Análise Geral:

Nesta questão, a proposta é identificar a alternativa em que as duas palavras são acentuadas por empregarem a mesma regra de acentuação. É fundamental analisar as particularidades de cada palavra e o motivo pelo qual foram realçadas graficamente. Vamos conferir cada alternativa.

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 <li>Alternativa A – “Está; só”: A palavra “está” recebe acento agudo na última sílaba para diferenciar a forma verbal (3ª pessoa do singular do presente do indicativo ou 2ª pessoa do singular do imperativo) da forma não acentuada “esta” (pronome demonstrativo). Já “só” é acentuada para diferenciar o advérbio de modo (ou “apenas”) do adjetivo “só” (sem companhia). Assim, embora ambas sejam acentuadas, cada uma obedece a uma finalidade distinta: uma é para marcar a tonicidade verbal e a outra é utilizada no caráter diacrítico.</li>
 
 <li style="margin-bottom: 1.5em;">Alternativa B – “Você; rápido”: “Você” possui acento gráfico para indicar a tonicidade na sílaba “cê”. Contudo, “rápido” é acentuado por se tratar de uma paroxítona cuja vogal tônica (á) está aberta. Apesar de ambas serem paroxítonas, a razão de acentuação difere: uma é fruto da necessidade de diferenciar pronominalmente e outra, para preservar a qualidade da vogal tônica (abertura da vogal).</li>

 <li style="margin-bottom: 1.5em;">Alternativa C – “Público; substituída”: “Público” é acentuado por ser uma palavra oxítona terminada em “o” com a vogal tônica aberta, enquanto “substituída” é acentuada por se tratar de paroxítona cuja vogal tônica exige sinal gráfico para marcar a pronúncia correta. Assim, não obedecem à mesma regra de acentuação.</li>
 
 <li style="margin-bottom: 1.5em;">Alternativa D – “Máquina; desprezível”: Ambas são palavras paroxítonas, mas seguem regras diferentes: “máquina” tem o acento em função da tonicidade na sílaba “má”, e “desprezível” recebe o acento na vogal “i” por ser a forma de marcar a pronúncia correta, sobretudo em palavras de origem tardo-latina ou com terminação que foge à regularidade. Portanto, apesar de serem paroxítonas, as justificativas para o uso do acento são distintas.</li>
 
 <li style="margin-bottom: 1.5em;">Alternativa E – “Empáfia; impaciência”: Estas duas palavras são acentuadas seguindo a mesma regra: ambas são paroxítonas e apresentam sinal gráfico na vogal que sofre alteração na qualidade sonora. Em “empáfia”, o acento agudo no “á” indica a tonicidade na sílaba tônica e a necessidade de sinalizar a abertura da vogal, afastando a pronúncia ambígua que ocorreria sem o acento. De modo semelhante, “impaciência” apresenta o acento agudo no “ê” para indicar a correta pronúncia da sílaba tônica, evidenciando a vogal fechada necessária na formação do hiato e, consequentemente, a correta divisão silábica. Assim, ambas utilizam o acento para indicar a tonicidade e a qualidade da vogal tônica conforme as regras das paroxítonas com vogal aberta na sílaba tônica.</li>
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Diante da análise detalhada, conclui-se que a alternativa E reúne duas palavras acentuadas segundo a mesma regra, ou seja, ambas recebem o acento para indicar a tonicidade e a qualidade das vogais tônicas, evitando ambiguidade na pronúncia.

Gabarito: Letra E

Luís Fernando Veríssimo 

    Para começar, ele nos olha na cara. Não é como a máquina de escrever, que a gente olha de cima, com superioridade. Com ele é olho no olho ou tela no olho. Ele nos desafia. Parece estar dizendo: vamos lá, seu desprezível pré-eletrônico, mostre o que você sabe fazer. A máquina de escrever faz tudo que você manda, mesmo que seja a tapa. Com o computador é diferente. Você faz tudo que ele manda. Ou precisa fazer tudo ao modo dele, senão ele não aceita. Simplesmente ignora você. Mas se apenas ignorasse ainda seria suportável. Ele responde. Repreende. Corrige. Uma tela vazia, muda, nenhuma reação aos nossos comandos digitais, tudo bem. Quer dizer, você se sente como aquele cara que cantou a secretária eletrônica. É um vexame privado. Mas quando você o manda fazer alguma coisa, mas manda errado, ele diz “Errado”. Não diz “Burro”, mas está implícito. É pior, muito pior. Às vezes, quando a gente erra, ele faz “bip”. Assim, para todo mundo ouvir. Comecei a usar o computador na redação do jornal e volta e meia errava. E lá vinha ele: “Bip!” “Olha aqui, pessoal: ele errou.” “O burro errou!” 

    Outra coisa: ele é mais inteligente que você. Sabe muito mais coisa e não tem nenhum pudor em dizer que sabe. Esse negócio de que qualquer máquina só é tão inteligente quanto quem a usa não vale com ele. Está subentendido, nas suas relações com o computador, que você jamais aproveitará metade das coisas que ele tem para oferecer.
Que ele só desenvolverá todo o seu potencial quando outro igual a ele o estiver programando. A máquina de escrever podia ter recursos que você nunca usaria, mas não tinha a mesma empáfia, o mesmo ar de quem só aguentava os humanos por falta de coisa melhor, no momento. E a máquina, mesmo nos seus instantes de maior impaciência conosco, jamais faria “bip” em público.

    Dito isto, é preciso dizer também que quem provou pela primeira vez suas letrinhas dificilmente voltará à máquina de escrever sem a sensação de que está desembarcando de uma Mercedes e voltando à carroça. Está certo, jamais teremos com ele a mesma confortável cumplicidade que tínhamos com a velha máquina. É outro tipo de relacionamento, mais formal e exigente. Mas é fascinante. Agora compreendo o entusiasmo de gente como Millôr Fernandes e Fernando Sabino, que dividem a sua vida profissional em antes dele e depois dele. Sinto falta do papel e da fiel Bic, sempre pronta a inserir entre uma linha e outra a palavra que faltou na hora, e que nele foi substituída por um botão, que, além de mais rápido, jamais nos sujará os dedos, mas acho que estou  sucumbindo. Sei que nunca seremos íntimos, mesmo porque ele não ia querer se rebaixar a ser meu amigo, mas retiro tudo o que pensei sobre ele. Claro que você pode concluir que eu só estou querendo agradá-lo, precavidamente, mas juro que é sincero.

    Quando saí da redação do jornal depois de usar o computador pela primeira vez, cheguei em casa e bati na minha máquina. Sabendo que ela aguentaria sem reclamar, como sempre, a pobrezinha.


Nesta questão, o candidato deve identificar a alternativa em que as palavras são acentuadas pela mesma razão, isto é, que aplicam a mesma regra de acentuação gráfica. A alternativa correta é a letra C, que reúne “camelôs” e “ligará”.

Análise da Alternativa C:

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 <li>camelôs: Trata-se do plural da palavra “camelô”. A forma “camelô” é uma oxítona (a sílaba tônica é a última) e, de acordo com a regra de acentuação das oxítonas, acentuam-se aquelas terminadas em “a(s)”, “e(s)”, “o(s)”, “em” e “ens”. Assim, no plural “camelôs”, o acento agudo é mantido para sinalizar a tonicidade na última sílaba.</li>
 <li>ligará: Este é o verbo “ligar” conjugado no futuro do presente, na 3ª pessoa do singular. A forma “ligará” também é oxítona, pois a sílaba tônica recai na última sílaba – “rá”. Pela mesma regra das oxítonas, palavras terminadas em “a(s)”, “e(s)”, “o(s)” recebem acento, o que justifica o acento agudo em “rá”.</li>
</ul>

Ambas as palavras, “camelôs” e “ligará”, são acentuadas porque são oxítonas e terminam em vogal (ou vogais, no caso do plural “camelôs”), o que exige o acento gráfico para indicar a posição do acento tônico. Estas situações aplicam exatamente a mesma regra, diferentemente das demais alternativas, em que cada palavra é acentuada por razões distintas (seja em razão de hiato, diferenciação de timbre, ou irregularidade histórica).

Para exemplificar, observe que, em “até” e “caí” da alternativa A, o acento em “caí” ocorre em função da necessidade de marcar o hiato, enquanto “até” é acentuado por outra razão (oxítona terminada em “e”). Assim, nessa alternativa, a acentuação não se dá pela mesma regra em ambas as palavras, o que inviabiliza sua correta escolha.

Portanto, a alternativa C reúne termos acentuados seguindo idêntica justificativa: ambos são oxítonos com terminação (em “o(s)” ou “a(s)”) que, conforme a norma, demandam o uso do acento gráfico.

Gabarito: Letra C

Flanando outro dia pela avenida Rio Branco, vi-me sem querer numa galeria formada por camelôs na cidade do Rio de Janeiro. E, como estava ali, caí na tentação de procurar um objeto: uma lanterninha, daquelas micro, de plástico, a pilha. O camelô me mostrou uma pequena peça, que acoplou a seu celular, e produziu um jatinho de luz. Agradeci e respondi que não me servia – “Não uso celular”, expliquei.

O camelô se escandalizou: “Não usa celular???”, perguntou, com vários pontos de interrogação e num volume que o fez ser ouvido por todo mundo em volta. A frase se espalhou pelos demais camelôs e, em segundos, à medida que eu passava pelo corredor humano, podia sentir os dedos apontados para mim e a frase: “Não usa celular!!!”. Para eles, eu devia equivaler a alguém que ainda não tinha aderido ao banho quente ou à luz elétrica. Acho até que um camelô me fotografou, talvez para mostrar a algum amigo incrédulo – como pode haver, em 2017, quem não use celular? 

Consciente de ser um anacronismo ambulante, confesso-me esta pessoa e me atrevo a dizer que o celular nunca me fez falta – e continua não fazendo. Para me comunicar, vivo hoje mais ou menos como em 1990, quando o treco ainda não existia e nem se pensava no assunto.

Ninguém deixa de falar comigo por falta de telefone. Se estou em casa, atendo àquele aparelho que hoje chamam, com desprezo, de “fixo”. Se tiver de sair, faço as ligações de que preciso e vou alegremente para a rua. Se eu estiver fora e alguém me telefonar, paciência – se for importante, ligará de novo.

Por que não uso celular? Porque, com suas 1001 utilidades, tipo Bombril, ele é capaz de me escravizar. O único jeito é manter-me à distância – até o dia em que, com ou sem ele, provavelmente ficarei inviável de vez.


Questões de Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - Português - Acentuação gráfica