01 Imagine que existisse uma única política que reduziria o desemprego e o subemprego,
02 abordasse as condições de saúde e aumentasse a produtividade. Além disso, essa mesma política
03 ajudaria o meio ambiente, melhoraria a vida das famílias, encorajaria os homens a fazerem mais
04 tarefas domésticas e tornaria as pessoas mais felizes. Existe: trabalhar menos!
05 A libertação do trabalho excessivo foi uma das primeiras exigências do movimento
06 trabalhista. A partir das cinzas da Guerra Civil, o sindicalismo americano se reuniu para pleitear
07 um dia de oito horas. “Um movimento que correu com velocidade expressa do Atlântico para o
08 Pacífico, da Nova Inglaterra para a Califórnia”, como disse Karl Marx. Em 1890, centenas de
09 milhares de pessoas aglomeraram-se no Hyde Park, em Londres, para um protesto histórico pela
10 mesma demanda.
11 As pessoas trabalham demais, não apenas as 44 horas semanais realizadas em média por
12 trabalhadores em tempo integral, mas também as horas extras. Esse excesso de trabalho causa
13 danos significativos: segundo pesquisa feita no Reino Unido, 12,5 milhões de dias de
14 trabalho foram perdidos, só no ano passado, por causa de estresse, depressão ou ansiedade. De
15 longe, a maior causa – em cerca de 44% dos casos – foi a carga de trabalho. O estresse pode
16 aumentar o risco de todos os tipos de problema de saúde, desde pressão alta até acidentes
17 vasculares cerebrais. A pesquisa ainda sugere que trabalhar muitas horas aumenta o risco de
18 beber excessivamente, fato que gera também um custo econômico: mais de 5 bilhões de libras
19 por ano.
20 Não é de se admirar que especialistas em saúde pública estejam entre as pessoas que
21 sugerem que uma semana de quatro dias de trabalho pode melhorar a saúde de um país.
22 Enquanto alguns trabalham demais, com consequências prejudiciais à saúde e à vida familiar, há
23 milhões, ou talvez bilhões de desempregados e trabalhadores em “subempregos” que estão à
24 procura de mais horas. Uma semana de quatro dias de trabalho forçaria uma redistribuição dessas
25 horas, em benefício de todos. Isso será ainda mais importante quando a automação, em setores
26 como a manufatura e o varejo, _____ ainda mais trabalhos _____ remunerados e mais
27 subemprego. E isso não é uma sugestão que atrapalha a economia. Funcionários alemães e
28 holandeses, por exemplo, _______ menos horas de trabalho do que nós, brasileiros, e suas
29 economias são bem mais fortes do que a nossa.
30 Um outro aspecto: no Brasil, apesar dos avanços conquistados pelo movimento das
31 mulheres, elas ainda fazem, em média, quase três vezes mais trabalho doméstico não
32 remunerado do que os homens. Um dia de folga extra não vai, inevitavelmente, levar os homens
33 a trabalharem em casa, mas uma semana de quatro dias poderia ser um impulso para promover
34 relacionamentos iguais entre homens e mulheres. Uma campanha nacional poderia encorajar
35 homens a usarem seu novo tempo livre para equilibrar o trabalho familiar, o qual ainda
36 permanece definido por atitudes sexistas.
37 Claro que o trabalho pode ser uma atividade satisfatória para alguns. Parece que algumas
38 pessoas nunca concordariam com o fato de que devemos passar mais tempo com nossas famílias,
39 vendo nossos filhos crescerem, exercitando-nos, lendo ou simplesmente relaxando. Muito de
40 nossa vida é entregue à subordinação e às necessidades dos outros, o que nos transforma em
41 máquinas de fazer dinheiro em vez de indivíduos independentes. Nosso modelo de sociedade faz
42 com que o crescimento econômico, muitas vezes, envolva concentrar a riqueza produzida por
43 muitos nas contas bancárias de poucos, sem melhorar a vida da maioria. O crescimento deve
44 envolver não apenas prosperidade compartilhada e melhores serviços públicos, mas um melhor
45 equilíbrio entre trabalho, saúde, família e lazer.

1     Sou levada a discordar daqueles que defendem que o esporte vive de resultados. Uma afirmação como essa
2  esconde em suas entranhas inúmeras assertivas que simplificam um fenômeno que é mais complexo do que muitos
3  podem imaginar.
4     Se entendemos que um resultado é o produto de uma operação, ou seja, é o efeito de uma ação que finaliza
5  um problema ou desafio, deixamos de lado todo o processo que leva a uma vitória ou derrota. Não vou negar que
6  sou muito mais adepta dos processos do que dos resultados.
7     Só quem assiste a tudo de fora acredita que uma vitória, em um único campeonato, representa um fim. Os
8  desafios enfrentados em qualquer competição são muito semelhantes aos propostos pela vida, que se repetem
9  todos os dias ao longo da existência.
10    Depois de ouvir mais de um milhar de narrativas olímpicas, vejo o que foi feito daqueles atletas que jogaram
11 todas as fichas em uma final. Diante da possibilidade inquestionável de uma única medalha de ouro, arrastaram a
12 desolação vivida com a frustração causada pela derrota. Há relatos de depressão, de desilusão e de imobilidade.
13 Esses atletas, treinados para alcançar um único resultado, não foram preparados para o resultado adverso. Muito
14 menos aprenderam com tudo o que os levou até aquele momento.
15    O fim de um campeonato é apenas uma pequena parte de uma totalidade que é a vida na qual se insere a
16 carreira. Uma final pode parecer a decretação de proficiência em uma habilidade praticada por seres humanos
17 reconhecidamente multifuncionais. Por isso me encantam os processos. Eles indicam quem somos, o que somos e as
18 tantas possibilidades que fogem ao modelo binário do ganhar e perder.
19    Uma final de uma competição produz um campeão que pode ser reconhecido pelo título conquistado, como
20 pode ser desqualificado por ele, caso não o mantenha em campeonatos futuros. Aí está a celebração da agonística:
21 a busca incessante do melhor de si e não, necessariamente, no enfrentamento do outro. Outra máxima do esporte
22 diz que mais difícil do que chegar ao lugar mais alto do pódio é se manter nele.
23    Por isso um resultado pode ainda ser tomado como solução, cuja finalidade foi resolver alguma coisa.
24 Ganhar um título para satisfazer um sonho próprio ou de um grupo de pessoas. Nesse caso o foco não está na busca
25 do melhor de si, como propõe um dos valores olímpicos, mas na solução de um problema gerado pela expectativa de
26 outros. Quantos títulos são aguardados por anos, ou décadas, tornando-se assim uma sina de gerações que não
27 guardam qualquer relação com o fato que desencadeou o tabu?
28    Uma final é sem dúvida um marco. Se por um lado é o momento em que se define o melhor de uma
29 competição, ela também pode representar o início de um novo ciclo, tanto para quem perde como para quem
30 ganha. Porque a vida, como o esporte, segue seu rumo com a mesma certeza de que o amanhã será sempre um
31 novo dia, independentemente da chuva que cai ou do sol que brilha no dia de hoje.
32    Ganhar e perder fazem parte da vida e só mudam de significado a depender do ponto de vista. São duas
33 faces de uma mesma moeda.
34    Seja a final da Copa América, da Copa do Mundo ou de uma prova olímpica, o que qualifica uma vitória é a
35 trajetória para a conquista, e não a medalha em si. Mas há quem considere o resultado como o momento exato em
36 que algo se finaliza. E lamento dizer que, mesmo diante da evidência da vitória, o único resultado definitivo e
37 inquestionável é a morte.


1     Acordei há alguns dias com quatro coisas na cabeça: queria desejar feliz aniversário a uma amiga, não podia
2  esquecer de pagar uma conta, precisava consultar a bula de um remédio e assistir a um trecho de um documentário
3  antes de dar uma aula. Menos de uma hora depois, todas as tarefas estavam cumpridas. E eu ainda estava na cama.
4  O milagre se chama internet.
5     Não há dúvida de que a rede revolucionou a nossa forma de fazer quase tudo, da busca por informações à
6  maneira como nos relacionamos uns com os outros. Mas há indícios de que o impacto dela nas nossas vidas seja
7  bem maior do que esse.
8     Pesquisadores de nove universidades, entre elas as respeitadas Oxford e Harvard, decidiram avaliar o que já
9  se sabe com alguma consistência acerca do impacto da internet sobre nossa cognição — o processo de aquisição,
10 armazenamento e interpretação dos estímulos e das informações.
11    A conclusão é, no mínimo, um alerta: a rede parece estar mudando a estrutura anatômica e o
12 funcionamento do nosso cérebro. E isso estaria acontecendo, principalmente, nas regiões associadas à atenção, à
13 memória e às habilidades sociais.
14    As primeiras pistas sobre essas mudanças, segundo a análise recém-publicada, surgiram há uma década. Em
15 2009, uma pesquisa da Universidade de Stanford contrariou as expectativas e mostrou que estudantes que faziam
16 uso excessivo da internet e nela realizavam diversas atividades ao mesmo tempo tinham desempenho pior ao
17 realizar múltiplas tarefas no mundo real do que jovens com poucas horas de navegação. A “prática extra”, portanto,
18 não se converte na habilidade de resolver sucessivos desafios que exijam atenção sustentada. E uma análise mais
19 detalhada desses achados sugere que isso se dá porque os internautas convictos são mais suscetíveis à distração por
20 estímulos ambientais irrelevantes.
21    Cinco anos depois a mesma Stanford, junto com a Universidade de Boston, trouxe uma possível explicação
22 para a desatenção que parece afetar o grupo que não sai da internet: eles fazem muitas coisas, mas não se fixam a
23 nada. O tempo médio para que pulem de uma página para outra é de míseros 19 segundos. E 75% do conteúdo
24 exibido fica menos de um minuto na tela.
25    Nos anos seguintes, comparações entre resultados de exames de ressonância magnética funcional
26 mostraram que pessoas que declaram usar a rede “sempre” ou “na maioria do tempo” têm menos massa cinzenta
27 nas regiões do cérebro associadas ao foco, à persistência e à manutenção de metas. Ao mesmo tempo, essas
28 pessoas, diante de um estímulo capaz de distraí-las, ativavam muito mais essas regiões cerebrais atrofiadas - o que
29 pode ser traduzido como um esforço adicional para tentar manter a atenção.
30    Estamos perdendo o foco e também a memória. É como se a facilidade de acesso às informações tivesse nos
31 libertado da necessidade de armazená-las.
32    Um estudo experimental feito com 50 voluntários constatou, inicialmente, o óbvio: aqueles que usam a
33 internet localizam as informações mais rapidamente do que os que recorrem às enciclopédias impressas. Horas
34 depois da busca, porém, os internautas têm mais dificuldade de se lembrar do que pesquisaram.
35    A explicação, mais uma vez, aparece nos estudos de imagem feitos no cérebro desses voluntários enquanto
36 eles faziam uso dos livros ou dos sites de busca. Os exames mostram que a coleta de informações online, embora
37 mais rápida, não recruta na mesma intensidade as regiões cerebrais responsáveis por armazenar informações a
38 longo prazo.
39    Não, não! Não desligue o computador, o mundo está online! E a tecnologia digital já é parte irreversível da
40 vida. A internet facilita todos os dias nossa busca por informações, agiliza nossas compras, aumenta nossas
41 possibilidades de lazer e até faz cruzar a nossa tela, quando a gente menos espera, a foto daquele amigo querido. O
42 problema, definitivamente, não é a internet. É o uso que fazemos dela. Paracelso já dizia, lá no século 16, que a
43 diferença entre o remédio e o veneno é apenas a dose.
44    Esta coluna, aliás, só existe aqui, na internet.

“jogaram todas as fichas em uma final.” (linhas 10 e 11)

“São duas faces de uma mesma moeda.” (linhas 32 e 33)

“amanhã será sempre um novo dia, independentemente da chuva que cai ou do sol que brilha no dia de hoje.” (linhas 30 e 31)

“Os desafios enfrentados em qualquer competição são muito semelhantes aos propostos pela vida, que se repetem todos os dias ao longo da existência.” (linhas 7 a 9)

 modo; negação; lugar; intensidade; tempo.

 tempo; certeza; lugar; intensidade, modo.

 certeza; tempo; tempo; modo; intensidade.

Questões de Sinônimos e antônimos - Semântica