olhos vagabundos...”

Sei isso por experiência própria. (2º §)

Quando vejo os ipês floridos sinto-me como Moisés, diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. (2º §)

O Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. (3º §)

“Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e 
os rios.” (4º §)

Vamos quebrar a questão para entender melhor, sem deixar nenhuma casca de cebola para trás, beleza? A questão pede a identificação do trecho que não apresenta intertextualidade, ou seja, a referência direta ou indireta a outros textos, autores ou obras.

 

Olhando as alternativas:
<ul>
<li>Alternativa A: "Sei isso por experiência própria." (2º §) - Este trecho é uma afirmação pessoal do autor, sem referências explícitas ou implícitas a outros textos ou autores.</li>
<li>Alternativa B: "Quando vejo os ipês floridos sinto-me como Moisés, diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado." (2º §) - Aqui há uma clara referência bíblica ao episódio de Moisés e a sarça ardente, mostrando intertextualidade.</li>
<li>Alternativa C: "O Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra." (3º §) - Isso remete ao famoso poema "No Meio do Caminho" de Carlos Drummond de Andrade, onde a pedra é um elemento central. </li>
<li>Alternativa D: “Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios.” (4º §) - Essa fala é uma citação direta de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa, mostrando intertextualidade.</li>
</ul>

 

Com isso, percebemos que a alternativa A não faz referências a outras obras ou autores, sendo um comentário exclusivo do autor da narrativa. Portanto, é a alternativa que não apresenta intertextualidade, enquanto as demais alternativas demonstram clara conexão com outros textos.

 

Alternativa correta é A.

Essa questão foca na habilidade de interpretar e entender a essência e tema de um texto. O texto selecionado aborda a complexidade da visão e percepção, salientando como elementos cotidianos podem ser vistos com um olhar artístico ou poético, transformando o banal em algo extraordinário. Ao analisar as opções de título, percebemos que as alternativas A, B e C ("Para ver, não basta não ser cego", "A arte de ver" e "Ensinar a ver") conectam-se diretamente com o tema central do texto. Elas enfatizam que o ato de ver é mais do que uma função biológica; é uma capacidade que pode ser cultivada, enriquecida pela poesia, arte e sensibilidade. Esses títulos sugerem que para realmente "ver" algo, um indivíduo precisa aprender a perceber e apreciar além do óbvio. Contudo, a alternativa D ("Ver para crer") detém um significado distinto. Essa expressão costuma ser empregada para indicar que só se deve acreditar em algo ao vê-lo com os próprios olhos, frequentemente em um contexto de dúvida ou ceticismo. Esse conceito está menos alinhado com a ideia do texto, que argumenta a favor de uma visão elevada e metafórica, além da simples verificação física ou factual. Portanto, a escolha da alternativa D como a que não se adequa expõe a discrepância entre a metáfora profunda do texto sobre "ver" e o entendimento superficial expresso pelo ditado "ver para crer".A alternativa correta é D.

“...rosa de água com escamas de cristal...” (1º §)

Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui até a estante de livros e de lá retirei as “Odes 
Elementales”, de Pablo Neruda. (1º §)

A  Adélia Prado diz: “Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra”. 
(3º §)

“Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram...” (4º §)

Vamos dissecar o uso das aspas em cada uma das alternativas mencionadas na questão, centrando nossa atenção na função que elas desempenham no texto e encontrando a que difere das demais.

 

Na alternativa A, as aspas são usadas para citar um verso de Pablo Neruda que compara uma cebola a uma "rosa de água com escamas de cristal". Aqui, as aspas indicam uma citação direta de uma obra poética, evidenciando o uso das aspas para introduzir a fala de outra pessoa ou uma obra escrita.

 

Na alternativa B, as aspas marcam o título do livro "Odes Elementales", de Pablo Neruda. Este é um uso clássico das aspas, para destacar títulos de obras literárias ou artísticas, diferenciando-se do uso citacional que observamos na alternativa A.

 

Na alternativa C, as aspas são novamente utilizadas para citar diretamente Adélia Prado, que expressa uma experiência pessoal por meio de uma frase poética. Assim como na alternativa A, o uso das aspas aqui é para destacar uma fala direta de outra pessoa.

 

Finalmente, na alternativa D, as aspas são empregadas para destacar uma citação de E. E. Cummings, transmitindo um pensamento profundo sobre a percepção sensorial. Este uso mantém a convergência com as alternativas A e C, onde as aspas introduzem expressões literárias ou falas de outras pessoas.

 

A dissonância ocorre na alternativa B, onde as aspas são usadas especificamente para indicar o título de uma obra, enquanto nas outras alternativas servem principalmente para indicar citações de falas ou pensamentos literários de pessoas específicas.

 

A alternativa correta é B.

O autor desenvolve sua argumentação a partir de uma narrativa.

Na construção de seu texto, o autor recorre a outros autores.

O texto apresenta sequências descritivas.

Trata-se de um texto essencialmente narrativo.

Olá! Vamos decifrar juntos essa questão um pouco labiríntica, direto do repertório da Fundação Mariana Resende Costa, uma banca que adora entrelaçar literatura e língua em suas perguntinhas de português.
 
Partindo do enunciado, temos uma citação que introduz uma conversa entre duas pessoas sobre a percepção alterada - quase poética - de objetos cotidianos. De primeira, já notamos um tom bem pessoal e humanizado, uma marca de gênero textual unindo o narrativo e o expositivo.
 
Vamos analisar as alternativas:
<ul>
<li>A) O autor desenvolve sua argumentação a partir de uma narrativa. Isso é verdade! A argumentação não é jogada aleatoriamente; ela segue uma linha narrativa e se constrói em torno do diálogo entre as personagens e da introspecção do narrador.</li>
<li>B) Na construção de seu texto, o autor recorre a outros autores. Correto também. O texto é uma mina de ouro de referências literárias, mencionando Pablo Neruda, William Blake, Adélia Prado, entre outros.</li>
<li>C) O texto apresenta sequências descritivas. Certíssimo! As descrições das sensações ao cortar as cebolas, tomates e pimentões ou até a visão poética das árvores ilustram isso claramente.</li>
<li>D) Trata-se de um texto essencialmente narrativo. E aqui está a pegadinha caríssima. Ainda que haja elementos narrativos, o texto vai além, entrelaçando exposições e reflexões filosóficas. Não é "essencialmente" narrativo; na real, ele é um híbrido fascinante.</li>
</ul>
 
O texto é uma mistura rica que usa a narrativa como um meio, mas não se limita a ela. Aborda reflexões profundas sobre a natureza da percepção, citando obras e pensamentos de vários autores e filosofias. A narrativa serve mais como um trampolim para essas ideias.
 
Portanto, a alternativa correta é D.

Questões de Concurso Prefeitura Municipal de Paracatu/MG