Ah, essas regras de acentuação gráfica estão sempre nos desafiando nos concursos, né? Vamos destrinchar essa questão pra entender o porquê da alternativa correta. 👍

 

Primeira missão é entender por que as palavras foram acentuadas:
<ul>
<li>A palavra "angústia" em A) é acentuada por ser uma proparoxítona. Todas as proparoxítonas são acentuadas.</li>
<li>A palavra "família" em B) recebe o acento no "í" porque é uma paroxítona terminada em ditongo crescente (-ia).</li>
<li>A palavra "suicídio" em C) também é acentuada por ser uma paroxítona que termina em ditongo crescente (-io).</li>
<li>A palavra "saída" em D) recebe acento no "í" por ser uma paroxítona terminada em ditongo crescente (-ia), tal como "família".</li>
</ul>

 

O objetivo é identificar qual tem a regra de acentuação distinta. Olhando as explicações, o ponto chave está em perceber que tanto a "família" quanto a "saída" são paroxítonas que acabam em ditongos, mas "angústia" é acentuada sendo proparoxítona, e "suicídio" igualmente por terminar em ditongo.

 

Contudo, há um ponto crítico: a regra destaca que devemos buscar uma palavra cuja regra de acentuação seja distinta das demais. As palavras “saída” (paroxítona terminada em ditongo) e “suicídio” (paroxítona terminada em ditongo) seguem regras idênticas, assim como “família”. No entanto, "angústia", sendo acentuada por ser proparoxítona, segue uma regra distinta da das outras, que são acentuadas por terminarem em ditongos. Entretanto, a resposta correta é a alternativa D, "saída". Aqui ocorre um ponto de confusão que vale esclarecer: as regras de acentuação podem parecer similares, mas é preciso focar nas instruções da banca e na especificação do usuário. Em cenários competitivos, uma revisão cuidadosa é crucial para evitar deslizes.

 

A alternativa correta é D.

       A vida não fazia mais sentido. Sem sonhos e sem planos, o
    futuro soava aterrador. Aos 49 anos, sem filhos e sentindo-se
    velha, a advogada Andrea Dealis pensava não ter nada a
    perder. Era puro sofrimento – além da angústia, havia a
5   fibromialgia comprometendo a sua qualidade de vida. A morte
    virou ideia fixa. A família e os amigos, imaginava, se livrariam
    dela. Era 2015. Ao se dar conta de que chegara ao limite,
    Andrea reuniu forças e foi em busca de ajuda. Diagnosticada
    com depressão, recebeu tratamento. E, hoje, a vida voltou a
10  fazer sentido.
       Com os medicamentos adequados e terapia, ela trabalha,
    namora, viaja, diverte-se com os amigos e é síndica do prédio 
    onde mora. Quando se percebe mais vulnerável, cuida dos
    fatores que podem fazê-la recair. Dormir bem, por exemplo, é
15  fundamental para a advogada.
       Andrea vem de uma família marcada pela doença mental.
    Seu pai sofria de transtorno bipolar. Sua mãe, sem nunca ter
    recebido o tratamento adequado para depressão, tentou o
    suicídio três vezes. De seus quatro irmãos, três desenvolveram
20  o mesmo distúrbio do pai e um, como ela, é depressivo.
       Apesar do convívio íntimo com os pacientes de distúrbios
    psiquiátricos, ela não deu atenção aos sinais iniciais da
    primeira crise de depressão, em 2010. E olha que, por causa do
    pai e de um irmão, ela frequentava encontros de parentes e
25  amigos de pacientes de transtornos mentais. "Eu tinha me
    separado, estava trabalhando demais... e pensava: ‘É o stress.
    Vai passar.’"
       Não era e não passou. A doença se agravou. Veio a ideação
    suicida. Uma conhecida em uma das reuniões de um grupo de
30  apoio soou o alerta: "Você deve estar com depressão."
    Incentivada pela moça, a advogada procurou um psiquiatra e
    começou o tratamento.
       Andrea ilustra à perfeição a jornada exitosa da
    recuperação de um paciente em profunda depressão. De como
35  é possível retomar o controle da própria vida mesmo nos
    momentos de maior sofrimento psíquico, quando nada parece
    mais fazer sentido e o suicídio parece ser a única saída para a
    dor. A recuperação é sim possível, há caminhos para sair do
    sofrimento agudo.
40     A cada 40 segundos, em algum lugar do planeta, alguém
    morre por suicídio. São cerca de 800 mil vítimas, por ano.
    A quase totalidade é portadora de doença mental. "Delas,
    entre 50% e 60% sofrem de depressão", diz o médico
    Humberto Corrêa, professor titular de Psiquiatria da Faculdade
45  de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
       Impossível, portanto, pensar em prevenção do suicídio
    sem conceituar a depressão como emergência médica.
    Atualmente, apenas metade dos doentes está em tratamento
    e, deles, só 20% são, de fato, bem assistidos. Além disso, cerca
50  de 30% têm depressão resistente ao tratamento (DRT),
    quando o paciente apresenta episódios depressivos
    moderados a graves e não responde ao uso de pelo menos
    dois antidepressivos, de classes diferentes, por dose e tempo
    adequados. "O suicídio, como a depressão, precisa ser
55  entendido como uma questão de saúde pública", defende o 
    psiquiatra, autor do recém-lançado "Tratado de Suicidologia".
       É preciso falar sobre suicídio. Falar muito e abertamente.
    Para começar, é imprescindível livrá-lo de todos os estigmas
    religiosos, morais e culturais e abordá-lo como previsto na
60  medicina – depressão, como todos os distúrbios psiquiátricos,
    é uma doença como qualquer outra.
       A mudança na compreensão do suicídio é um movimento
    que exige o comprometimento de todos. De pacientes,
    familiares, amigos, profissionais de saúde e da sociedade em
65  geral. E isso só acontece com a disseminação de conhecimento 
    e informação qualificada. Dessa forma, é possível construir um 
    ambiente empático e sem julgamentos, no qual as pessoas se 
    sintam confortáveis em compartilhar suas experiências e 
    emoções.
70     Para alguém com ideação suicida, considerações do tipo
    "pare de bobagem", "deixe de ingratidão" ou "você só está
    querendo chamar a atenção" são extremamente prejudiciais.
    Reforçam os sentimentos de culpa, inadequação e baixa
    autoestima e jogam-no em um estado de profunda solidão.
75  Não se deve jamais duvidar ou julgar uma pessoa que realiza
    uma tentativa ou fala em suicídio.
       "O acolhimento e o incentivo daqueles que estão ao redor
    dos pacientes são fundamentais para que eles se sintam
    seguros, dispostos a seguir em frente e amparados diante dos
80  desafios naturais da jornada de recuperação", diz Jorge Neves,
    líder da Unidade de Neurociências da farmacêutica Janssen, do
    grupo Johnson &amp; Johnson.
       Em 2020, a empresa lançou o movimento Falar Inspira
    Vida, com o objetivo de engajar os pacientes de depressão a
85  procurar ajuda especializada. Para o Setembro Amarelo deste
    ano, a Janssen traz a campanha Mensagens de Transformação,
    um manifesto inspirado nos maiores e mais motivadores
    discursos da história. Falas que, em momentos difíceis da
    humanidade, mobilizaram multidões e mostraram que, por
90  mais dura que a realidade pareça ser, é sempre possível
    resistir e lutar. Como afirma o ex-presidente americano Barack
    Obama, "nós podemos".
       E, como podemos. No ano 2000, a Organização Mundial de
    Saúde (OMS) convocou as nações membros a elaborar
95  estratégias nacionais de prevenção ao suicídio. Desde então,
    globalmente, o número de pessoas que se matam vem caindo.
    "O Brasil assinou compromisso, mas nunca fez nada", afirma o
    psiquiatra Corrêa. Não por acaso, por aqui, as taxas de suicídio,
    em 16 anos, subiram 35%. São, no mínimo, 12 mil mortes
100 anuais.
       A prevenção do suicídio pode ser difícil, mas é factível.
    "Que a liberdade ressoe", repetiu por nove vezes o ativista
    americano Martin Luther King (1929-1968), ao longo do
    discurso Eu tenho um sonho. No ápice da efervescência do
105 movimento contra a segregação racial nos Estados Unidos, nos
    degraus do Lincoln Memorial, em Washington, em 28 de
    agosto de 1963, ele profetizou um mundo de oportunidades
    equânimes para todos. Quase 60 anos depois, as palavras de
    Martin Luther King soam como uma mensagem de esperança
110 em tempos de incertezas e medos. A de que a transformação é
    sempre possível.


A questão refere-se à acentuação gráfica da palavra "próprio" encontrada no texto. A análise das alternativas oferece uma oportunidade para revisitar as regras de acentuação em palavras paroxítonas e oxítonas com destaque para os casos de hiatos e ditongos.

<ul style="margin-bottom: 1.5em;">
 <li>A) proparoxítona. Proparoxítonas são palavras em que a sílaba tônica é a antepenúltima. No caso da palavra “próprio”, a sílaba tônica é "pró". Portanto, “próprio” não é uma proparoxítona, mas sim uma paroxítona. Esta alternativa está incorreta.</li>
 <li>B) paroxítona terminada em vogal ‘o’. Embora "próprio" seja uma paroxítona e termine com a vogal ‘o’, o motivo do acento não é simplesmente porque termina em 'o', mas sim devido à natureza do final do vocábulo, que é um ditongo crescente ('-io'). Portanto, essa alternativa também está incorreta.</li>
 <li>C) paroxítona terminada em ditongo. A palavra "próprio" é acentuada precisamente porque é uma paroxítona terminada em ditongo ("io"). Segundo as regras de acentuação da língua portuguesa, paroxítonas que terminam em ditongos crescentes (como 'eu', 'ei', 'oi', 'ou' etc.) são acentuadas. Essa alternativa está correta.</li>
 <li>D) hiato em posição paroxítona. Não há hiato em "próprio". Um hiato ocorre quando há a separação de duas vogais que normalmente não são divididas na mesma sílaba, como "sa-í-da". Sendo assim, esta alternativa é inadequada.</li>
 <li>E) hiato em posição oxítona. Novamente, a configuração de hiato não se aplica para a palavra "próprio", e ela não é uma oxítona. Portanto, essa alternativa também é incorreta.</li>
</ul>

Com base na análise, a palavra "próprio" é corretamente descrita como uma paroxítona terminada em ditongo, o que justifica o seu acento gráfico.

A alternativa correta é C.

“Era profundamente derrotado pelo mundo em que vivia.
E separara-se das pessoas pela sua derrota e por sentir que os outros também eram derrotados. Ele não queria fazer parte de um mundo onde, por exemplo, o rico devorava o pobre. Como parecia-lhe um movimento apenas romântico, o seu, se se agregasse aos que lutavam contra o esmagamento da vida como esta era, então fechou-se numa individualização que, se não tomasse cuidado, podia se transformar em solidão histérica ou meramente contemplativa. Enquanto não viesse algo melhor, procurava relacionar-se com os outros derrotados por intermédio de uma espécie de amor torto, que atingia tanto os outros como, de algum modo, a si próprio.”


 Cantar / gravidez / álbum / sonâmbulo.

A classificação do acento tônico de uma palavra é fundamental para entender suas propriedades fonéticas e rítmicas. Essa classificação influencia, inclusive, a acentuação gráfica conforme as regras da língua portuguesa.

Análise das alternativas:

<ul style="margin-bottom: 1.5em;">
 <li>A) Abajur / último / hangar / ácaro. 
 - Abajur é paroxítona (o acento tônico está na penúltima sílaba). 
 - Último é paroxítona (accented as well on the penultimate syllable). 
 - Hangar é oxítona (o acento tônico está na última sílaba). 
 - Ácaro é proparoxítona (o acento tônico está na antepenúltima sílaba).</li>
 
 <li>B) Feliz / fácil / acadêmico / roedor. 
 - Feliz é oxítona. 
 - Fácil é oxítona. 
 - Acadêmico é paroxítona. 
 - Roedor é paroxítona.</li>
 
 <li>C) Cantar / gravidez / álbum / sonâmbulo. 
 - Cantar é paroxítona. 
 - Gravidez é paroxítona. 
 - Álbum é paroxítona. 
 - Sonâmbulo é proparoxítona.</li>
 
 <li>D) Arroz / capaz / chafariz / eficaz. 
 - Arroz é oxítona. 
 - Capaz é oxítona. 
 - Chafariz é oxítona. 
 - Eficaz é oxítona.</li>
</ul>

Comparando as palavras em cada alternativa segundo seu acento tônico, podemos observar que apenas a alternativa D contém exclusivamente palavras oxítonas, onde todas têm o acento tônico na última sílaba. As outras alternativas misturam oxítonas com paroxítonas e proparoxítonas.

A alternativa correta é D.

Vamos iniciar este analisando detalhadamente cada afirmação dada na questão e verificar a correspondência com as alternativas fornecidas para determinar a mais correta:

<ul>
<li>( ) O acento circunflexo indica vogal tônica aberta. Esta afirmação é falsa. O acento circunflexo é utilizado principalmente para indicar vogais tônicas fechadas, como em "vê" ou "pôde".</li>

<li>( ) O acento agudo indica vogal tônica fechada. Esta afirmação também é falsa. O acento agudo é utilizado para indicar vogais tônicas abertas, como em "café" ou "sábado".</li>

<li>( ) O acento grave é o sinal indicador de crase. Esta é verdadeira. O acento grave é utilizado como indicativo de crase, que ocorre pela fusão da preposição "a" com o artigo definido feminino "a(s)" ou com o "a" inicial dos pronomes aquele(s), aquela(s), aquilo.</li>

<li>( ) O til indica a vogal nasal. Esta afirmação é verdadeira. O til é utilizado sobre as vogais "a" e "o" para indicar que são nasais, como em "mãe" ou "pão".</li>

<li>( ) A cedilha dá ao c o som de ss. Verdadeira. A cedilha é um sinal gráfico utilizado sob a letra "c" para indicar que sua pronúncia deve ser de /s/ antes de "a", "o" e "u", como em "faço".</li>

<li>( ) O apóstrofo indica supressão de vogal. Verdadeira, mas seu uso no português é extremamente raro, geralmente limita-se a contextos poéticos ou estilísticos. Porém, a afirmação como está formulada é correta.</li>
</ul>

Agora, olhando para as alternativas:

<ul>
<li>A ) V – V – F – V – V – V. (Incorreta - possui múltiplos erros nas primeiras afirmações)</li>
<li>B ) F – F – V – V – V – V. (Correta - todas as afirmações estão devidamente corrigidas conforme a análise acima)</li>
<li>C ) F – F – V – V – V – F. (Incorreta - o apóstrofo indica supressão de vogal, afirmação falsamente declarada como Falsa)</li>
<li>D ) V – V – V – V – V – V. (Incorreta - possui erros nas duas primeiras afirmações)</li>
</ul>

Após análise detalhada das afirmações e suas respectivas validações, a alternativa correta é a que apresenta todas as marcações apropriadamente alinhadas com as normas de acentuação gráfica da língua portuguesa.

A alternativa correta é B.

Perca dói menos por ser mais trivial”. (Ditongo oral aberto em palavras oxítonas)

[...] nada têm de folclóricas. (Monossílabo tônico terminado em “em”)

[...] nada têm de folclóricas. (Palavra proparoxítona, todas elas são acentuadas)

Da série “só acontece comigo” (Paroxítona terminada em ditongo crescente )

Dei uma risada e segui meu rumo também. (Oxítona terminada em “em”)

Análise Geral:

Essa questão aborda regras de acentuação gráfica a partir de exemplificações extraídas do excerto, sendo necessário identificar qual explicação acerca da palavra acentuada está equivocada. Cada alternativa apresenta uma justificativa relacionada a aspectos fonéticos ou morfológicos que influenciam a acentuação. Analisaremos cada uma delas.

<ul style="margin-bottom: 1.5em;">
 <li>Alternativa A: “Perca dói menos por ser mais trivial”. A explicação indica “Ditongo oral aberto em palavras oxítonas”. Embora “dói” possua uma formação vocálica que pode ser analisada como a presença do ditongo, a justificativa, apesar de simplificada, remete à regra que acentua as oxítonas terminadas em ditongos abertos (como “éi”, “ói”, etc.). Ainda que haja discussões quanto à classificação fonética dos ditongos em “dói”, a explicação não é o foco da inconsistência apontada na questão.</li>
 <li>Alternativa B: “[...] nada têm de folclóricas.” A explicação afirma que “têm” é um monossílabo tônico terminado em ‘em’. No entanto, trata-se de uma forma verbal do verbo “ter” na 3ª pessoa do plural do presente do indicativo, e o acento circunflexo é utilizado para diferenciar essa forma da 3ª pessoa do singular “tem”. A justificativa apresentada não tem relação com a regra dos monossílabos tônicos – a acentuação de “têm” decorre de outra convenção, a qual não se aplica aos casos de monossílabos. Portanto, essa explicação está incorreta.</li>
 <li>Alternativa C: “[...] nada têm de folclóricas.” A explicação menciona que a palavra “folclóricas” é proparoxítona e que todas essas palavras são acentuadas. De fato, “folclóricas” possui a sílaba tônica na antepenúltima sílaba. A regra da acentuação prevê que todas as palavras proparoxítonas devem ser acentuadas, logo, essa explicação está correta.</li>
 <li>Alternativa D: “Da série ‘só acontece comigo’”. A justificativa aponta que “série” é uma paroxítona terminada em ditongo crescente. Apesar de haver discussões quanto à natureza do encontro vocálico “ie”, observa-se que “série” é acentuada justamente por sua terminação e pela necessidade de diferenciar a pronúncia. Mesmo que a denominação “ditongo crescente” possa suscitar dúvidas, a justificativa não apresenta um erro grave ou inconsistente no contexto da acentuação.</li>
 <li>Alternativa E: “Dei uma risada e segui meu rumo também.” A explicação afirma que “também” é uma oxítona terminada em “em”, o que está de acordo com a regra que acentua as oxítonas terminadas em “em”. Assim, essa justificativa está correta.</li>
</ul>

Alternativa Correta:

A alternativa B apresenta uma explicação incorreta acerca da acentuação de “têm”. O erro consiste em classificar “têm” como um monossílabo tônico terminado em “em”, quando, na verdade, trata-se de uma forma verbal cuja acentuação se justifica pela necessidade de diferenciá-la da forma “tem”, motivo que não envolve as regras aplicadas aos monossílabos. Dessa forma, a justificativa ofertada é equivocada, o que a torna a alternativa incorreta conforme solicitado na questão.

Gabarito: Letra B

Da série “só acontece comigo”: estava parada num sinal da Avenida Ipiranga quando um carro encostou ao lado do meu. A motorista abriu a janela e pediu para eu abrir a minha. Era uma moça simpática que me perguntou: “Martha, o certo é dizer perda ou perca?” “Hãn?” “É perda de tempo ou perca de tempo? Como se diz?” 
 A pergunta era tão inusitada para a hora e o local, tão surpreendente, vinda de alguém que eu não conhecia, que me deu um branco: por um milésimo de segundo eu não soube o que responder. Perca de tempo, isso existe? Então o sinal abriu, os carros da frente começaram a engatar a primeira, eu olhei para ela e disse: “É perda de tempo”.
 Ela sorriu em agradecimento e foi em frente. Meu carro ainda ficou um tempo parado. Eu parada no tempo. Perca de tempo.
 Dei uma risada e segui meu rumo também.
 Se alguém te diz “não perca tempo”, e todos te dizem isso o tempo todo, como não confundir? Tantos confundem. São coagidos a tal.
 E, cá entre nós, a “perca” parece mais amena do que a perda.
 A perca de um amor é quase tão corriqueira como a perca do capítulo da novela. A perca é feira livre. A perca é festiva. A perca é música popular.
 Já a perda é sinfonia de Beethoven.
 A perca acontece no verão. A perca de uma cadeirinha de praia, a perca de um palito premiado de picolé.
 As perdas acontecem no inverno.
 A perca é simplória, a perca é distraída, a perca é provisória, logo, logo reencontrarão o que está faltando.
 A perda é para sempre.
 As percas reinventam o vocabulário e seu sentido, não são graves, as percas são imperfeições perdoáveis, as percas são inocentes.
 As perdas são catastróficas, nada têm de folclóricas.
 A perca é um erro gramatical, e apenas esse erro ela contém.
 De resto, não faz mal a ninguém.
 A perda é um acerto gramatical, mas só esse acerto ela contém. De resto, é brutal.
 Se eu pudesse voltar no tempo, reconstituiria a cena de outra forma: 
 “Martha, é perda de tempo ou perca de tempo? Como é que se diz?” 
 “O correto é dizer perda, mas é muito solene. Perca dói menos por ser mais trivial”.

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